Não cresceram flores no túmulo de Jesus Cristo

Padre Judinei Vanzeto

Entramos na espiritualidade da Semana Santa e fomos convidados a seguir a lógica narrativa da Paixão e Morte de Jesus Cristo na cruz. Ele que começou sua missão na Galileia e foi definido pelo quarto Evangelho como “a luz verdadeira, que ao vir ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1,9). Não obstante, por que tanta hostilidade para com a pessoa de Jesus? Infelizmente, a razão maior de tanta hostilidade contrária, está no fato que “a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más” (Jo 3, 19).

A reflexão sobre esta característica de Jesus ajuda a responder muitas perguntas sobre a razão pela qual ele foi tão rejeitado e ultrajado, não pelo povo e pela multidão dos judeus (Lc 22,2.6), mas pelos próprios chefes dos sacerdotes, escribas e os chefes da guarda em colaboração com Judas, que se tornou servo de Satanás (Lc 22,1-6), ou apenas um “idiota útil”, como se revelou no final (Mt 27,3-10).

Portanto, não é correto atribuir o martírio de Jesus nem aos judeus e nem à uma misteriosa vontade de Deus como se poderia concluir a partir da oração de Jesus no Monte das Oliveiras: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita” (Lc 22,42).

Ao contrário, de um grito de desespero, a agonia de Jesus, antes da Paixão, é o momento em que a sua oração atinge a meta mais elevada, a plena comunhão com o Pai. Lucas o diz fazendo referência à aparição do anjo do céu que o confortava (22,43). Neste contexto, a agonia de Jesus, narrada em seguida, não é aquela de um moribundo no seu leito, mas aquela condição interior que um atleta experimenta antes de uma luta decisiva, com um adversário difícil de ser vencido. O adversário a ser vencido é o pecado e a morte, o pecado é a raiz de todos os males da humanidade.

Na liturgia cristã católica, a partir da Quinta-feira Santa, à noite, inicia-se o Tríduo Pascal. Tríduo Pascal, por sua vez, é o conjunto de três dias celebrados composto pela Quinta-feira santa, Sexta-feira Santa e o Sábado Santo. O Tríduo Pascal é celebrado em memória da Paixão, morte e ressurreição de Jesus, conforme narram os evangelistas. No Domingo de Páscoa a Igreja entra em um novo tempo. O Tempo Pascal é um convite a refletir especialmente sobre o tema do testemunho. Os textos bíblicos de hoje apresentam o testemunho daqueles que “viram” o Senhor vivo. Pois o modo como se cumpriu a vida dos apóstolos de Cristo mostra que, quem chegou a este nível de maturidade na fé, vive neste mundo com a convicção de ter já passado da morte para a vida.

O núcleo do cristianismo é a ressurreição de Jesus Cristo focalizado no essencial, na experiência testemunhal da fé. Jesus é uma pessoa concreta, não uma personagem mitológica, nem uma ideia ou doutrina e muito menos uma ideologia política. Prova disso é a transformação realizada no mundo através de suas obras, começando pela mudança de vida do próprio apóstolos. Além disso, pode-se recordar a reação violenta dos poderosos deste mundo que, não suportando as obras de Jesus e o fato que Deus estava como ele, deram-lhe a morte de cruz. O dado central do anúncio, portanto, é a resposta de Deus a essa agressão humana: “o ressuscitou no terceiro dia”, conduzindo à vida o seu servo fiel.

Pedro, representando o conjunto dos discípulos, refere à missão dos cristãos que consiste em testemunhar o que Jesus operou na vida deles e anunciar que Deus o constituiu Juiz e Senhor dos vivos e dos mortos para perdoar a humanidade ferida pelo pecado: “Todo aquele que crê nele recebe o perdão dos pecados” (At 10,43). Eis, pois, a grande motivação para celebrar a Páscoa.

Ademais, no relato joanino, a experiência da ressurreição é narrada por meio de verbos de movimento e de verbos que pertencem ao campo visível. O ponto focal é o sepulcro vazio. Começa com a ida de Maria Madalena ao túmulo. Ela vê a pedra removida, e sem entrar, corre para contar aos discípulos: “retiraram o Senhor do túmulo”. Notar que ela não diz: “sumiram com o cadáver de Jesus”. Movidos pelo testemunho de Maria, Pedro e o discípulo que Jesus amava, correm juntos e constatam o fato, Ele ressuscitou. Desse modo, não cresceram flores no túmulo de Jesus Cristo!

Jornalista, pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR

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