Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla
Começamos o mês de outubro com o olhar voltado para a natureza que nos circunda, esse presente magnifico que nos foi dado e que desde sempre não cuidamos como deveria ser, quando olhamos as paisagens onde quer que vamos notamos sim que a natureza vendo sendo modificada sem parar, há um projeto em curso que não a respeita, que não vê nela nada, além de se extrair o que ela possui de melhor; a voracidade humana tem provocado ao longo do tempo uma corrida louca contra a natureza, muitos falam que isso se chama progresso, mas o progresso tem as suas consequências, acreditemos ou não nisso. Natureza e progresso, nunca se deram bem, os conflitos apareceram já no início da existência humana; a natureza possui um outro ritmo, muito diferente de nós humanos, a natureza tem o seu tempo, nós ao contrário pensamos que temos todo o tempo nas mãos.
Mas o tempo não se submete às leis meramente humanas, ele é inexorável, chega para todos, mais cedo ou mais tarde, podemos até colocar remendos novos em nossas roupas velhas temporais, mas ele surge, não pede licença e muito menos bate em nossa porta; tempo e natureza tem uma parceria invejável, em outras palavras, uma amizade duradoura. O tempo respeita a natureza e vice-versa, o contrário se dá quando o ser humano intervém nessa amizade, o ser humano levado por forças muito mais poderosas do que ele, sente-se atraído pelo desejo de diminuir o tempo e consequentemente mudar a natureza; o ser humano acredita firmemente que ainda é o rei da criação, mas esquece que sem a ajuda de toda a criação, o seu reinado não tem futuro; por isso hoje tantos pedidos e tantas intervenções para que o ser humano olhe diferente para a natureza toda.
Nosso amado Brasil não está imune às intempéries climáticas, todos os dias, uma notícia ou outra nos recorda que o clima não anda nada amistoso, os fatos que vem se sucedendo com frequência assustadora no Estado do Rio Grande do Sul, nos deixa todos apreensivos e temerosos por aquilo que poderá ainda acontecer. O que está ocorrendo naquele estado é reflexo de anos de descaso para com a natureza, anos, décadas de exploração desenfreada, planejamento zero, seja com o campo, o meio ambiente e a cidade. É comum altos investimentos em expansão e modernização de diferentes setores, mas raramente ou nunca ficamos sabendo que foram realizados investimentos para se protegerem o meio ambiente, os rios, a natureza em geral; ficamos sim sabendo depois das tragédias que o dinheiro destinado ao meio ambiente, está bloqueado, esquecido no banco.
O paradoxo terrível do nosso tempo é que levianamente acreditamos que a natureza é obrigada a nos sustentar de todas as maneiras, tenha ela força ou não, acreditamos que todas as tecnologias que nos são lançadas goela abaixo todos os dia poderão nos livrar das catástrofes, poderão elas repelir esse ou aquele furacão, vendaval ou granizo, as tecnologias são sempre bem vindas, não resta dúvida, mas elas por si só não tem o poder de resolverem tudo, elas nos dão a impressão que o futuro será sempre promissor, belo e festivo, o que não é verdade quando a tecnologia é olhada de perto pelas lentes da verdade. Progresso nem sempre foi e é sinônimo de uma vida feliz, onde corre somente leite e mel, em muitos lugares, o progresso trouxe e tem trazido, choro, ranger de dentes, mortes e destruição; o modelo de vida imperante hoje é insustentável para a grande maioria do povo.
Nosso querido Brasil, quer ser sempre aquele protagonista e modelo para o restante do mundo em todas as questões, mas não consegue fazer uma política que olhe para todos os lados, sabemos já de longa data que as políticas para com a natureza em geral esbarram em fortes entraves, grupos financeiros que que se digladiam a todo instante para aumentar o seu raio de ação. Tanto o Brasil, como o restante de todos os países carecem hoje de seriedade e comprometimento, o imediatismo, a rapidez são a tônica, enquanto que a reflexão, o estudo, os casos concretos que aí estão, são considerados entraves para o desenvolvimento ou quando um mero detalhe que será corrigido posteriormente com mais desenvolvimento; enquanto aqueles que se julgam os donos do poder, não descerem de seus pedestais, continuaremos expostos a todo tipo de temores em relação ao nosso futuro.
Bioeticamente, vivemos tempos de virada de rumo, mudança de era, tanto para um lado quanto para o outro, nas mãos dos seres humanos está o que de fato nos interessa, ou a vida ou a morte, o momento é o de união de forças, um diálogo respeitoso, onde todas as vozes, desde os maiores intelectuais, até as pessoas mais simples que tem em si a sabedoria da vida, deveriam sentar na mesma mesa e exporem suas realidades. O que deu certo até agora, merece sim ser levado adiante, já o que não prestou, aquilo que deu errado por uma série de razões, isso sim precisa ser sepultado de vez. O ser humano possui uma linguagem peculiar, a natureza idem, nos tempos atuais essas linguagens se quebraram sobremaneira, um não entendendo o outro e com isso aumentando cada vez mais a distância entre ambos; soluções individualistas não ajudam em nada, assim como só se endeusar as soluções técnicas, essas não terão muito futuro, urge um entrelaçamento de saberes, precisamos nos reencontrar como seres e natureza, todos juntos somos fortes.
Comentários estão fechados.