O início da vacinação e estudos indicando que a contaminação pelo contato com superfícies e objetos é rara não reduziram o apetite de empresas brasileiras no desenvolvimento de produtos inovadores. A lista de itens que ajudam a neutralizar o coronavírus segue crescendo e as novidades surgidas na primeira onda da pandemia, em 2020, continuam com vendas em alta.
Depois dos tecidos antivirais transformados principalmente em máscaras e camisetas, a leva de novos produtos vai de películas e adesivos para aplicação em veículos de transporte público, acrílicos para divisórias, colchões, embalagens, filtros para ar condicionado e até madeira para móveis, todos com laudos de eficácia emitidos por universidades e órgãos competentes.
A base da maioria dos produtos é o íon de prata, que é aplicado na matéria-prima dos itens e consegue oxidar a camada externa do vírus, criando uma barreira de proteção antiviral, antibacteriana e antifúngica que elimina em quase 100% o SARS-CoV-2, além de outros vírus, bactérias e fungos.
Só a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) informa que, desde o início da pandemia, liberou recursos financeiros para 62 projetos de itens que contribuem com o combate à covid-19, seja na proteção ou no tratamento de contaminados. Um deles, previsto para ser lançado no segundo semestre, é uma plataforma que identifica pessoas com febre em meio a multidões, desenvolvida pela Ponfac, de Porto Alegre (RS).
Película no metrô
Ricardo Bastos, diretor da ChromaLíquido – fabricante desde o ano passado de máscaras, camisetas e capas de bancos de veículos com tecidos antivirais -, criou neste ano a BioForcis. Empresas parceiras do grupo produzem com exclusividade películas plásticas, adesivos e saneantes para limpeza a seco, todos com antivirais à base de nanoprata e nanocobre.
Desde abril, os produtos estão em uma composição do metrô de São Paulo para testes de durabilidade. A intenção, informa Bastos, é buscar, por meio da Secretaria de Transportes, patrocínio em troca de marketing para que sejam usados nos mais de mil vagões do metrô paulistano.
“A ideia é expandir o uso dos antivirais também para trens da CPTM e ônibus”, diz Bastos. Os produtos podem ter outro tipo de aplicação, como películas em mesas e saneantes na limpeza de residências e automóveis. A BioForcis também desenvolve o uso do aditivo antiviral em plásticos para copos, talheres, capas de celular e peças automotivas como bancos e volantes.
Bola da vez
O diretor comercial da Conexão Malhas, Marco Antonio Marcondes, afirma que produtos visando à proteção do consumidor “são a bola da vez no mundo” pois, segundo ele, “combater organismos estranhos vai ser a guerra mundial daqui para frente”.
A empresa de Jundiaí (SP) produz tecidos para colchões e lançou a versão antibacteriana feita com fios crus que importa da China, envia para a filial brasileira da alemã Rudolf Group para receber nanocápsulas de íon de lítio e recebe de volta para tecer. O tecido depois é revendido para fabricantes de colchões como a Ortobom.
Caixa ‘imune’
De olho na explosão de compras pela internet durante a pandemia, a Irani Papel e Embalagem lança neste mês embalagens de papelão que inativam o vírus da covid, além de bactérias e fungos. O produto foi desenvolvido com a Nanox Tecnologia.
“O papelão e as embalagens estão cada vez mais presentes na vida das pessoas e em suas casas, seja quando pedimos refeição via delivery, quando compramos algo pela internet ou vamos ao mercado”, afirma Sérgio Ribas, diretor-presidente da Irani, com sede no Rio Grande do Sul. “Nós oferecemos embalagens totalmente seguras.”
A presidente da Filtros MIL, Andréia Dalto Montanha, afirma que o recém-lançado filtro para o ar condicionado de automóveis, que barra o acesso de vírus dentro do carro, afirma que o produto é disruptivo
“Se agora é possível ter um filtro antiviral no carro, porque mesmo depois da pandemia voltaríamos para um filtro que não tenha essa tecnologia?”, questiona Andréia.
Startups
Boa parte das tecnologias de proteção contra a covid-19 está sendo desenvolvida em parceria com startups de tecnologia. A Guararapes, fabricante de chapas de MDF, se uniu à empresa Nanox Tecnologia e conseguiu agregar proteções antiviral, antimicrobiana e antifúngica de íons de prata à madeira usada principalmente na fabricação de móveis.
O produto está sendo vendido para a indústria moveleira e marcenarias desde meados do ano passado e atualmente responde por 65% da produção do MDF revestido da empresa.
O gerente de marketing da Guararapes, Humberto Oliveira, diz que a empresa opera no limite da capacidade na fábrica de Caçador (SC) e vai investir R$ 750 milhões para quase dobrar a produção. “Até setembro de 2022 vamos ampliar nossa capacidade produtiva de 600 mil metros cúbicos ao ano para 1,14 milhão de metros cúbicos”, diz.
A Borkar desenvolveu uma película autoadesiva para ser aplicada em variados itens, como mesas, móveis escolares e elevadores para evitar a contaminação cruzada, quando a pessoa toca uma superfície contaminada e depois tocar a boca, nariz ou olhos. Chamada de ProtectVir, foi lançada em janeiro e, além do mercado interno, está sendo negociada com clientes dos EUA, Equador e Portugal.
Segundo Ramatis Radir, gestor do projeto que recebeu R$ 1,5 milhão em investimento, mesmo que toda a população seja vacinada contra a covid-19 ele acredita que a demanda pelo produto será mantida. “Se não levar adiante pela covid, vamos levar por outras bactérias e fungos em geral”, diz ele.
Maior fabricante de tapetes automotivos do País e fornecedora de várias indústrias automotivas, a empresa de Itapecerica da Serra (SP) também desenvolveu o produto na versão antiviral e negocia a venda com as montadoras.
Lançado no fim de 2020, o acrílico com aditivo antiviral Nano Power, da Bold, tem características próximas ao normal e a mesma capacidade de moldagem. O Hospital de Jaraguá do Sul (SC), cidade sede da empresa, tem sala toda revestida com o acrílico, informa Ralf Sebold, presidente do grupo.
Ele foi desenvolvido em parceria com a startup TNS Nanotecnologia e, segundo o executivo, a Bold discute seu uso com os ministérios da Saúde (para hospitais, por exemplo), da Educação (móveis escolares), indústrias e comércio.
“Houve grande mudança no mundo quando ocorreu o ataque de 11 de Setembro nos EUA, com a criação de protocolos de segurança que permanecem até hoje; com a pandemia, que matou muito mais pessoas, esse tipo de proteção também será mantida”, diz Sebold. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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