Segundo especialistas, o ideal seria atingir a marca mínima de 0,5% de casos sequenciados. A quantidade de testes, além disso, teria de ser ampliada. A integração da estrutura de laboratórios e uma liberação mais veloz das amostras de vírus coletadas são desafios para superar o problema.
Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, diz que o sequenciamento genômico teve avanço considerável no País desde o início da crise sanitária, mas pode melhorar. “De fevereiro do ano passado até o início deste ano, havia cerca de 2 mil sequenciamentos registrados no Gisaid (plataforma que reúne os sequenciamentos). De lá para cá, o número foi para 75 mil. A gente, no ano passado, não conseguia sequenciar nem 0,1% das amostras”, diz Spilki.
O virologista explica que a confirmação dos primeiros casos da Ômicron no Brasil, associada ao maior preparo dos laboratórios desde o início da pandemia, tem potencial de intensificar os procedimentos de testagem e sequenciamento em território brasileiro. Ele reforça que o sequenciamento genômico pode ser combinado à genotipagem, uma estratégia para identificar diferenças na composição genética das pessoas, que pode ser feita a partir de testes de PCR.
Virologista e pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), Anderson Brito diz que um dos principais problemas no País no começo da pandemia era a disparidade entre as regiões na realização de sequenciamentos genéticos. “Havia Estados com cobertura bastante grande, e outros com praticamente nada.” Segundo ele, a presença de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em locais como o Rio, possibilitou sequenciamentos em larga escala desde o início de 2020, enquanto Estados como Maranhão, Piauí e Tocantins tiveram “um grande vazio na vigilância genômica”. “Se uma nova variante surgisse nessas regiões, ela poderia ter circulado por algumas semanas sem que a gente soubesse”, diz Brito.
Ele conta que a melhora na vigilância só aconteceu quando houve aumento na proporção de casos sequenciados e na cobertura territorial, com a cooperação entre Estados com diferentes condições.
MAIS AGILIDADE. O País precisa avançar para monitorar o avanço da variante Ômicron, não só em abrangência dos sequenciamentos, mas em agilidade. Hoje, as amostras sequenciadas no Brasil levam, segundo mediana disponível na plataforma Gisaid, cerca de 59 dias para serem publicadas. No Peru, o índice é de 55 dias, enquanto no Chile é de 27.
Para Brito, a redução no tempo de registro dos sequenciamentos é fundamental para permitir que gestores públicos tenham a real dimensão da situação no País. Para isso, diz ele, seria preciso ter mais equipes trabalhando para liberar os genomas de forma ágil no Brasil. “Se a amostra da Ômicron é coletada hoje, mas o sequenciamento sai daqui a dois meses, acaba ficando tarde.”
Diretor da Fiocruz SP, Rodrigo Stabeli acredita que “a vigilância genômica veio para ficar no País”, mas faz ressalvas. “Dos países da América Latina, o Brasil é o que tem a melhor capacidade de sequenciamento genético para se fazer vigilância genômica. No entanto, ela é ainda muito pouco acionada e existe uma desorganização.” Segundo ele, a rede brasileira “precisa conversar mais”, o que possibilitaria a aceleração dos processos.
“O Brasil deposita (no Gisaid) quase 68% das sequências de Sars-CoV-2 da América Latina, ou seja, tem grande potencial. Mas esse potencial precisa ser incentivado para que a vigilância genômica entre como uma política de saúde pública”, acrescenta Stabeli.
Em nota, o Ministério da Saúde disse ter investido R$ 120 milhões em mais de 3 milhões de kits e reações de extração, além de equipamentos para melhorar a estrutura e a capacidade de laboratórios públicos. Com isso, a capacidade de sequenciamento genético foi ampliada de dez amostras para mil por mês. O ministério não especificou, porém, se novas medidas serão tomadas sobre a Ômicron. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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