No dia 12 de abril, uma segunda-feira, percebeu que não estava bem e resolveu fazer um teste rápido para a covid-19. Positivo. No dia seguinte começou a sentir falta de ar e foi ao Pronto Atendimento Zona Sul em Marília (SP), cidade em que morava com a família. “Estava lotado. Não tinha nem maca. As pessoas estavam recebendo oxigênio nas cadeiras”, lembra a cunhada Simone Simão.
No segundo dia de atendimento improvisado ele não apresentou melhora, mas também não piorou. Conseguiu uma maca e estava recebendo oxigênio ali, em meio a outros pacientes de covid. “A gente via por um vidro. Estava com a mesma calça jeans e camiseta do dia anterior, sem banho, desconfortável. Fiquei pensando nisso o tempo todo”, diz Simone.
Na quinta-feira o quadro de Carlão se agravou. Naquela altura os médicos já afirmavam que o paciente estava grave o suficiente para ser internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI). A vaga não veio e, no início da madrugada de sábado, o marido de dona Susana foi intubado ali mesmo, na maca da UPA, em uma sala com outros pacientes na mesma situação. “Era gente intubada com gente que não estava intubada. Todo mundo com medo. Tinha gente que saía chorando porque sabia que o parente precisava de leito e não tinha”, diz Simone.
No início da tarde de sábado, 12 horas depois da intubação improvisada, Antônio Carlos Serrano teve uma parada respiratória e morreu. “Não perdemos para a covid, perdemos para a falta de gestão na saúde pública. Ele ficou numa maca no pronto atendimento esperando morrer.”
Protesto. Para “extravasar a dor”, a família de Carlão mandou fazer uma faixa de 2 metros contando a história. No sábado seguinte à morte, Susana e Simone estenderam a faixa em um semáforo próximo da Prefeitura de Marília. Queriam alertar os outros moradores sobre a ausência de vagas. “As pessoas continuam morrendo por falta de UTI e isso não é justo”, resume Simone.
Procurada, a Prefeitura de Marília não se manifestou até as 19 horas de ontem.
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