Nossa responsabilidade diante da crise ambiental

O filósofo alemão, Hans Jonas (1903-1993), no ano de 1979, lança um grito de alerta para o mundo inteiro, por outras palavras, esse homem lúcido, corajoso e profético, lança as bases de seu Princípio Responsabilidade, ou seja, será que estamos tendo uma responsabilidade suficiente para tudo o que está nos acontecendo hoje, seja em termos técnicos, políticos, sociais ou ambientais? Estaríamos de verdade à altura do ser humano que sempre quisemos ter sido? É de fato esse ser humano que aí está que queremos que prevaleça como modelo para as gerações futuras, ou ele é apenas uma sombra, um ser minúsculo que nunca atingiu sua maioridade? A teia da vida nunca antes em sua história esteve tão ameaçada, tão a deriva como nos dias atuais, temos vivido e presenciado cenas lamentáveis de destruição, cidades inteiras, antes tidas como intocáveis, agora são fumaça.

Hans Jonas não estava brincando quando expressou a significativa expressão de que  “age de tal forma que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra”, ou ainda “não faça aos outros, aquilo que você não gostaria de que fizessem com você”; essas duas passagens servem em tamanho, grau, gênero e número para todos nós que estamos sendo atacados pela revolta cada vez mais constante do meio ambiente. Não precisamos ficar admirando como outros povos estão se matando nesse momento, aqui no nosso amado e sempre querido Brasil, algumas guerras vem ocorrendo faz tempo e quase sempre ficamos cegos, surdos e mudos diante dela; hoje mesmo de modo lento, algumas vozes antes tão ignoradas nessa temática, começam agora ser ouvidas, sobre o que está acontecendo e para onde estamos rumando.

Hans Jonas em toda a sua vida não foi contra a técnica, afinal, só chegamos onde chegamos, foi porque ela faz parte inerente a nós seres humanos, seu forte componente crítico é dirigido sobre como essa técnica é gerida pelos seres humanos, pois na visão jonasiana, temos a sensação de que a técnica invadiu todos os compartimentos da vida, ela ampliou o poder do ser humano, deu a eles novos tipos de asas para que voassem até regiões antes tidas como impensáveis, muitos chegando mesmo a afirmar que daqui um tempo não existirão mais nenhum tipo de fronteiras a serem conquistadas: sonho, devaneio ou loucura humana? Jonas nessa vastidão de euforia regada pela técnica, nos deixou páginas belíssimas de estudo em profundidade, antecipou as incertezas que estão aí diante do futuro, vislumbrou os muitos labirintos onde o ser humano adentra e não consegue sair.

Hans Jonas, com muita elegância, classe e também uma fina ironia, questiona o ser humano diante dessa sua viagem vertiginosa por demais, essa pretensa construção de um mundo cada vez melhor, regido sempre mais pela técnica, esse desejo sem fim de tudo mudar, transformar, manipular, dominar; nessa empreitada somos levados a crer que em breve, mas um breve que jamais chegou ou chegará, seremos orgulhosos de nossas criações, mas que agora essas mesmas criações nos dão uma dor de cabeça infernal, projetos antes tidos como projeções da mais alta engenharia humana, começam a mostrar a sua verdadeira face, o antes tão sonhado deslumbre pelas novidades que teríamos ali na frente, hoje são fontes de angústia, medo e muitos questionamentos; a mesma técnica que um dia nos prometeram que seria a cura de todos os males, tornou-se hoje uma doença.

Bioeticamente, não podemos viver sem a técnica, não conseguimos levar a vida a bom termo senão temos algum artefato técnico a nossa disposição, mesmo se voltássemos no tempo, iríamos precisar de instrumentos daquela época que gostaríamos que voltasse a existir novamente para sermos felizes, como se isso fosse realmente verdade. Nosso filósofo Hans Jonas, sempre soube e disso nos deixou bem claro, é o fato de que a técnica vislumbra, ela tem a capacidade monstruosa de matar os deuses que habitam em nós e nos quais sempre depositamos confiança e esperança, principalmente nas horas mais sombrias da existência humana. Sim, a técnica em muitos aspectos tomou o lugar de Deus em nossa vida, mas mesmo assim não O eliminou jamais; a técnica cria, evolui, se antecipa, mas hoje sabemos muito bem que ela destrói, mata, suga e também nos deixa todos órfãos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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