Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla*
No próximo dia sete de setembro de dois mil e vinte e três, teremos mais uma grande oportunidade para tentarmos decifrar qual é o Brasil que está diante de nossos olhos atualmente, se ele é tudo isso que vemos, ouvimos ou lemos ou se ele continua sendo uma piada no exterior como já tão bem cantou Renato Russo, na sua inigualável, única, profética e atual música: “Que país é esse?” O Brasil de hoje é aquilo que até agora construímos, não é o melhor país e nem muito menos o pior deles, o Brasil é o que é, por isso não inventemos moda a seu respeito, não o maquiemos como se aqui tudo fosse um mar de rosas, aos patriotas de última hora, aos patriotas de campeonatos de futebol, aos patriotas que mal sabem cantar o hino nacional, fiquemos todos sabendo: O Brasil é de todos os brasileiros e não de uma meia dúzia; nosso país não merece ser tratado como uma coisa.
A data magna da nossa independência deveria calar fundo em nossas mentes e corações, ser uma ocasião ímpar para refletirmos sobre o que temos feito do Brasil até agora, esse país tão maravilhoso, tão incrível, tem sido palco de aventuras de todos os tipos desde o seu “descobrimento” por determinada nação estrangeira, que aqui aportou apenas e exclusivamente com a finalidade de explorar, retirar, sugar e enviar nossos bens para fora. Nossa passividade, sempre deitada em berço esplêndido permitiu tais atrocidades e continua a fazê-lo sem meias palavras, fazendo cada vez mais vista grossa sobre o futuro da nossa sobrevivência, sobre aquilo que realmente importa a todos nós. Uma independência que nunca foi real, pois continuamos nos ajoelhando perante nações tão ou mais iníquas do que a nossa; hoje como ontem, o nosso Brasil ainda é um mistério.
Aqui passado e futuro andam de mãos dadas o tempo inteiro, ou seja, no Brasil há setores muito desenvolvidos que trazem grandes benefícios e ao mesmo tempo muitas inquietudes e em outros ambientes vivemos quase como que na idade da pedra, discursos ufanistas a se perderem de vista falam quase sempre de um futuro que nunca chega, a não ser para os afortunados de plantão, o Brasil real convive com o lixo e com o luxo, tudo produzido por nós e também por aquilo que vem de fora e julgamos sem muitos critérios, ser bom para todos. Ainda bem que a história não está concluída, que estamos a caminho, que podemos mudar muitas coisas, que podemos ser melhores do que ontem e ainda mais amanhã do que hoje; o Brasil de hoje precisa de pessoas realmente preocupadas com ele e não oportunistas que aqui ficam morada como se vivêssemos no tempo da escravidão.
Nosso amado Brasil ainda hoje, vive e convive ainda com muitas dívidas, algumas delas até já se tornaram impagáveis, de tão cruéis que se tornaram ao longo do tempo, gostamos de proclamar a todo instante mais e mais direitos para os brasileiros, mas quando mergulhamos fundo na palavra direitos, vamos encontrando brechas e mazelas que nos arrepiam até a alma, aqui fizemos um contrato unilateral, isto é, eu, me mim, comigo, hipocritamente muitos julgam que eles estando bem, o resto que se dane, o individualismo construiu aqui uma moradia perigosa, virando o rosto para situações calamitosas que constantemente rondam tudo e todos. O Brasil não vive e muito menos sobrevive sozinho, ele está unido a muitas outras realidades, ele está localizado na América Latina, região que foi sempre cobiçada, explorada, maltratada e muitas vezes dizimada por outras nações.
Não precisamos fazer longas e exaustivas reflexões de quanto ainda precisamos caminhar para fazermos o nosso belo Brasil melhor, mais inclusivo e justo, as áreas para se atuar nessa melhoria são incontáveis e todos os setores são convidados a darem a sua contribuição, um não decidido deve ser dado aos jogos de interesses, aos conluios, conchavos, tramas e maquinações que constantemente teimam em fazer morada por aqui. Nosso meio ambiente precisa urgentemente de um novo olhar, novas ações conjuntas, do maior ao menor todos precisam se atentar para essa realidade, pois sem um meio ambiente sadio, bem regulado, nós brasileiros e outros tantos que dependem de nós, muito em breve teremos que lidar com situações muito difíceis de serem revertidas. Nosso Brasil precisa em primeiro lugar valorizar a Vida e não fomentar a divisão, o ódio, a intriga e a exclusão.
Bioeticamente, esse sete de setembro de dois mil e vinte e três, não precisa de desfiles militares pomposos, discursos inflamados de vazia retórica e mais ainda de propósitos sólidos, certos ufanismos que não condizem com a realidade atual, muito menos nosso Brasil não merece que por ele choremos lágrimas de crocodilo. Cada um de nós deveria se perguntar e responder para si mesmo, o que eu estou fazendo para melhorar esse país no qual nasci? Onde meus antepassados e ancestrais vieram antes de mim, acreditaram nessa terra abençoada, criaram seus filhos, netos e bisnetos. O momento que vivemos não é nenhum um pouco seguro, nem é certeza que lá na frente tudo será um mar de rosas, mais do que nunca nós brasileiros, precisamos reativar as nossas consciências, precisamos reinventar novas formas de conviver com o antigo e o novo. Confiar que nosso país é lindo, rico em cultura, rico de pessoas maravilhosas, trabalhadoras, honestas; desconfiar sempre das promessas mirabolantes que prescindem do ser humano e da vida.
*Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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