Dirceu Antonio Ruaro
Amigos, assistindo alguns telejornais e olhando notícias na internet cheguei a uma conclusão que me incomodou muito. É visível que a mídia (TVs, Internet, Rádios, Filmes, entre tantas) entendeu que as pessoas precisam de direção, de incentivos permanentes de como devem fazer isso ou aquilo.
É difícil entender, porém é evidente que desde o advento da mídia moderna, iniciando com os filmes hollywoodianos às novelas da TV atual, têm criado semideuses sempre prontos a resolver os problemas diários das pessoas, como uma receita pronta para toda e qualquer dificuldade que tenham.
A mídia, de forma geral, parece ter uma “catequese” para formar a opinião geral sobre todas as coisas: o que é bom pra você, pra sua família, para seu futuro, para sua profissão.
Pessoas quase sem nenhuma formação intelectual, desde que sejam “bonitas” e tenham algum carisma, usam a mídia para dizer o que você deve ou não fazer, o que você deve ou não pensar e criam uma sociedade que não precisa pensar, basta seguir o seu pregador preferido ou como dizem “seu personal”.
Comparando com as mitologias grega e romana, percebe-se que milhares de semideuses e semideusas da moda, da música, da gastronomia, dos esportes, das ciências e da fé, estão a postos para mais um prato feito, seja do que for, para saciar a fome das pessoas.
É comum a admiração por “pessoas que saíram do nada” e se tornaram famosos, porque aparecem na telinha (seja do computador ou do smartphone) e como semideuses com poderes de dizer o que querem e pensam, porque têm o dom, o carisma e a beleza de quase deuses e, mesmo sem saberem muito, “chegaram lá e têm poder”.
Possuem poder e fascínio sobre milhões de pessoas, inclusive sobre você e sua família.
Falam do mundo fascinante da moda, da TV, do cinema ditam de cima de seu poder, o que você deve ou não fazer, qual a cor da estação, o que combina com o que, quem está ficando com quem, quem terminou um casamento e quem está na fila para sair com o “deus” ou a “deusa” do momento.
Estamos vivendo plenamente a era do prato feito e da resposta pronta. E o que isso tem a ver com a educação de nossos filhos e filhas?
Muito mais do que imaginamos. São esses semideuses que ditam normas e regras para a vida social, para o enfrentamento de nossos dilemas pessoais e a grande maioria dos pais acredita angelicamente que seus filhos os ouvem e os seguem apenas por modismo. Que isso logo passa. Mas o que estamos vendo é que há uma “política” mundial para fortalecer opiniões e costumes novos em torno da família, do estado e da religião.
Um famoso programa de TV o apresentador diz: “Orem comigo”! “Repitam comigo”! e as pessoas acostumadas ao “prato feito” repetem o que seu líder diz e/ou manda fazer.
É absurdamente chocante ver que um povo, como o brasileiro, está “cabresteado” e repete o que a mídia diz. Vota em quem seus líderes políticos e religiosos mandam votar, e repetem exaustivamente mentiras até que pareçam verdades para agradar o seu líder maior.
A família brasileira precisa urgentemente rever seus valores, suas ideias, suas raízes. Precisa deixar de aplaudir os novos alquimistas, com receitas prontas. Precisa entender que essa busca desenfreada por respostas prontas leva ao dissabor do “prato feito de qualquer jeito” sem entender que o que de fato está sendo construída é a supervalorização “eu”, a paixão pelo egocentrismo, que se expressa muito perfeitamente quando diz “eu só quero ser feliz”.
E, porque “só quer ser feliz” não hesita em trocar de lar, de cônjuge, de religião, de clube, de trabalho, desde que o “próprio eu” esteja bem, feliz, satisfeito e realizado como ditam os semideuses da mídia.
Dito isso, pergunto, como fazer com que os pais ensinem seus filhos a pensar e escolher, não se contentando com respostas rápidas, prontas, mágicas e instantâneas?
Como mostrar aos filhos que as coisas são parte de uma construção, que nada nasce pronto e acabado?
Como ensinar aos filhos para escapar da magia das drogas, do dinheiro rápido e fácil, do sexo de fim de semana com quem aceitar fazê-lo?
Como ensinar aos filhos que ninguém pode escolher por eles? Mais, como ensinar que ninguém pode pensar por eles?
Como já dissemos tantas vezes, educar um filho, é ensiná-lo a pensar, a desenvolver conceitos, a prever consequências, e por isso fazer escolhas supõem correr riscos e assumir o que fez.
Respostas prontas são perigosas, semideuses criados pela mídia correm o risco de desmoronar e derreter-se ao primeiro vento e tempestade, por isso ensinar a criar raízes, a respeitar raízes da família, da escola e da religião ainda que demore, é melhor do que respostas prontas que se engole com mais facilidade, mas que são muito mal digeridas ao longo do tempo, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico Unimater
Comentários estão fechados.