“Estaremos numa janela muito melhor do que na anterior, de menor ruído político, um processo de reabertura da economia no País em andamento e a vacinação se acelerando”, diz o diretor executivo do Bradesco BBI, Felipe Thut. “Janela” é o termo que o mercado costuma usar para se referir aos períodos em que o investidor se mostra mais receptivo ao lançamento de novas ações. Na “janela” que terminou em maio, as companhias que abriram capital na Bolsa de Valores conseguiram captar cerca de R$ 18 bilhões. Mas esse número poderia ter sido maior.
Operadores estimam que outros R$ 10 bilhões em ofertas tiveram de ser engavetados diante de fatores como a dificuldade do governo para fechar o Orçamento deste ano e a instabilidade política decorrente desse atraso, além da indefinição sobre o ritmo de vacinação no País. A percepção agora é de um cenário local mais estável, o que pode ajudar a reduzir a volatilidade na Bolsa.
“Já fizemos R$ 65 bilhões em ofertas na Bolsa, incluindo os follow ons (novas captações de empresas que já têm ações na Bolsa), e há chance de chegarmos aos R$ 100 bilhões com essa próxima janela”, acrescenta Thut. Esse foi o volume de ofertas registrado em 2019. Para ele, os lançamentos de ações devem alcançar R$ 160 bilhões neste ano, superando o recorde de R$ 129 bilhões de 2020.
Esta será a terceira “janela” de 2021. Na primeira, as empresas captaram R$ 33 bilhões, um recorde, seguidos pelos R$ 18 bilhões da temporada de maio. Nesta nova fase, os preços das ações a serem lançadas devem começar a ser fechados no final deste mês, e a tendência é que as empresas usem os números positivos registrados nos balanços do primeiro trimestre para convencer os investidores que eles farão um bom negócio ao apostarem no crescimento do mercado local.
PIB
O ânimo dos investidores também deve ser sustentado por novas projeções mostrando um avanço maior do PIB do que o inicialmente esperado para este ano. Entre as instituições que projetam crescimento de até 5%, estão os bancos Itaú e Fibra. Embalada por essas revisões e a manutenção de forte demanda por commodities, a B3 atingiu na sexta-feira a máxima histórica no fechamento do pregão, aos 125.561 pontos.
Essa nova temporada de IPOs terá empresas de grande porte puxando a fila. A operação que deve envolver o maior volume em dinheiro é a da Raízen, com potencial de superar os R$ 10 bilhões. As cimenteiras CSN Cimentos e InterCement podem movimentar outros R$ 7 bilhões, enquanto a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, pode captar R$ 2 bilhões. As últimas três já formalizaram o pedido de análise da oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Outro bloco que se forma na fila de estreantes inclui empresas do segmento de telefonia. A Brisanet, um dos maiores provedores de banda larga fixa no Brasil, com operações principalmente no Nordeste, tem planos de levantar até R$ 2 bilhões e abrir capital em julho. A oferta ainda não chegou à CVM. Do mesmo segmento, a Desktop já apresentou seu pedido para análise da CVM. A companhia contratou como coordenador-líder do IPO o Itaú BBA, além da atuação do UBS BB, BTG Pactual e Bradesco BBI.
Já a rede de academias Smart Fit, que também já protocolou seu pedido de oferta na CVM, pretende movimentar R$ 1,7 bilhão. A operação tem como coordenador-líder o Itaú BBA, além da atuação do Morgan Stanley e do Santander. De acordo com fontes, a gestora de recursos Dynamo, o Canada Pension Plan Investment Board (CPP) e a Novastar, afiliada do GIC Special Investments, podem ancorar quase metade da oferta.
Outra que pretende aproveitar o bom momento é a Multilaser, de bens de consumo voltada a consumidores de baixa renda e com mais de 5 mil produtos, de eletrodomésticos a itens de informática. A empresa retomou a ideia de levar adiante uma oferta, suspensa em 2018. Além dela, a plataforma TradersClub, voltada a investidores de varejo, pediu registro para sua oferta e espera movimentar algo em torno de R$ 700 milhões.
O que se espera é que as operações maiores, que têm liquidez, tenham o grosso da adesão dos investidores. Por outro lado, segundo analistas, existe demanda por diversificação nas carteiras, o que tende a levar os gestores – especialmente os ligados a fundos de longo prazo – a buscar empresas que tenham uma imagem de inovadoras e disruptivas.
“Para nós, nada mudou no momento atual, porque temos uma estratégia de longo prazo e de nos tornarmos parceiros das companhias. Estamos abertos, continuamos olhando e estudando empresas que querem vir a mercado”, diz o sócio do Opportunity, Marcos Pinheiro, cogestor de R$ 18 bilhões que estão alocados em alguns fundos da asset.
Pinheiro faz duas ponderações em relação ao momento atual. Ainda há incerteza quanto ao risco de novos aumentos da inflação no mundo, especialmente nos EUA – o que pode levar o Fed (o Banco Central americano) a elevar os juros -, e também preocupação com os desdobramentos das eleições presidenciais de 2022 no Brasil. “Não é uma antecipação da volatilidade que normalmente antecede as eleições, mas uma preocupação com o processo eleitoral de 2022, que tem cenário bastante incerto.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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