Com assessorias
Um levantamento realizado pelo Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria de Estado da Saúde, mostrou que 60% da população masculina só vai ao médico quando, de modo geral, doenças já estão em estágio avançado, um dado preocupante e que reforça ainda mais a importância de movimentos em prol da saúde masculina, como o Novembro Azul.
Essa campanha traz uma reflexão indispensável a respeito do bem-estar do homem, sobretudo em relação ao câncer de próstata, doença que, ainda hoje, é cercada de tabus, medos e preconceitos.
Segundo Fábio Cantinelli, médico psiquiatra especializado em oncologia, o tabu é uma questão que passa pelo medo e, quando falamos de câncer de próstata, o medo toma duas dimensões: uma relacionada ao câncer e outra associada à masculinidade.
“Apesar de observarmos, aos poucos, uma mudança na mentalidade da população, receber um diagnóstico de câncer é algo ainda tratado como uma sentença de morte, então, na cabeça de muitos, existe a relação de que ‘se eu for ao médico, eu posso descobrir que eu tenho uma doença e, se eu não for, eu não corro esse risco’ ”, afirma o especialista.
Além disso, o machismo que impera em nossa sociedade ao longo dos anos fez construir uma imagem negativa do exame para prevenção desse tipo de câncer, que envolve o famoso exame de toque, que é cercado de preconcepções em relação à masculinidade, à hombridade e à virilidade masculina. Assim, muitos homens deixam de ir ao médico regularmente e acabam descobrindo a doença em estágios mais avançados. Fábio acredita que esse preconceito tem diminuído com o tempo, principalmente pelo papel da imprensa.
“A mídia e as campanhas temáticas, como o Novembro Azul, estão levando cada vez mais informações importantes para diminuir esse estigma, desmistificar questões relacionadas à doença, estimular os homens a fazerem o exame de próstata, e falar sobre a importância de um diagnóstico precoce”, comenta o psiquiatra.
Para quebrar todo o receio e tabu que envolve a próstata, Cantinelli explica que os homens precisam entender que o exame realizado é tranquilo, necessário e que traz muito benefício, porque quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de tratamento. Assim, o exame de PSA (antígeno prostático específico) e, quando necessário, o exame de toque são fundamentais para o combate ao câncer de próstata.
Vale ressaltar que quando a doença é detectada, durante o tratamento, o paciente terá todo o suporte do médico, que vai acompanhar sua evolução também em relação à saúde mental, e assim poderá encaminhá-lo para um suporte especializado com psicológico e/ou psiquiátrico, se preciso. “O estresse inicial, o medo da morte, de ficar acamado, de ‘dar trabalho’ e de ter dor são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro depressivo no paciente. Por isso, é fundamental o médico, os familiares e as pessoas que estão ao redor ficarem atentas para sugerir um acompanhamento com psicoterapia e até mesmo com uso de medicações, se necessário. Procurar ajuda faz toda a diferença nesse momento delicado!”, conclui.
Importância da quebra de tabu
De acordo com Instituto Brasileiro de Câncer (INCA), no Brasil, cerca de 66 mil homens são diagnosticados com câncer de próstata a cada ano. Apesar do alto número e das frequentes campanhas em relação à importância da prevenção contra a doença, que é silenciosa e pode levar à morte, o preconceito em relação ao exame de toque (uma das formas de diagnóstico) ainda é um tabu que precisa ser quebrado.
“O preconceito associado ao exame de toque faz com que os homens não busquem atendimento e, consequentemente, a prevenção necessária. É um preconceito proveniente de uma cultura em que os homens se recusam a fazer o exame, em uma tentativa irracional de preservar sua masculinidade”, comenta a psicóloga e especialista em sexualidade humana Gabriele Costa.
A campanha “Novembro Azul” teve início em 2003, na Austrália, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce da doença que atinge a população masculina. No Brasil, as ações começaram em 2008 e foram trazidas pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Urologia. A primeira campanha teve como lema “Um Toque, Um Drible”, de modo a criar consciência sobre o câncer de próstata, derrubar o preconceito e incentivar os homens a passar por uma consulta e fazer o exame, se necessário. “Esse é um tema rodeado de medos e impactos psicológicos, que podem ser explicados pelo fato dos homens, em geral, darem mais importância à sua atividade sexual do que a outras atividades realizadas na sociedade”, afirma Gabriele.
A especialista alerta, ainda, que é comum que, quando ocorre o diagnóstico da doença, a saúde psicológica do paciente também seja afetada, uma vez que esse diagnóstico relaciona-se com a disseminação da doença, o que poderia levar à morte, como também, pode implicar na necessidade de mudança no comportamento sexual. “O medo da disfunção sexual, seja essa transitória ou permanente, ameaça a autoestima dos homens com o diagnóstico, fragilizando-os e podendo levá-los à depressão, ansiedade, tristeza e à irritabilidade”, afirma.
A psicóloga destaca também que todas as doenças quando descobertas no curso inicial facilitam o tratamento e as chances de cura são maiores, além disso, são evitados muitos danos e sofrimento. “Os homens não vão ao médico com a mesma frequência que as mulheres, e costumam justificar-se dizendo que são muito ocupados ou que realmente têm medo de descobrir uma possível doença. Porém, a única forma de evitar complicações é através do diagnóstico precoce. Por um preconceito, eles deixam de descobrir problemas que poderiam ser facilmente tratados”, finaliza.
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