Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, dando continuidade a nossa reflexão sobre o “novo ensino médio” brasileiro, quero concluir o tema com algumas questões que precisam de análise e reflexão individual tanto quanto coletiva, por parte de quem detém o poder, como também e, especialmente, pelos jovens que iniciam a mudança nesse ano letivo, ingressando na “aventura do novo ensino médio”.
E, ainda voltando ao filme “Ponto de Mutação”, concordo com o pensamento da cientista Sônia quando considera que: “Precisamos de uma nova visão do mundo. O mundo muda mais rápido que a percepção das pessoas”. E, continua a cientista: “… estou tentando fazê-los aceitar uma visão…enquanto continuarem a ver as coisas nessa velha ótica patriarcal, cartesiana, newtoniana, vocês deixarão de ver o mundo como ele realmente é. Vocês, eu, todos nós precisamos de uma nova visão do mundo, e de uma ciência mais abrangente para nos apoiar”.
Quem sabe, a educação consiga essa percepção. A percepção de que é preciso mudar a forma de pensar a vida, de pensar a solução dos problemas políticos, sociais, econômicos, ambientais e humanos que estamos vivendo.
Há uma grande corrente cientifica que propõe a “Teoria dos Sistemas, dos Sistemas Vivos”. Todos os seres vivos, bem como os sistemas sociais e os ecossistemas. Essa teoria ajudaria muito na compreensão das ciências que lidam com a vida. Isto é ciência, e muitos cientistas, incluindo alguns prêmios Nobel, têm trabalhado nestas ideias. Isto é ciência, mas de um tipo novo. Em vez de picotar as coisas, ela olha para os sistemas vivos como um todo.
Ao explicar a “Teoria dos Sistemas” a cientista Sônia utiliza a seguinte metáfora: “Um cartesiano olharia para uma árvore e a dissecaria, mas aí ele jamais entenderia a natureza da árvore. Um pensador de sistemas veria as trocas sazonais entre a árvore e a terra, entre a terra e o céu. Ele veria o ciclo anual que é como uma gigantesca respiração que a Terra realiza com suas florestas, dando-nos o oxigênio. O sopro da vida, ligando a Terra ao céu e nós ao Universo. Um pensador de sistemas veria a vida da árvore somente em relação à vida de toda floresta Ele veria a árvore como o habitat de pássaros, o lar de insetos. Já se vocês, políticos, tentarem entender a árvore como algo isolado, ficariam intrigado com os milhões de frutos que produz na vida, pois só uma ou duas árvores resultarão deles. Mas se vocês virem a árvore como um membro de um sistema vivo maior, tal abundância de frutos fará sentido, pois centenas de animais e aves sobreviverão graças a eles”.
Então, na minha visão de educador é isso que precisamos na mudança da educação, especialmente no ensino médio. Uma mudança, não apenas de metodologias, de práticas pedagógicas, de número de horas do curso. Mas, uma mudança de percepção.
E, aí entra, como não poderia deixar de ser, a mudança de comportamento educativo dos jovens. Ou seja, o papel do estudante precisa mudar. Deixar de ser passivo, de receber aula pronta, teorias com pouca profundidade e fundamentação cientifica e aprender a pesquisar, a buscar, a participar.
Aprender a ser estudante, aprender a buscar, a responsabilizar-se pela construção de sua caminhada acadêmica, tendo o professor como grande orientador, mas sem deixar de construir seu próprio caminho.
Ou seja, a ideia do “Novo Ensino Médio” é fazer com que o aluno ocupe o papel principal na jornada da aprendizagem, deixando de ser apenas o receptor de informações e passe a construir o seu conhecimento em parceria com os educadores.
Para isso, para a educação ser centrada no aluno, é preciso que o discente esperte os seus interesses, aumente seu engajamento nas aulas, ou seja, participe ativamente do processo educativo, aprofundando os seus estudos nas áreas de conhecimentos com as quais mais se identificam e tenham a pretensão de seguir uma carreira.
O aluno do ensino médio precisa construir para si mesmo o sentido da escola para ele. Em outras palavras, está mais do que na hora da escola fazer sentido para o aluno. O aluno precisa entender que não se trata de um local no qual ela apenas passa 4 ou 5 horas por dia porque a lei não permite que ele fique sem estudar até os 17anos.
Minha esperança é que cada aluno, cada jovem brasileiro possa descobrir sua vocação, suas aptidões, seus sonhos e possa escolher, de fato, o que ele deseja “ser” para construir-se como ser humano na trajetória de vida a que se propõe.
Concluindo o tema: há grandes expectativas por parte de todos, há grandes esperanças, mas é preciso que haja o comprometimento de todos: politica educacional (governo); participação das famílias; compromisso dos educadores; compromisso das escolas e fundamentalmente, compromisso dos estudantes, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER