O Brasil e o mundo do futebol amanheceram em luto com a notícia da morte de Mário Jorge Lobo Zagallo. O “Velho Lobo”, como era carinhosamente conhecido, faleceu às 23:41 desta sexta-feira (5), aos 92 anos. Internado no Hospital Barra D’Or desde o final do ano passado, Zagallo enfrentava uma falência múltipla de órgãos devido a comorbidades previamente existentes.
Conhecido pelo emblemático número 13, Zagallo deixa um legado ímpar na história do futebol. Seu nome está eternamente associado às conquistas da seleção brasileira, tendo participado de quatro dos cinco títulos mundiais do Brasil: dois como jogador, um como técnico e outro como coordenador técnico.
Além do inquestionável talento e dedicação ao esporte, Zagallo era reconhecido por sua superstição e amor pelo número 13, uma homenagem à esposa Alcina, devota de Santo Antônio, e a própria trajetória vitoriosa. “Brasil campeão tem 13 letras” não é apenas uma frase, mas um testemunho da fé e paixão do Velho Lobo pelo futebol e pela seleção amarelinha.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decretou luto oficial de sete dias e prepara uma homenagem à altura de sua lenda. Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade, expressou profundo pesar pela perda do “eterno campeão”.
O velório está marcado para ocorrer na sede da CBF, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, a partir das 9h30 deste domingo, com entrada liberada ao público. Já o sepultamento será às 16h no Cemitério São João Batista, dando o último adeus a uma figura que marcou não só a história do futebol brasileiro, mas também a cultura e o coração de uma nação.
Mário Jorge Lobo Zagallo será sempre lembrado não só por suas conquistas, mas pelo seu carisma, liderança e amor profundo pelo futebol. Sua história permanecerá viva nas memórias de todos os que tiveram o prazer de vê-lo jogar, treinar e celebrar cada vitória da seleção brasileira. Descanse em paz, Velho Lobo.
Trajetória de Zagallo
Zagallo era alagoano de Atalaia, nascido em 8 de agosto de 1931. Antes de completar um ano, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. O talento com a bola nos pés chamou atenção na peneira em que foi aprovado para o time infantil do América-RJ, na Tijuca, bairro da zona norte carioca onde morava. Pelo Mecão, foi campeão carioca de Amadores em 1949, como juvenil, antes de se transferir para o Flamengo.
Antes de brilhar no Rubro-Negro, onde foi tricampeão carioca (1953 a 1955), ele foi recrutado pelo Exército. Em 1950, trabalhando como segurança no Maracanã, viu de perto o uruguaio Alcides Ghiggia silenciar o Maior do Mundo e adiar o sonho do então inédito título mundial brasileiro. História que o então soldado Zagallo ajudaria a mudar anos depois.
A conquista da Taça Oswaldo Cruz (disputada pelas seleções de Brasil e Paraguai) em 1958 foi o começo da trajetória de Zagallo na seleção. Ele vestiu a amarelinha em 36 ocasiões e marcou seis gols. Um na final da Copa do Mundo daquele ano, na vitória por 5 a 2 sobre a anfitriã Suécia, estampando a primeira estrela no peito brasileiro. E o ponta-esquerda deixou clara a importância tática – defensiva e ofensiva – que lhe rendeu o apelido “formiguinha”.
Foi também em 1958 que a passagem de Zagallo pelo Flamengo chegou ao fim, com a mudança para o Botafogo. Foram sete anos na Estrela Solitária, ao lado de Nilton Santos, Didi e Garrincha, com dois títulos cariocas (1961 e 1962) e dois Torneios Rio-São Paulo (1962 e 1964). Foi também vestindo a camisa alvinegra que o ponta-esquerda ajudou o Brasil a erguer a taça Jules Rimet pela segunda vez, em 1962, no Chile.
Treinador
Zagallo deixou os gramados aos 34 anos, iniciando a carreira como treinador. Em 1966, assumiu justamente o Botafogo, sendo bicampeão carioca (1967 e 1968) e conduzindo o Glorioso ao primeiro título brasileiro, em 1968.
Às vésperas da Copa do Mundo de 1970, o Velho Lobo foi chamado para comandar o Brasil no México. Ele teria menos de cem dias para trabalhar. Ainda assim, decidiu mexer no time que era de João Saldanha. Uma das alterações mais marcantes foi a escolha dos cinco jogadores mais avançados. Com Gérson, Rivellino, Tostão, Pelé e Jairzinho, todos camisas 10 nos respectivos clubes, a seleção conquistou o tri.
Após dirigir o Brasil na Copa de 1974, Zagallo passou por diferentes clubes e países (Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), até retornar à seleção em 1991, como coordenador técnico. Ao lado de Carlos Alberto Parreira, fez parte da comissão do tetracampeonato mundial, sendo escolhido para suceder o treinador campeão.
A nova passagem à frente da amarelinha teve momentos amargos, como a eliminação na semifinal da Olimpíada de Atlanta (Estados Unidos) para a Nigéria, mas também de conquistas, como a da Copa das Confederações e da Copa América, ambos em 1997. Esta última foi especial, por ser a primeira do Brasil longe de casa. Após derrotar a anfitriã Bolívia na final, por 3 a 1, na altitude de La Paz, o Velho Lobo disparou contra os críticos a famosa frase: “Vocês vão ter que me engolir!”.
O vice-campeonato mundial na França, em 1998, deu fim à segunda passagem de Zagallo no comando da seleção brasileira.
Ele dirigiu Portuguesa e Flamengo (onde venceu o Carioca e a Copa dos Campeões de 2001) antes de, depois do penta, em 2002, reeditar a parceria com Parreira, novamente como coordenador técnico. A dupla levantou as taças das Copas América de 2004 e das Confederações de 2005. O adeus nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, foi também o último trabalho do Velho Lobo, aos 75 anos.
Foram 135 partidas à frente do Brasil, com 79,7% de aproveitamento, sendo o treinador com mais jogos no comando da seleção. Como coordenador, ele participou de outros 72 jogos (65,7% de aproveitamento).
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