Uma ação simbólica, um termo clássico nas profecias da Sagrada Escritura, para dar significado na transmissão da mensagem divina, sobretudo quando o profeta fala de fidelidade, de aliança, pacto, justiça, ídolos e outras realidades bíblicas. O profeta é um homem de Deus, um homem da palavra. Confidente e mensageiro de Deus, capacitado e inspirado pelo espírito para a sua missão de proclamar o oráculo do Senhor. Ele é escolhido, nomeado e enviado por Deus. Transmite apenas a palavra de Deus, a palavra da verdade. Porta-voz do anúncio teológico. Sentinela da palavra divina que lança o brado de alarme, fiscal que denuncia, defensor dos inocentes.
No cap. 13, 1-11 do Profeta Jeremias encontramos um título inusitado e incomum. Trata-se do cinturão de linho. Vamos ao texto e sua mensagem. O Senhor fala a Jeremias: “Vai, compra um cinturão de linho e coloca-o na cintura, sem que a água toque nele”. Obedecendo a ordem, comprei o cinturão. Outra recomendação do Senhor me foi dirigida: “Pega o cinturão comprado, vai ao rio Eufrates e esconde-o aí, nas fendas de um rochedo”. Fiz o que Senhor me pediu. Nos tempos futuros o Senhor me disse: “Vai ao Eufrates e recolhe o cinturão que te mandei esconder”. Fui buscá-lo. Todavia, estava gasto e não servia para mais nada.
Catequizou-me o Senhor: “Deste modo desgastarei o orgulho de Judá e o orgulho desmedido de Jerusalém. Desse povo que se nega a me obedecer, que age obstinadamente, que segue deuses estrangeiros e lhes presta adoração. Serão como esse cinturão imprestável. Como o cinturão adere à cintura do homem, assim cingi a mim judaita e israelitas, para que fossem meu povo, minha fama, minha glória e minha honra”.
O cinturão aderi à cintura do homem, sua aderência é fundamental, ou até podemos dizer que o cinturão está “colado” à cintura humana prevenindo-o de qualquer acidente ou vexame. Há uma relação estreita e funcional entre o objeto e objetivo quando alguém se serve de uma cintura em seu vestuário. O cinturão de linho puro significa linho nobre, usual e cultural. O que o profeta Jeremias está questionando nesta ação simbólica é a fidelidade do povo de Deus, do povo da aliança. A infidelidade leva ao apodrecimento das relações, da confiança e credibilidade. Da infidelidade nascem as corrupções, as ideologias, idolatrias aos deuses estrangeiros, aos deuses desconhecidos. O profeta combate tais procedimentos. É sua missão principal. Com esse gesto do profeta, o Senhor quis evidenciar o seu desejo de unir-se ao seu povo e de que este corresponda ao seu plano de salvação.
O cinto, apodrecido com a umidade do rio, é sinal de rejeição do povo à vontade de Deus. Ele se aborrece de ver seus filhos o abandonarem e correrem atrás de deuses falsos e vazios. O Senhor deseja com anseio de entranhas por congregar o povo ao seu redor e fazer dele o seu “povo preferido”, escolhido com nobreza, honra e glória para o seu nome em eterno. Deste povo sairá o Salvador, Jesus Cristo.
O senso de pertencimento para superar a indiferença
Na era das “liquidezes”, das relações “soltas”, descompromissadas e sem vínculos poderíamos nos perguntar: a quem pertenço? Tenho consciência de pertencimento a uma família, consciência de pertencimento a sociedade onde vivo? Consciência de pertencimento a Deus, a Jesus Cristo, à minha comunidade de fé? Que também tenho responsabilidades com a fidelidade, com a justiça, com a ética, com a moral, com a política, com a educação, com a cultura, com a saúde? Tenho consciência de pertencimento ao meio ambiente, “nossa casa comum”? Sinto-me com parcelas de responsabilidades pelas crises climáticas em curso, como do Rio Grande do Sul e outras? A medida de minha consciência de pertença, de comunhão com todos e tudo será também a medida dos resultados de minhas ações concretas e objetivas para o benefício da coletividade. Superemos hoje mesmo a “cultura da indiferença”.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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