Foi assim em Folies, Sweeney Todd, Sunday in the Park with George, Passion e naquele que talvez seja seu maior trabalho, Company, certamente um dos cinco maiores musicais de todos os tempos. Mas Sondheim não facilitava: a parcela do público que buscava montagens mirabolantes e com efeitos, que assistisse a O Fantasma da Ópera ou Cats – o que ele oferecia era uma música elaborada, com letras e melodias sofisticadas, e que tratavam de algo complexo mas simples, ao mesmo tempo: o relacionamento humano.
Em Company (1970), por exemplo, que foi montado no Brasil, entre outros, pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho (versão conferida in loco e aprovada pelo próprio Sondheim), o personagem principal, Robert, é um rapaz solteiro que vive no centro de atenções de três casais de amigos. Amado pelas mulheres e idolatrado pelos homens, ele insiste em manter sua solteirice, o que provoca uma suspeita de ser homossexual.
DRAMATURGIA E CANÇÕES
Uma dica sobre quem era o discretíssimo Stephen Sondheim, que despertou paixões em seres de todos os sexos. A começar por uma amiga de infância, Mary Rodgers, filha do compositor Richard Rodgers, que formou uma clássica parceria com Oscar Hammerstein II – juntos, eles definiriam o que seria um musical da Broadway a partir dos anos 1940, ou seja, a perfeita união entre dramaturgia e canções.
Hammerstein foi mentor de Sondheim que, com ele, tomou lições preciosas como o de apostar em sentimentos verdadeiros – especialmente os próprios. E, se Rodgers e Hammerstein abriram as fronteiras do moderno musical, Sondheim pavimentou essa estrada, colocando ainda a sinalização correta. E, enquanto muitos (notadamente Andrew Lloyd Webber) buscaram o caminho do sucesso popular, Sondheim continuou nas importantes vias laterais, inspirando-se em diversos ramos da cultura (do ragtime ao teatro kabuki) para contar histórias de difícil digestão, como a do barbeiro que corta o pescoço de seus clientes para vender sua carne em pastéis (Sweeney Todd) ou de sujeitos que tentaram matar presidentes dos EUA (Assassins).
SURPREENDENTE
Mas, se fosse necessário apenas um espetáculo para solidificar a importância do trabalho de Sondheim no cancioneiro mundial, bastaria West Side Story ou, como é chamado no Brasil, Amor, Sublime Amor.
Versão moderna de Romeu e Julieta, metáfora sobre a ameaça que os imigrantes significam a um país rico, a eterna briga pela conquista do território – West Side Story ainda provoca leituras diversas, mas em um detalhe todos são unânimes: trata-se do musical que revolucionou a Broadway. Quando foi montado, em 1957, surpreendeu não só pelos temas, mas por apresentar uma ação que passava para a dança de forma natural, como se a coreografia fosse extensão dos movimentos dos atores.
À época com apenas 28 anos, Sondheim trabalhou suas letras com craques como Jerome Robbins (coreógrafo-diretor) e Leonard Bernstein (autor das melodias). A parceria, que foi muito atribulada e várias vezes interrompida (o intempestivo Bernstein tratava Sondheim como aprendiz), resultou em canções hoje clássicas como Maria e Tonight. Em West Side Story, os números musicais ajudam a narrar a trama e definem o caráter dos personagens. Daí a comprovada importância dos papéis considerados secundários.
O musical ganhou uma versão para o cinema em 1961 e conquistou 10 Oscars, inclusive de melhor filme do ano. Uma nova versão estreia mundialmente em dezembro, com direção de Steven Spielberg. Na semana passada, em uma entrevista para a TV, Sondheim elogiou o longa, especialmente o trabalho do dramaturgo e roteirista Tony Kushner para encaixar as canções em novas situações.
Entre os projetos inacabados do compositor, destaque para Buñuel, inspirado em dois filmes do diretor espanhol, O Anjo Exterminador e O Discreto Charme da Burguesia. O espetáculo chegou a ter leituras e oficinas, mas foi abandonado, sem uma razão específica.
Stephen Sondheim conquistou oito prêmios Tony e oito Grammy, além de um Pulitzer e um Oscar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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