A partir da revitalização da estátua de Sittilo Voltolini, Diário inicia série sobre esculturas de Pato Branco
Uma das salas do segundo andar do Bloco B do então Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), hoje UTFPR, tinha um ar meio folclórico. Era por lá que ficava o professor Sittilo Voltolini, geralmente rodeado de livros.
Folclórico pois parecia que ele estava lá à disposição de quem quer que fosse, como uma referência, pronto para contar histórias, seja das memórias de seus muitos anos dedicados a educação, seja de suas pesquisas sobre Pato Branco.
Em janeiro de 2008, Voltolini morreu, aos 72 anos de idade. Sua memória está imortalizada de diferentes formas. Na série Retorno, uma coleção de quatro livros sobre a história local que investigam as origens do município, passando pela Revolta dos Posseiros, pelo ciclo econômico da madeira e a biografia de Plácido Machado, o primeiro prefeito; na sala que leva o seu nome na Biblioteca Municipal Helena Braun, que sobreviveu ao incêndio do Teatro Municipal Naura Rigon, em 2018; e em uma escultura, na praça central da cidade.
Sua imagem está lá desde setembro de 2021, sentada em um banco fazendo uma das coisas que mais gostava: ler.
Há poucos meses, a escultura do professor Sittilo Voltolini precisou ser restaurada após uma pichação. A polícia identificou os autores. O processo de restauração, que contou com o trabalho do autor, Kalu Chueiri, foi o pontapé inicial em um projeto do Departamento de Cultura que pretende dar visibilidade as várias esculturas espalhadas por Pato Branco.
O Diário do Sudoeste pega carona neste projeto para contar as histórias por trás dessas obras de arte, começando pela estátua do professor, um dos trabalhos mais recentes de uma lista que inclui o cavalo de metal do Centro Regional de Eventos, o monumento aos trabalhadores rurais pioneiros, na região do parque da pedreira, a série de esculturas em homenagem ao idioma Esperanto, na entrada da comunidade de Nova Espero/São Roque do Chopim, e por aí vai.
Jean Venâncio, diretor do departamento, explica que a intenção é incluir as obras no programa que cria um circuito turístico para Pato Branco. Em conjunto com o também profissional do departamento, Guilherme Andreatta, e outros colaboradores, está sendo feito um levantamento das esculturas da cidade.
A partir disso serão feitas várias iniciativas, envolvendo universidades, escolas e outras instituições, para que estas obras entrem no radar da comunidade, sejam visitadas, tenham suas histórias conhecidas, e sejam preservadas. As danificadas, seja pela ação do tempo, seja por atos de vandalismo, deverão ser restauradas ou revitalizadas.
A obra
“Para mim, ele foi o maior intelectual de Pato Branco”. É assim que Kalu Chueiri, o escultor da “obra Sittilo Voltolini”, descreve seu modelo.
Ele decidiu representar o professor lendo por julgar que essa era “sua razão de existir”. A estátua foi modelada em argila, depois gesso, e finalizada em resina e pó de mármore. “Pra mim é uma alegria muito grande, pois eu era amigo dele, trabalhamos juntos. Então o sentimento de fazer a homenagem passa pela admiração que eu tinha por ele também”, disse o artista, na ocasião do lançamento da obra.
A obra foi viabilizada pela Academia de Letras e Artes de Pato Branco (Alap), através de um chamamento público. “Ele vai ser lembrado mais ainda agora pelos seus feitos, pelos seus escritos e pelo amor que ele dedicava a Pato Branco”, disse Jurema Edy Pereira, presidente da Alap na data da inauguração.
Voltolini foi membro fundador da Alap, e também da Academia Palmense de Letras. Listo, a seguir, o seu currículo, de acordo com o que consta na orelha do seu livro, Retorno 2 – Pato Branco na Revolta dos Posseiros de 1957.
Além da série Retorno, o professor também escreveu o livro “História e Estorias do Colégio Nossa Senhora das Graças”, e um folhetim sobre o “polêmico” uso da crase com o título: Crase – Qual é a dúvida?
Ele era natural de Timbó, Santa Catarina, mas no ano 2000 recebeu da Câmara Municipal de Vereadores, o título de Cidadão Honorário de Pato Branco. Por aqui, Voltolini chegou em 1960, onde foi professor de língua portuguesa na rede estadual de ensino, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e também foi chefe do departamento municipal de educação em duas ocasiões, nos mandatos dos prefeitos Astério Rigon e Clóvis Santo Padoan.
Lecionou até os 70 anos de idade.
O banco onde está a escultura de Sittilo Voltolini tem dois lugares, caso alguém queira fazer companhia a figura do professor. De certo modo, ele continua disponível, lembrando que existem muitas histórias a serem contadas.