Pastora, especialista em relações trabalhistas, professor aponta motivos para revigorar a representatividade sindical e desafios de reposicionamento das entidades
Autor de mais de 20 livros e 100 artigos técnicos e com robusta experiência profissional no campo das relações trabalhistas e recursos humanos, o professor José Pastore defende com entusiasmo a atividade sindical. Para o especialista, a crescente complexidade das negociações coletivas e as novas demandas do mundo moderno nessa área são motivos que justificam a urgência de fortalecer os sindicatos empresariais.
Nesse contexto, instituições como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) têm pela frente, na opinião do professor, o desafio de despertar os sindicatos sobre as necessidades deste novo tempo e ajudá-los a se preparar bem para as negociações.
“Boas negociações dependem de bons negociadores”, frisa Pastore, que falará sobre a necessidade de reposicionamento das entidades sindicais nesta quarta-feira (24), na primeira reunião do Programa Excelência Sindical, iniciativa que está sendo implementada pela CNI em parceria com as federações de indústria de todo o país.
No evento será lançado também o Prêmio Excelência Sindical, que busca reconhecer as federações e sindicatos empresariais que se destacaram na promoção e fortalecimento do sistema sindical da indústria.
Na entrevista a seguir, concedida à Agência de Notícias da Indústria, o professor Pastore antecipa algumas ideias que irá abordar no evento promovido pela CNI.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – A CNI começa a implementar o Programa Excelência Sindical, que tem entre seus objetivos promover o fortalecimento sindical. Como vê a iniciativa e como ela pode contribuir para o desenvolvimento do setor industrial?
JOSÉ PASTORE – Acho a iniciativa da CNI muito oportuna. O fortalecimento dos sindicatos empresariais é urgente por dois motivos. Primeiro, as negociações coletivas estão ficando cada vez mais complexas, o que exige capacitação dos negociadores e dos próprios sindicatos empresariais. Negociar com inflação baixa é sempre mais difícil. O que representa pequenos aumentos para os empregados pode ser muito grande e pesado para os empregadores.
Além disso, no mundo moderno os empregados valorizam muito os benefícios nos campos da saúde, alimentação, tempo livre, qualidade de vida. Essas demandas custam caro. Os sindicatos precisam ajudar as empresas a precificar tudo isso e a negociar de forma a atender os dois lados. As negociações têm sido menos teatrais e mais técnicas, com muita pesquisa de preparação e dados em cima da mesa.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – O senhor foi convidado a participar da reunião inaugural do programa para falar sobre o desafio de reposicionamento das entidades sindicais. Que desafio é esse e como enfrentá-lo?
JOSÉ PASTORE – O maior desafio para a CNI será o de motivar as federações a alertar os sindicatos sobre as necessidades deste novo tempo. E outro desafio é, apoiar as federações a ajudar os sindicatos a fazerem pesquisas para a sua categoria e bem utilizar os dados nas negociações. Boas negociações dependem de bons negociadores. Estes, muitas vezes, têm um grande trabalho para “educar” os próprios empresários para que estabeleçam tetos de forma realista e com base em dados concretos sobre a economia e o mercado de trabalho do setor. Esse é um trabalho pesado e contínuo.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – A reforma trabalhista iniciou um processo de modernização das relações de trabalho necessário e que ainda precisa avançar. Que questões destaca como mais urgentes para o Brasil atender aos desafios do mundo do trabalho?
JOSÉ PASTORE – A regulação do trabalho por aplicativo é uma necessidade urgente que não foi contemplada pela reforma trabalhista. Como a Justiça do Trabalho vem fazendo muitas interpretações voluntaristas sobre temas da reforma, será preciso especificar ainda mais as normas que foram inovadas tais como terceirização, jornadas especiais, trabalho remoto, tempo e outras.
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