Dias atrás, ocorreu uma importante reunião entre os líderes da Coréia do Norte, China e Rússia, um momento de grande importância, haja vista os contornos e desdobramentos da policrise global que aí está, o mundo focado nas imagens, no majestoso desfile militar chinês, as últimas tendências da moda militar ali expostas, um evento marcado pelo glamour travestido de pacifismo, quando bem sabemos que o que realmente importa para eles é o controle do Planeta. Tudo transcorria com ares de alegria, até que num dado momento um microfone captou uma conversa entre os três líderes sobre a longevidade humana. Alguns não deram a mínima importância para essa fala, outros viram nisso uma conversa fiada, outros creem se tratar de uma piada sem graça; entretanto alguns ligaram o alerta, estariam eles realmente brincando, quando trataram desse tema?
O tema longevidade já vem de longe, causa inúmeros debates prós e contra, nada é pacífico nesse terreno, verdade seja dita, o tempo de vida aumentou bastante desde que nos conhecemos por gente, nossos antepassados não puderam ver muitas das conquistas nesse ramo, de algumas décadas para cá surgem noticias quase que diariamente, conquistas, previsões futuristas, desenvolvimento de diversas áreas da medicina, especialmente aquelas relacionadas aos transplantes de órgãos estão ai e tantas outras que não fazemos a mínima ideia. O que sabemos é apenas uma ínfima parte dessa pretensa verdade, a maioria dos governos guardam suas pesquisas nesse campo a sete chaves; aspiração legítima querer viver sempre mais, mas essa ideia também mostra que há aspectos muito peculiares e de múltiplas interfaces com outras tantas realidades de hoje.
Em 2024, filósofo centenário, Edgard Morin, escreveu um pequeno artigo que vem bem a calhar nesse momento de pretensa euforia e dinamismo existencial, entre outras coisas ele cita que o progresso se impôs de uma maneira jamais vista na história humana, o único caminho para se sair da obscuridade, da ignorância, no mais da vezes o progresso manipula tudo e todos, ele encaixa a sua ideia em ambientes jamais vistos, hoje temos a manipulação do DNA, das células tronco, informática e a queridinha da hora, a inteligência artificial, onde muitos desavisados ou pouco informados, lhes tecem os maiores louvores, ajoelham-se perante ela como se agora ela resolverá de uma vez por todas todos os problemas que aí estão. Porém, fiquemos alertas, ou seja, a conversa dos três líderes sobre a imortalidade, vem de uma região nada propensa a ter simpatia pela pessoa e pela vida.
A quem realmente interessa viver mais? Quem serão os escolhidos para essa tarefa? Qual o custo dessa aventura ainda totalmente desconhecida? Não sejamos tolos de carteirinha achando que tal técnica se realmente for confirmada daqui sabe-se lá quanto tempo estará disponível para tudo e para todos. No mundo das paixões, tudo tem um preço, mas absolutamente nada tem valor, com a imortalidade não será diferente, a técnica nela embutida serve ou servirá um único propósito, qual seja, para você ter ela a seu dispor, você terá que pagar, você servirá ao propósito servidão voluntária, você será mais um na engrenagem ambivalente, obscura e cheia de contradições nas entrelinhas. Imortalidade, nos remete a possibilidades, um talvez, um quem sabe dará certo; o lado bom é que eles sempre mostram apenas o lado ótimo, jamais saberemos o lado sombrio dessa aventura.
Bioeticamente, o tema imortalidade é a ponta do iceberg chamado progresso, esse mesmo progresso tão bafejado e decantado pelos três líderes, é cheio de armadilhas, imprecisões e dúvidas, muitos progressos que foram conquistados nas últimas décadas se tornaram monstros da nossa própria criação, fazem suas vítimas ainda agora, nesse momento, muitos progressos fizeram com que a sociedade regredisse em muitas de suas conquistas. Imortalidade e progresso, estão de mãos dadas, os discursos são belos, quase nos fazem chorar. Sabemos que esses três líderes que soltaram esse assunto, são movidos pelo poder, seus países são governados com mão de ferro, a história de seus países em relação a vida é carregada de mistérios, nuvens escuras e muita brutalidade, a eles com certeza pouco ou nada importa quem serão os afortunados escolhidos para serem imortais.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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