O novo paradigma ainda não surgiu 

No último final de semana, isto é, 20 e 21 de setembro de 2025,a região sul do Brasil e mais especificamente o Estado do Paraná foi atingido por um sem número de temporais, muita destruição por onde quer que se olhe, algo que nos últimos tempos tem sido uma constante entre nós, antes de mais nada precisamos ter em mente que tais fenômenos não são em hipótese alguma, um castigo divino, Deus jamais quer que algo ruim aconteça para seus filhos e filhas; antes porém, tais acontecimentos deveriam provocar em nós uma séria e profunda reflexão sobre os eventos extremos, uma radical transformação em nosso estilo de vida hoje nada condizente com a realidade. O que está acontecendo bem diante de nossos olhos não é brincadeira, por outras palavras, a natureza sempre se vinga, sempre ela manda seus recados, mais do que nunca, precisamos discernir o nosso tempo presente. 

O que se percebe facilmente na sociedade, é que o assunto mudança climática é olhado com muita desconfiança, desdém, um assunto de pouca relevância no meio em que vivemos embora todos sofram as suas consequências, percebemos pouca mobilização para essa pauta, enquanto outras que estão muito longe de nós merece uma atenção até por vezes triplicada, somos contraditórios em nosso agir, ou seja, aquilo que importa à nossa sobrevivência parece não ter em nossa escala de valores uma estima elevada ou até mesmo vital, preferimos discutir com muito mais ênfase e “sabedoria” assuntos que não vão nos levar a lugar algum, que não nos trarão retorno de modo amplo; no mais das vezes vemos no meio ambiente, algo distante de nós, não fazendo parte da nossa existência, quando na verdade todos sabem dependemos dele desde nosso primeiro instante de vida. 

Temos sido negligentes para com o meio ambiente, essa é a grande verdade, a maioria de nós caiu em perigosas armadilhas de que pode-se tirar tudo da terra, de que podemos usurpá-la como bem entendemos, de que com o progresso conseguiríamos domar o meio ambiente, como se com isso ele fosse xucro, grosseiro e realizada essa missão, teríamos um mundo maravilhoso, onde todos poderiam expressar seus sonhos e desejos da melhor maneira possível, qual nossa surpresa quando abrimos os olhos e vimos que isso não é possível, quando muitos alguns “afortunados” conseguem tal empreitada, mas com um custo elevado e isso tem ficado cada vez mais evidente, por outras palavras, o progresso não foi disponibilizado de maneira igualitária para todos, apenas as catástrofes que ele produziu são repartidas para todos, e essas sem meias palavras, sem compaixão. 

Todos, sem exceção, temos tido muitos problemas com as mudanças climáticas, nosso querido Estado do Paraná tem sido testemunha ocular de diversos eventos extremos nos últimos tempos, imagens e vozes não deixam nenhuma dúvida, a natureza tem mostrado cada vez mais de modo intenso um recado severo, ainda estamos longe de uma consciência ampla sobre tudo o que está ocorrendo ao nosso redor, campanhas existem sim, mas são tímidas, o tema parece distante, a impressão que se tem é que tudo o que está acontecendo é devidamente empurrado com a barriga, é o famoso e famigerado deixar para depois ou pior ainda, que os outros façam esse trabalho por nós. O descompasso entre boas intenções e ações é muito grande, um abismo na verdade; discursos e teorias para o que está acontecendo é sim importante, mas seria muito melhor uma dose de ânimo. 

Bioeticamente, as mudanças severas no clima não pode ser um assunto trivial entre nós, uma banalidade ou até mesmo uma frivolidade, se contentar com que a tempestade passe é mesquinharia, pois sabemos que mais cedo ou mais tarde outras voltarão e darão novamente o seu recado. A COP 30 está ameaçada por uma série de questões menores, pode até ser um fiasco caso não haja mobilização para a sua real efetivação, COP 30 ainda é algo muito longínquo, quase utópico entre nós, claro que há raras e benevolentes exceções, esse evento ricamente ornado por alguns esconde as suas fragilidades mais básicas, ou seja, o Brasil no seu todo precisa crescer em estatura, corporeidade e consciência na questão ambiental, alcançar o equilíbrio entre produzir e preservar é desafiador; não se tem progresso quando outras formas de vida são eliminadas, destruídas. 

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com 

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