O paradoxo que nos dirige

            Aos poucos, todos vamos já vislumbrando o final do ano de 2024, momento esse único para cada um, esteja onde estiver, batalhas silenciosas foram e estão sendo travadas por todos, a grande maioria delas nunca serão contadas em livros, ficarão todas conosco mesmo, 2024 revela sobretudo a dificuldade para se situar num tempo onde tudo parece esfumaçado e de difícil distinção das imagens, mas enfim estamos em movimento, a grande maioria das pessoas vive e convive com a sua fé por dias melhores, apesar de tanta razão instrumental nos rodeando sabemos que precisamos de algo a mais que nenhuma tela de computador ou telefone celular nos dará, podemos nos empanturrar da melhor comida e bebida, que mesmo assim vamos precisar de algo mais profundo, que dê sentido às nossas vidas; por mais que desviemos a nossa consciência para assuntos banais, ela nos procura.

            Queiramos ou não, o tempo do advento é totalmente diferente de qualquer outra época do ano, um bebê está a caminho, vindo ao nosso encontro, um bebê com coração imenso, pois ele será capaz de abarcar todo o mundo, uma criatura tão frágil que terá o poder de proceder a uma nova consciência planetária, ele será responsável por mudar o curso da história para todo o sempre, a partir do seu nascimento nunca mais as coisas serão como antes. Quando Jesus nasceu, as crianças e mulheres não tinham a devida importância, era um período muito difícil, nada diferente do que temos hoje, isso guardadas as devidas proporções; quando o rei fica sabendo do nascimento de Jesus, a matança dos inocentes é logo decretada, qualquer semelhança com a nossa realidade não é mera coincidência, no mundo hodierno novos Herodes estão à espreita, com as mesmas ideias.

            O natal de 2024 é mais uma ocasião para trazermos à mente nossas crianças, todas sem distinção alguma, em especial vamos rememorar as crianças de Gaza e da Ucrânia, dois locais onde os inocentes continuam a pagar com a vida, pelos sonhos delirantes dos adultos, adultos esses que um dia também, foram crianças, mas usam a sua memória seletiva para apagar isso de suas consciências malignas, há Herodes tanto do lado de lá, quanto do lado de cá, os novos Herodes de 2024 usam ternos e gravatas vistosos, fazem belos discursos, sempre inflamados de uma falsa retórica baseada em paz, justiça e direitos para todos; os novos Herodes são doutores  em termos de transgressões contra a vida, quase nunca são julgados por seus crimes contra a humanidade, a base em que se sustentam os novos Herodes é por demais frágil, mesquinha e sempre digna de desprezo.

            Ucrânia e  Gaza são hoje dois cemitérios a céu aberto, que o mundo não quer enxergar e muito menos admitir, os construtores das diversas alianças militares existentes não estão interessados em pessoas e muito menos no natal, a eles simplesmente interessa que as suas indústrias da morte (armas) prosperem sempre mais, que seus lucros cresçam independente de quem sejam as vítimas atingidas por suas bombas. As crianças de Gaza e da Ucrânia fazem a experiência do bebê Jesus, do Jesus criança, do Jesus adolescente, por outras palavras, muitas dessas crianças nascem em meio a um inferno político, crescem num ambiente permeado pela violência e muitas perdem a vida sem saberem por que. Por um instante, pensemos como uma criança de Gaza ou da Ucrânia reage ao ver diante de si tantos sinais de morte e destruição, o que será desses seres inocentes daqui um tempo?

            Bioeticamente, as milhões de crianças existentes no mundo hoje não merecem terem suas existências marcadas por um mundo cada vez mais estúpido, regido por pessoas ainda mais estúpidas, que se acham as detentoras da verdade e que parecem que carregam o rei na barriga, mas a verdade é uma só: quem carregou o único Rei na barriga foi Nossa Senhora, Mãe de Jesus e em nenhum momento ela se achou melhor do que o restante das pessoas. A criança Jesus, bem podemos supor viveu e conviveu com outras crianças, não podia ser diferente, afinal ele foi humano em tudo, menos no pecado. Daqui há poucas horas o bebê Jesus estará entre nós, em nossos lares alegres ou não, estará nas ruas ou nas favelas, nos ambientes mais requintados como uma mera figura decorativa ou nas horríveis praças de guerra; não custa pedirmos para Ele que nos dê um Feliz Natal.   

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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