O Salmo 8 é um hino pela criação e pelo homem. Reza o salmista: “Senhor, nosso dono, quão ilustre é teu nome em toda a terra […]. Quando contemplo teu céu, obra de teus dedos, a lua e as estrelas que dispusestes, o que é o homem para que dele te lembres, o filho de Adão para que dele te ocupes? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, de glória e de honra o coroaste, dando-lhe o domínio sobre as obras de tuas mãos…” (Sl 8, 2.4-7).
“O que é o homeme?”. Essa é a grande pergunta que se ergue sobre o horizonte plano da terra, essa curva que se volta sobre si perguntando. O homem, ou seja, os seres humanos – homem e mulher – conhecemo-nos, definimo-nos e, tantas vezes não nos conhecemos, não sabemos exatamente quem somos!. Não sabemos, tampouco porque existimos e para que existimos!. São as perguntas existencias e profundas! Nossas indagações necessitam de respostas. O mundo moderno é, ao mesmo tempo, poderoso e fraco, capaz do melhor e do pior, colocado em face da liberdade e da escravidão, do progresso e da involução, da fraternidade e do ódio. O ser humano tem consciência de que lhe compete orientar as forças que ele mesmo suscitou, mas que podem-no oprimir da mesma forma que servir. Por isso, questiona-se. Mas onde encontrar as respostas ao que somos e/ou ao que não somos? Uma parte da humanidade vive perguntando-se e chega a contemplar as obras de Deus, a exemplo do salmista que admira-se das grande obras do Criador e Senhor “obra de tua mão, dos dedos” – “obras de artista”. É uma fórmula inusitada, que parece sublinhar a modelação minuciosamente, com detalhes e caprichos. Sim, somos as únicas criaturas dotadas de inteligência, de racionalidade, de pensamento. Um dado antropológico fundamental para que não caiamos em confusão em relação as demais criaturas. Observar as diferenças entre os seres vivos é de fundamental interesse nos tempos de relativismos e subjetivismos, ou seja, nossa identidade orginal, como criaturas únicas, considerando em sua unidade e totalidade, corpo e alma, coração e consciência, inteligência e vontade.
Cristo, Homem Novo
“Homem” – criado e lembrado pelo Criador “à sua imagem e semelhança” prefacia-nos o livro das origens. O salmista afirma a relação pessoal e maravilhosa, cujo sujeito é Deus e cujo complemento é o homem. Agora, na sequência, veremos o homem redimido em Jesus Cristo, segundo a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 22, do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja no mundo. Por isso, depois de ter aprofundado o mistério da Igreja, o Concílio Vaticano dirige-se diretamente à humanidade na sua totalidade, e não apenas aos filhos da Igreja e aos que invocam o nome de Cristo, desejando dizer a todos como entende sua presença e sua atividade no mundo de hoje.
O mistério do ser humano só se ilumina de fato à luz do mistério do Verbo encarnado. O primeiro homem, Adão, era imagem do futuro, o Cristo Senhor. Ao revelar o mistério do Pai e de seu amor, Jesus Cristo, o último Adão, manifesta plenamente aos seres humanos o que é o ser humano e a sublimidade da vocação humana. Não admira, pois, que todas as verdades a que anteriormente aludíamos tenham sua fonte em Cristo, e nele alcancem sua máxima expressão. Ele é “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), homem perfeito, que restituiu aos filhos de Adão a integridade violada pelo pecado. Nele, a natureza humana foi assumida sem ser afetada e, por isso mesmo, tornou-se ainda mais digna e preciosa. Pela sua encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, uniu-se a todos os seres humanos. Trabalhou com mãos humanas, pensou e agiu como qualquer ser humano, amando com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, foi realmente um dos nossos em tudo, exceto no pecado.
Características de Jesus Cristo na perspectiva da Gaudium et spes n. 22
Cordeiro inocente, tendo derramado livremente o seu sangue, mereceu-nos a vida. Nele, Deus reconciliou-se conosco e livrou-nos da escravidão do demônio e do pecado, para que cada um de nós pudesse dizer com o apóstolo: o Filho de Deus “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Sofrendo por nós, não apenas deu exemplo, para que lhe sigamos os passos, mas estabeleceu o caminho através do qual a vida e a morte ganham um sentido novo e tornam-se vias de santificação. Isto não vale somente para os fiéis, mas para todos os homens de boa vontade, em cujo coração atua a graça, de maneira invisível. Como Cristo morreu por todos,todos são chamados a participar da mesma vida divina. Deve-se, pois, admitir que o Espírito Santo oferece absolutamente a todos os seres humanos a possibilidade de se associar ao mistério pascal, de maneira conhecida somente por Deus. Eis o grande e admirável mistério do ser humano. Os fiéis o reconhecem através da revelação cristã. Por Cristo e em Cristo brilha uma luz no fim do túnel de dor e de morte, que nos sufocaria, não fosse o Evangelho, como permanente “Boa Notícia” à humanidade.
Missão dos humanos: cuidar do universo
Podemos afirmar que o homem foi colocado por Deus num mundo inacabado, imperfeito, apenas começado, em evolução, com grandes virtualidades que devem ser atualizadas, com numerosas forças brutas que devem ser domadas. E é tarefa do homem, por ordem divina, continuar, aperfeiçoar, ajudar a evoluir, atualizar as virtualidades da natureza, domar as forças cegas do universo, para então ser o senhor e servo, centro e ponto culminante, “imagem de Deus”. Agir dessa maneira significa obedecer a Deus. Somos diante do Criador, seus cooperadores e temos a magna responsabilidade do cuidado, sobremaneira, dos seres humanos e sua alta dignidade de filhos de Deus! Eis a nossa resposta à pergunta introdutória deste artigo.
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