Com a tecnologia mudando o comportamento das pessoas a cada segundo, pensar o futuro, passa por soluções que devem ser experimentadas a curto e médio prazo para que de fato haja a transformação tecnológica
Os últimos dez anos apresentaram ao mundo novos hábitos de consumo, comportamento, isso sem falar na evolução tecnológica. E se pararmos para pensar quais foram as mudanças vivenciadas em sete décadas?
Da mesma forma que remexer no baú de invenções nos leva à conclusão de que vivemos profundas transformações, devido aos muitos avanços tecnológicos, nos deparamos com outros paradigmas. O que vamos presenciar na próxima década? E mais, como será a realidade tecnológica, quando Pato Branco completará seu centenário, em 2052?
Giles Balbinotti, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pato Branco, aposta que este seja mesmo o momento de olhar para as próximas três décadas, como uma espécie de compromisso com o futuro. Um futuro, que inevitavelmente está mais próximo, contudo, a agitação do dia a dia faz com que essa percepção esteja ainda mais acelerada.
“Temos que encontrar uma maneira de facilitar a vida do cidadão”, afirma Giles, prospectando hoje, o amanhã, que na sua visão precisa de soluções que contribuam com mobilidade urbana, permitindo uma ampla integração entre os modais, mas principalmente o conforto da população.
Para ele, além de observar soluções já existentes, uma alternativa é tornar “Pato Branco uma cidade de experimentos”, que na prática, nada mais é do que permitir que muito do que vem sendo pensado, seja testado localmente, com as características próprias do município.
“Trazendo esses experimentos para Pato Branco, a partir deles, a comunidade passa a entender como funciona”, pontua. Para tanto, são necessárias políticas públicas que estimulem este verdadeiro laboratório a céu aberto e as ações sejam pensadas em curto, médio e longo prazo. Giles também destaca a necessidade, não apenas localmente, mas em âmbito nacional, da elaboração de marcos regulatórios que estimulem a pesquisa e possibilitem que uma série de tecnologias sejam aplicadas.
Enquanto uma realidade prática de carro voador parece bastante remota localmente, Giles lembra que outras tecnologias que já são realidade no município, por serem aqui desenvolvidas. “Temos, por exemplo, no nosso Parque Tecnológico uma empresa que trabalha com drones. Pato Branco tem essa expertise de utilizar a tecnologia em prol do desenvolvimento e da mobilidade urbana”, comenta o secretário falando em encontrar mecanismos de deixar essa realidade mais próxima ao cotidiano da população.
Para ele, as inovações tecnológicas devem estar bastante claras para o desenvolvimento e planejamento futuro, e ao mesmo tempo, é necessário se ter uma projeção de quantos serão os habitantes de Pato Branco nos próximos anos. “A Sanepar tem uma projeção de quantos habitantes somos hoje, mas precisamos pensar o amanhã. Este olhar para a frente demanda uma atenção especial, estudos e planejamento, para sabermos o que poderá ser pensado pelos diversos setores”, afirma o secretário.
Professor, escritor, consultor em Cidades Inteligentes, ex-secretário Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Vinícius De Bortoli recorda que a transformação tecnológica de Pato Branco teve início há algumas décadas, mas passou a ganhar corpo em 1986, com a implantação do curso de Processamento de Dados, o que poder ser considerado um marco para a época.
Neste percurso, a implantação do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet), o projeto e conceito de Cidade Tecnológica difundido por meio da Pato Branco Tecnópole em 1997, permitiu o desenvolvimento de vários atrativos tecnológicos.
“Durante estes 25 anos, desenvolveu-se um conjunto de empresas de base tecnológica, incubadoras, Parque Tecnológico, universidades e seus laboratórios, mão de obra especializada, entidades governamentais voltadas para o desenvolvimento e conselhos municipais, para ver Pato Branco chegar o que é hoje, a Capital Tecnológica e Inovadora do Paraná”, comenta Marcos destacando que “foi criada uma cultura empreendedora, de inovação e de apreço pela tecnologia.”
Para ele, o futuro de Pato Branco está em ampliar ainda mais os atrativos tecnológicos, mas acima de tudo “popularizar e disseminar a cultura tecnológica e seus benefícios para toda a população. Caso contrário, não faz sentido. Não existe uma cidade inteligente se não tivermos moradores vivendo de forma inteligente, sustentável e humanizada dentro dela” defende Marcos.
Cidade inteligente
O que de fato é uma cidade inteligente? E o que isso impacta na sua população? Questionamentos como esses são importantes para se de fato Pato Branco quer ser uma cidade inteligente.
Em linhas gerais, cidades inteligentes são aquelas que se valem da tecnologia para garantir a eficiência político-econômica para o seu desenvolvimento. Na prática, é o monitoramento do uso do recurso público, com embasamento tecnológico, garantindo eficiência e evitando desperdício.
Um exemplo fácil para entender o conceito, é a instalação de sensores nos prédios de iluminação pública para o acendimento somente quando necessário, e a troca por lâmpadas adequadas.
Outro que vem sendo pensado pelo Município, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, e que se acredita deva ser apresentado em um curto espaço de tempo, são o que vêm sendo chamado de lixeiras inteligentes.
No conceito que está sendo trabalhado em Pato Branco, um sensor que é instalado nos contêineres vai repassar informações para o caminhão de coleta, relatando a real ocupação (se está cheio ou não). “As lixeiras sensoriais vão permitir uma maior agilidade e eficiência no serviço de coleta”, defende Giles falando que com o monitoramento das lixeiras, será possível reprogramar rotas de coleta de acordo com a necessidade, o que pode contribuir também com uma maior fluidez de trânsito em determinados pontos.
Neste caso, Giles explica que alguns testes foram realizados dentro da Secretaria, e que o próximo passo é fazer testes práticos, ou seja, em bairros e no distrito de São Roque do Chopim, o ponto de coleta de resíduos mais longe da área central.
De certa forma, o que Giles e Marcos defendem, segue o mesmo caminho, uma vez que ambos entendem que a tecnologia deve ser o meio, enquanto que a finalidade é o atendimento da população, seja no menor uso de papel; na sincronização de semáforos de trânsito, no fim das filas de espera por um atendimento em saúde, por exemplo.
O entendimento dos dois sobre cidade inteligente fica mais claro quando ambos defendem Governança de Tecnologia de Informação, que é desburocratizar a vida da população por meio de soluções práticas.
Para tanto, Marcos lembra que a Carta Brasileira das Cidades Inteligentes, lançada em 2019, está voltada justamente para o uso correto da tecnologia para melhorar a qualidade de vida de seus moradores, e tem objetivos estratégicos e diretrizes.
Ele também destaca que o Município possui índices bons diante de outras localidades de mesmo porte e arrecadação, conforme revelou agora em 2022, a plataforma IGMA do Instituto Aquila.
O que esperar
De fato, estamos preparados para a transformação tecnológica que nos avizinha?
Comparando a tecnologia como alguém que tentar subir uma escada rolante que desce, Marcos afirma que nunca estaremos totalmente prontos para as transformações tecnológica. No caso do exemplo da escada rolante é necessário “se ter um esforço e movimento só para estar no mesmo lugar, imagina para subir”, comenta ele, que ao mesmo tempo pontua que a tecnologia é inevitável. “Virá, de qualquer forma, estando ou não preparados. Então, quanto antes, dentro dos limites de cada um, experimentar o novo, melhor.”
Contudo, Marcos aponta uma “vantagem” para o futuro. Diferente dos nascidos no século passado, a atual geração já nasceu digital. “Estes terão seus próprios desafios à frente, mas, para os mais velhos, da geração que nasceu antes da Internet, realmente o salto é maior”. Ele ainda afirma que não é pelo fato de que uma pessoa não tenha “nascido digital”, que isso seja motivo de exclusão.
“Nem tudo é imediato, nem desesperador. Com calma, tudo se aprende. Vimos isso no programa Escola Pato Branco Digital, onde tínhamos públicos variados, mas principalmente de idosos aprendendo a usar a internet. Os relatos que ouvimos eram emocionantes: desde a senhorinha que aprendia diferentes ‘ponto-cruz’, até a vovó que conseguia falar todo dia com a neta que vivia em outra cidade”, para Marcos, “a tecnologia deve ser uma ferramenta para que possamos viver mais e melhor, senão, não faz sentido. Acho que, baseado nesta prerrogativa, podemos avaliar / refletir sobre o uso que pessoalmente fizemos dela em nossa casa e trabalho. E descartar ou reduzir o uso do que está nos prejudicando.”
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