Detentor orgulhoso do registro número 12 da empresa, ele foi homenageado recentemente
Em 2014, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa que mostrou que em média os profissionais brasileiros trabalham 161,2 semanas em um mesmo posto de trabalho, ou o mesmo que 3 anos em média. Mas o que dizer de um profissional que tem 2.087,1 semanas dedicas a mesma empresa?
Sim, já são 40 anos que Valdir Peseti trabalha na Atlas Eletrodomésticos. Para se ter ideia, a “ficha” de Peseti carrega o número 12, algarismo que é motivo de orgulho, tanto que recentemente ele recebeu homenagem da Atlas Eletrodomésticos ao ser o primeiro trabalhador a ter seu nome em uma placa, na galeria dos colaboradores na fábrica em Pato Branco (PR).
Bem-humorado, — como é descrito por seus colegas de trabalho —, Pesseti aos 66 anos, recorda que sua Carteira de Trabalho somente possui dois registros profissionais, na Avícola Pato Branco e na Atlas, ao mesmo tempo em que brinca “vou permanecer aqui até que o patrão quiser.
“Quanto eu cheguei aqui (para trabalhar na semana passada), os caras fizeram uma surpresa para mim, que eu não esperava, mas gostei muito”, recorda Pesseti orgulhoso da trajetória percorrida, “são 40 anos, não são 40 dias. É uma vida aqui dentro.
Celso Palagi afirma que “seu Peseti é uma inspiração, um exemplo de pessoa. Com sua energia, alegria ele cativa a todos. Ele tem o vigor de quem ajudou e ajuda a fazer disso aqui (empresa) ser a potência que é”, declara o gerente de RH da Atlas Eletrodomésticos completando “para nós, é motivo de muita alegria, muito orgulho poder contar com ele, conversar com ele todos os dias.”
Palagi destaca ainda a energia positiva, de quem ele descreve como “exemplo de ser humano”, mas também de dedicação e entrega. “O serviço dele é sempre feito com alegria e excelência. É um exemplo para quem chega e para quem olha esse cara com toda essa energia, vontade de fazer e fazendo o trabalho com muita qualidade”. O gerente de RH ainda descreve Pesseti como pessoa acessível.
Conheça Valdir Pesseti
O que levou o senhor a procurar trabalho em 1983 na Atlas?
Foi para trabalhar e sustentar minha casa. Eu tinha 26 anos de idade, hoje tenho 66 anos de idade e 40 de Atlas (comemorados na quinta-feira, 1º).
Eu tenho quatro filhos, criei os quatro estando aqui dentro. Todos eles carregam um pouco da Atlas com eles, e a minha filha caçula, trabalha na estamparia.
O senhor entrou fazendo o que na Atlas?
Eu entrei faziam poucos dias que eles [fábrica] tinham vindo para cá, e estou aqui até hoje. Naquela época era bem diferente (…), não tinha tudo isso aqui. Era só o fogão a lenha, eu sou do início da Fogões Petrycoski.
O [fogão] a lenha era todo polido, no esmerilho, nós banhávamos as peças em um tanque. Pegava um ferro, que ia colocando as peças e para banhar, para ir saindo o óleo que tinha nas peças. Depois de tudo isso, o fogão a lenha, que era todo esmaltado recebia as florzinhas.
Era um trabalho bastante manual. Todos trabalhavam, os chefes ajudavam, todos se conheciam. Para você ter ideia, as vezes nós íamos em bora a pé, outras vezes de caminhão.
Família Petrycoski chegou e falou para o senhor…. Valdir nós vamos terminar de te criar (risos).
Eu era pia ainda, era novo, não sabia o que fazia ainda. Já era casado, tinha uma filha, mas estava no começo de tudo.
Quando a família Petrycoski anunciou que passaria a produzir fogão a gás, como foi a aceitação?
Mudou muita coisa. Na produção do fogão a lenha o trabalho era bastante manual, quando passou a ser produzido o fogão a gás o sistema de trabalho mudou.
Eu nunca trabalhei na linha de montagem, sempre trabalhei nessas linhas diferenciadas. Já fui do polimento, mas a maior parte do tempo foi na esmaltação onde sigo até hoje.
Para se ter uma ideia, quando eu entrei, nós montávamos 50 fogões a lenha por dia. Foi crescendo, aumentando a produção e com isso também aumentando os funcionários.
Depois que a produção de fogão a lenha mudou de lugar, — que agora está o seu Valdir [Petrycoski] cuidando —, e aqui [fábrica] ficou com o fogão a gás, aumentou a produção e a quantidade de produtos.
O que o senhor construiu estando dentro da empresa?
Eu construí a minha família. Tenho quatro filhos, duas mulheres (uma delas trabalha na empresa) e dois homens, e tudo o que pude passar para eles foi através do que conquistei estando aqui. A empresa para mim também é uma família.
Quando eu entrei, não tinha casa, pagava aluguel. Agora eu tenho o meu lugar, fruto do meu trabalho aqui dentro.
Como é ter dois registros de trabalho apenas na sua Carteira de Trabalho?
Meu primeiro registro na Carteira foi na Avícola Pato Branco, trabalhei um ano e oito meses, quando sai de lá, fui trabalhar em uma chácara (sem registro em carteira) perto aqui da fábrica da Atlas, lá trabalhei um ano e pouquinho, aí um conhecido meu, arrumou um emprego aqui ainda na época do fogão a lenha.
Não me mandaram em bora, eu gosto do que faço, sigo trabalhando bem feliz.
Nesses 40 anos, quais são as memórias de maior alegria?
Logo quando eu entrei, o meu chefe era o seu Albino, primo do Valdir e do Cláudio. Ele era o chefe da estamparia, teve um dia que ele me colocou carregar fogão a lenha, eu era acostumado com o trabalho leve na chácara, nunca tinha erguido peso, nem nada, fui carregar fogão número 3, que era pesado.
Eu trabalhei o dia inteiro carregando fogão, eram pilhas de três fogões um encima do outro. Mas no outro dia para levantar (…), só eu sei a dor que tinha nas pernas, nos braços. Mas também, foi só aquele dia, depois eu voltei para o meu serviço.
Teve algum dia que a lembrança não é boa?
Não teve nenhum dia.
As pessoas olham para mim e pedem o que eu tenho que sempre estou dando risada, alegre. Me pedem se eu tomo remédio. Eu não tomo e sempre busco manter a alegria.
Eu gosto do trabalho, eu não consigo ficar parado, até quando estou em casa eu estou fazendo alguma coisa.
Como o senhor é chamado dentro da empresa?
A maioria me chama de Peseti. Alguns me chamam de vô, ou nono. Tem alguns que me chamam de senhor, mas senhor eu não sou. Senhor é Deus que é maior.
Mas podem me chamar de você, velhinho, seja o que for, sei que é carinhoso.
Há 40 anos, quando você entrou na Atlas, havia o plano de ficar todo este tempo?
Não, eu não pensava. Naquela época era fichado na empresa, batia o ponto em papel, hoje entra com a digital.
Eu entrei pensando em construir alguma coisa para mim, para minha esposa e minha filha. E com os anos vieram os outros filhos.
Tem muitas pessoas que me pedem “como você consegue ficar tanto tempo em uma empresa?”. Eu respondo “tenho que trabalhar. De que me adianta entrar hoje em uma empresa, ficar um tempo curto, ir para outra, e depois voltar para a primeira?”
Qual a mensagem que deixa para quem está sendo registrado agora na empresa?
Entre e de valor ao teu trabalho. Encare os desafios, não é sempre que você vai ficar no mesmo serviço. Se você caprichar, trabalhar bem, você terá oportunidades e vão te colocar em outros setores. Não desista.
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