Dirceu Antonio Ruaro
Falei, no último texto, sobre o possível confronto, ou conflito de gerações, que parece muito comum nas famílias. É interessante observar que não se trata de casos isolados, a grande maioria das famílias, parece que vive mesmo, mundos separados. A impressão que se tem é que apenas o local de convivência, é a coisa comum que os une.
Discutir o papel dos pais na educação/formação dos filhos, parece ter se tornado algo tão enfadonho e inútil que boa parte das famílias prefere “empurrar as dificuldades com a barriga” do que sentar e discuti-las.
Quando dizemos que as famílias, de certa forma, faliram na educação/formação dos filhos, estamos dizendo que, de fato, as gerações atuais olham para a família como uma organização que existe apenas para sustentá-los financeiramente e dar suporte as suas necessidades físicas e/ou emocionais.
Muitas razões para os “mimimis” queixosos dos adolescentes e jovens têm suas origens no papel exercido pelos pais, especialmente, e pela família de modo geral, na formação de valores.
Considerei, dias atrás, num dos textos que escrevi, que estamos tento uma geração que parece ser a geração do “dodói”. Tudo machuca, tudo causa dor, tudo causa constrangimento, tudo é preconceito.
Temos visto que a grande maioria dos adolescentes e jovens já não suportam a mínima repreensão pois foram criados num sistema “exclusivo de direitos”, ou seja, temos uma geração de direitos e não mais o ser humano de direitos e deveres.
É importante entender que, inclusive legalmente falando, cabe aos pais, como “chefes da família” a formação dos filhos no sentido humano, ou seja, uma formação que contemple os valores e, neles, os direitos e deveres.
Cabe à família a responsabilidade por iniciar o processo de desenvolvimento da criança — físico e intelectual. Os pais também são os principais agentes para que os filhos se tornem pessoas íntegras.
Mas, antes mesmo de iniciar esse processo de formação, é necessário que os pais ou “tutores” como queiram, pois, hoje temos variados formatos de família, discutir o que são valores e quais valores são importantes e, necessários, para a formação humana das crianças, adolescentes e jovens.
É preciso que haja concordância e compreensão dos conceitos de “valores” pois, a família é o principal espaço de referência, proteção e socialização dos indivíduos, independente da forma como se apresenta na sociedade. Ela exerce uma grande força na formação de valores culturais, éticos, morais e espirituais, que vêm sendo transmitidos de geração em geração.
As famílias são fontes de carinho e cuidado. São elas que se apoiam e colaboram para o bem-estar uns dos outros, além de serem peças-chave no processo de desenvolvimento e aprendizagem. É na família que se cria o sentimento de pertencimento e se estabelece o início da socialização.
É na família que se aprende o respeito pelos outros, os ideais de uma sociedade mais justa, mais humana, mais solidária.
Nas últimas décadas, devido ao processo de decadência social, moral, legal e, portanto, institucional da sociedade, naturalizou-se a desgraça alheia, a pobreza, a falta de moral, a falta de justiça, a ideia de que, quem pode mais, pode tudo.
Por isso, é na família que se precisa iniciar o processo de “desnaturalização” da desgraça alheia.
É na família que se envolve as crianças num processo de responsabilidade, afeto e transmissão de valores. Filhos que contam com pais presentes em suas rotinas têm mais chances de se desenvolver adequadamente em diferentes aspectos, como o social, o intelectual e o emocional.
É no contexto familiar que as crianças desenvolvem os primeiros laços afetivos e comportamentais, formando aos poucos o seu caráter. Já a escola é o espaço onde os pequenos aprendem a conviver, a gerenciar conflitos, a desenvolver o conhecimento e a aprender coisas novas. Por isso, é possível afirmar que a educação de um indivíduo começa em casa e se estende na escola.
Importante dizer que é bom falar, discutir, mostrar os fatos, mas é muito mais importante “viver os valores que se prega”, ou seja, cuidar dos exemplos. Não adiante falar de respeito, é preciso viver o respeito. Não adiante dizer que os outros são importantes e não dar importância aos outros.
Não adianta falar que se deve ser justo e ser injusto com os filhos, empregados, vizinhos, conhecidos, ou seja, a máxima popular: “se as palavras comovem, os exemplos arrastam”, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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