Vivemos em um mundo agitado, barulhento, acelerado. Somos constantemente bombardeados por novas informações e intermináveis propagandas. Corremos o perigo de aceitar passivamente tal situação, e de tal modo nos habituar com ela, que sua ausência seja experimentada como uma lacuna a ser preenchida, ou um vazio que não podemos suportar. Daí a pressa em suprir os momentos em que nossos ouvidos nada escutam, em que nossa atenção não é requisitada por novos estímulos. Cruzamos com jovens, e também menos jovens, embalados pelas músicas ouvidas em seu fone de ouvido, fixados em seus aparelhos eletrônicos e alheios ao que se passa à sua volta.
No entanto, não podemos esquecer que estamos destinados, pelo que somos, a conhecer, pensar, refletir, avaliar, julgar, bem como a agir, optar, tomar decisões, comprometer-nos, acolher ou recusar. Porém, é muito difícil que correspondamos na vida concreta ao que somos se não conseguimos abrir espaços de silêncio em nossa existência. Pois ela é uma travessia agitada, como um navegar em alto mar, sujeita a ventos e correntes que nos podem afastar do rumo desejado e que exigem, de tempos em tempos, uma avaliação da rota para corrigir os desvios ocorridos.
A Bíblia nos ensina que o deserto, enquanto lugar de silêncio, significa a oportunidade de um encontro consigo mesmo e com Deus, passagem obrigatória antes da chegada à terra prometida. Também Jesus teve sua passagem pelo deserto, teve seu tempo de silêncio, teve seu encontro com o Pai antes de iniciar sua missão pelo Reino de Deus.
O silêncio nos capacita a olhar a vida em profundidade e nela descobrir seu encanto e sua beleza. O silêncio nos ajuda a reconhecer o transitório, garantindo nossa paz em meio às turbulências próprias da condição humana. O silêncio nos aproxima de nossos semelhantes tornando-nos mais sensíveis às suas carências e mais pacientes com suas falhas.
A pastoral do silêncio, se assim podemos falar, não se encontra muito valorizada na Igreja. Daí que toda nossa atenção se volta para o ensino da doutrina, da moral, das diversas pastorais, para a organização do culto e para as atividades assistenciais. E nada mais justo, pois tudo isto é necessário. Mas a finalidade de toda e qualquer pastoral é levar a pessoa a um encontro pessoal com Jesus Cristo, a uma experiência de Deus, a um encontro significativo e plenificante em sua existência. O que não acontece se não ousarmos mergulhar corajosamente no silêncio, que não é um vazio, mas a plenitude de Deus que nos espera.
As paróquias constituem o núcleo da vida cristã e eclesial. Também elas deveriam oferecer uma pedagogia da oração e do silêncio, não apenas restritas a pequenos grupos, mas sempre presente em todos os demais grupos apostólicos como fator decisivo na qualidade de suas atividades. A vida espiritual e apostólica, já nos dizia São Vicente Pallotti, não se mede tanto pela quantidade de atividades quanto pela qualidade da doação de cada um. E aqui o silêncio desempenha um importante papel.
Pe. Lino Baggio, SAC – Vigário paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida
Comentários estão fechados.