A OCDE diz que há quatro elementos para ajudar a entender o descontentamento, apesar do desempenho econômico forte do período: a desigualdade; indicadores de bem-estar multidimensionais, os quais fornecem uma compreensão mais ampla sobre a qualidade de vida; as pressões sobre a força de trabalho global, com maior informalidade e vencimentos insuficientes para trabalhadores, sobretudo nos países em desenvolvimento; e “a catastrófica deterioração do meio ambiente nas últimas décadas”.
Nesse contexto, a pandemia da covid-19 ainda “reverteu parte dos ganhos feitos nas últimas três décadas”, nota a OCDE. As economias encolheram, estima-se que 255 milhões de pessoas perderam seus empregos pelo mundo, enquanto cerca de 100 milhões delas caíram na extrema pobreza. “Milhões são ameaçados pela fome”, diz a OCDE. Nas economias avançadas, a recuperação a níveis de antes da crise deve ocorrer neste ano, ajudada por pacotes de estímulo e acesso mais rápido às vacinas. Entre muitos emergentes, porém, essa recuperação demorará “muito mais”, com cicatrizes na economia mais severas, adverte. “Enquanto isso, as desigualdades se aprofundaram dentro dos países de todas as faixas de renda.”
O descontentamento analisado pela OCDE não está visível apenas nas ruas, diz a entidade, ao citar um recuo na confiança no governo, perda de apoio à democracia e recuos de longo prazo na taxa de comparecimento nas eleições como evidências de insatisfação.
‘Reconstrução’
A solução defendida no relatório passa por uma “reconstrução melhor” do choque da covid-19, segundo a OCDE. Ela sugere que os governos busquem ganhar mais a confiança da população, que sejam estabelecidas redes e conhecimento que constituam capital social e, ao promover uma participação de base ampla, os países possam escapar das armadilhas da baixa produtividade, de instituições fracas e vulnerabilidade social que não apenas contêm o desenvolvimento, mas também são fatores importantes por trás do descontentamento.
A OCDE argumenta que essas abordagens precisam ser pensadas em conjunto em estratégias de desenvolvimento nacional. O relatório ainda reconhece as dificuldades que abordagens desse tipo podem ter no mundo pós-pandemia, sobretudo em Estados mais enfraquecidos em suas finanças públicas e com uma maior desigualdade.
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