Discutiram com os familiares, passaram “perrengue” na imigração e chegaram exaustos ao Uruguai, sem lugar para dormir e planos do que fazer fora controlar a ansiedade até sábado, dia da decisão. Os problemas ficam em segundo plano quando o assunto é Palmeiras. Se ajeitaram na própria Kombi, que suportou bem a aventura.
“Não sabemos onde vamos ficar, mas o que importa é o Palmeiras”, resume Ricardo, que é policial militar, bem como Leonardo. Gustavo, o outro integrante do grupo, é corretor de imóveis. Se não encontrarem acomodação na capital uruguaia, o jeito vai ser dormir na própria Kombi, o que não é problema para eles, como disseram ao Estadão.
“Tiramos um banco para trazer colchões. Viemos preparados para tudo”, diz Leonardo, cuja mulher está grávida. Ela se irritou com a ausência do marido por uns dias, ele conta. Mas o risco vale a pena ser corrido, segundo Leonardo. O bebê não está para nascer agora.
Nas redes sociais, eles criaram o perfil “Odisseia dos Porcos”, como quiseram chamar o périplo via terrestre de Ilha Solteira a Montevidéu. Lá, registram as aventuras da viagem, incluindo as intempéries e os momentos de alegria. A Kombi, de 2008, foi comprada recentemente pelo três palmeirenses com o único objetivo de levá-los à final continental, “em busca do tri”, como enfatizam. Depois de pagarem R$ 24 mil no automóvel, eles não tinham dinheiro suficiente para custear gastos de pedágio, gasolina, alimentação e ingressos, entre outras despesas. Mas foram salvos por amigos, que viabilizaram a ida deles a Montevidéu por meio de uma espécie de patrocínio.
Eles deixam proprietários de pequenos mercados, adegas, açougues, lanchonetes, pizzarias, padarias e farmácias de Ilha Solteira exibirem suas marcas na estilizada Kombi em troca da ajuda financeira. O veículo, apelidado carinhosamente pelos palmeirenses de “Kombosa”, ganhou também adesivos em alusão ao Palmeiras para deixar claro que ali estão três apaixonados pelo time paulista que joga neste sábado atrás de seu terceiro título da Libertadores diante do Flamengo.
O icônica carro da Volkswagen foi produzido no Brasil por 56 anos e saiu de linha em 2013 como o mais longevo no mundo. O modelo parou de ser fabricado porque não tinha condições de receber airbags. Mas, segundo eles, era perfeito para o que queriam.
Os três saíram de Ilha Solteira, pequeno municio paulista próximo à divisa com Mato Grosso do Sul na madrugada de terça-feira, dia 23. Pararam em Chapecó para dormir e depois em Santana do Livramento, cidade gaúcha que faz fronteira com o Uruguai. Desavisados sobre parte dos protocolos que teriam de cumprir na chegada ao país vizinho, acabaram tendo alguns contratempos na imigração e demoraram mais do que planejavam para entrar no Uruguai. Nada, entretanto, que tirasse a animação dos torcedores. “Vamos ganhar de 1 a 0 com gol contra, polêmico, ou do Deyverson aos 48 minutos”, profetiza Ricardo.
Por enquanto, não há plano de volta. Eles querem curtir a alegria da decisão e torcer para dar Palmeiras, porque aí os 2 mil quilômetros de volta até Ilha Solteira serão bem mais divertidos na Kombosa.
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