Ao mesmo passo que pacientes do SUS demonstram grande demanda nestas áreas, municípios relatam dificuldade na contratação de especialistas
* Jéssica Procópio e Paloma Stedile
Consultas de oftalmologia e ortopedia são as mais requisitadas na microrregião de Pato Branco por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), atendidos pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde (Conims). Na micro, 13 dos 15 municípios registram grande procura por consultas com especialistas em pelo menos uma dessas duas especialidades.
Com relação aos cuidados com os olhos, os municípios da região que não registram larga demanda são Pato Branco e Sulina. Já na orto, os municípios da micro que afirmam não ter grande procura pela especialidade são Chopinzinho, Mangueirinha e Sulina.
Esses dados foram obtidos junto às Secretarias Municipais de Saúde, por meio de um levantamento feito pela reportagem do Diário do Sudoeste.
Ao mesmo passo em que há grande procura por essas duas áreas, há também falta de profissionais capacitados, especializados, para atender essa demanda nos próprios municípios. A situação se repete na região, também, em outras áreas da medicina.
Segundo as Secretarias de Saúde, o principal problema que impede a contratação de especialistas são os próprios médicos. Conforme o levantamento do Diário, os profissionais não têm interesse em trabalhar nos municípios.
Oftalmologia: um caso à parte
A especialidade mais procurada pela população é também, justamente, uma das mais difíceis de se ter em um município a disposição dos pacientes.
Isso porque, conforme o levantamento feito pelo Diário, o valor dos equipamentos para montar um consultório oftalmológico é extremamente elevado, o que muitas vezes torna inviável a implantação. Com isso, a maioria encaminha seus pacientes ao Conims.
Especialidades nos municípios
Em cada um dos municípios da micro existem algumas particularidades quando o assunto é especialidade médica. Itapejara D’Oeste disse não ter interesse em contratar especialistas por conta do “grande número de profissionais especializados e clínicas conveniadas (no Conims)”.
Por outro lado, o Município de Sulina sofre com a falta de equipamentos e estrutura para auxiliar no diagnóstico de traumas, assim como Bom Sucesso do Sul, que disse não ter recursos municipais para manter os médicos, caso fossem contratados.
São João e Clevelândia, no entanto, informaram que a contratação de especialistas — dos necessários, conforme a demanda — não está ocorrendo por conta da Lei 173, que proíbe até 31 de dezembro deste ano a contratação de novos servidores por conta da pandemia da covid-19.
Assim como Itapejara, Mangueirinha também não tem interesse em contratar novos médicos. O município se destaca na micro por ser membro do Conims, mas, mesmo assim, conter sete especialidades disponíveis para atendimento da população no município.
Como conseguir consulta com um especialista?
Há um protocolo a ser seguido antes que os pacientes assistidos pelo SUS tenham uma consulta com um médico especialista. Conforme apurado pela reportagem, os atendimentos com profissionais acontecem após o encaminhamento de clínicos gerais.
Na maior parte dos municípios, esses médicos atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Cada paciente deve procurar o atendimento mais próximo de sua casa ou o local indicado pelo Município para consultas com clínicos gerais.
Após encaminhamento, é agendado horário com especialista no próprio município [nos casos em que os especialistas atendem lá mesmo] ou junto ao Conims, conforme demanda de todos os municípios atendidos.
Casos mais urgentes demoram menos do que outros. Maior parte dos municípios informou que as consultas levam entre 30 a 60 dias para ocorrer, dependendo da especialidade. Em alguns casos, o atendimento é bem mais rápido.
Onde os especialistas atendem?
Com exceção da população de Pato Branco e Palmas — ambos municípios que deixaram de participar do Conims em 2009 –, quando uma consulta é agendada, os pacientes são encaminhados para um especialista que integra o quadro de profissionais do consórcio.
Normalmente essas consultas ocorrem em Pato Branco, Chopinzinho e Coronel Vivida. Porém, em casos mais específicos ou graves, pacientes são encaminhados para médicos em Francisco Beltrão e Palmas, ainda no Sudoeste, e, até mesmo, para cidades maiores, como Cascavel, Curitiba, Campo Largo, Ponta Grossa, Maringá e Londrina.
Entenda como funciona o consórcio
Conforme a secretária-executiva do Consórcio, Ivete Lorenzi, o Conims atende 21 municípios: 13 deles do sudoeste do Paraná e os demais de Santa Catarina.
Além de sua sede em Pato Branco, ele também possui profissionais diretamente ligados no Centro Regional de Especialidades (CRE), em Chopinzinho; no CAPS AD III, em Coronel Vivida; e no CRE, em São Lourenço do Oeste.
Somadas entre as quatro unidades, o Conims conta com 102 médicos, distribuídos entre 26 especialidades, sendo que esses profissionais atendem cerca de 70% da demanda dos municípios credenciados. Os outros 30% correspondem aos pacientes atendidos diretamente nos próprios municípios.
Segundo levantamento feito pelo Diário, com exceção de Honório Serpa, todos os demais da microrregião de Pato Branco têm algum especialista atendendo no próprio município.
Ivete explica que boa parte dos 30% dos especialistas, que atendem nos municípios, é contratada via Conims. Em algumas situações, as próprias prefeituras realizam a contratação.
Para o custeio dos profissionais que atuam por meio do Conims, ela acrescenta que a maior parte dos recursos é oriunda de cada um dos municípios consorciados, sendo que neste ano, até o momento, 89,48% desse valor compreende as prefeituras, 1,49% ao repasse do Governo do Estado; e 9,04%, do Governo Federal.
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