Vacina foi disponibilizada pela primeira vez em 1955 e foi responsável por erradicar doença no país
Em meio à queda na cobertura de vacinação contra a poliomielite nos países da América, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) disse que Brasil, República Dominicana, Haiti e Peru correm um risco muito alto de reintrodução da doença. O anúncio foi feito na última quarta-feira (21), quando a vacinação estava em um patamar de 79%, o menor desde 1994.
A poliomielite, que pode se espalhar rapidamente entre comunidades com cobertura vacinal insuficiente, não é uma doença tratável, mas é totalmente evitável com vacinas. No entanto, atualmente, a cobertura vacinal caiu abaixo de 80% em quase toda a América do Sul e 12 países da região correm risco alto ou muito alto de sofrer um surto, entre eles o Brasil.
Entenda a doença
Também chamada de paralisia infantil, essa é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes.
Os sintomas podem variar de acordo com a gravidade da infecção. Em alguns casos, a pessoa pode não apresentar sintomas ou ter sintomas parecidos com os da gripe, como dor de garganta, cansaço, dor de cabeça, febre, náuseas e vômitos e mal-estar geral. Em 95% dos casos, esses sintomas desaparecem após cinco dias sem a necessidade de tratamento específico.
Contudo, nos casos mais graves esses sintomas podem se estender para febre alta, fraqueza muscular, dor ou rigidez nos braços ou nas pernas, dor intensa nas costas, pescoço e nos músculos,
paralisia de uma ou das duas pernas, flacidez muscular, dificuldade para urinar, dificuldade para falar e engolir, rigidez na nuca, espasmos musculares e até levar à morte.
Erradicação
A poliomielite o mundo todo durante a primeira metade do século 20, e afetou principalmente crianças menores de cinco anos. O índice mostra que cerca de uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível e, entre esses pacientes, até 10% morrem.
Depois de um grave surto nos anos de 1980, uma ampla cobertura vacinal fez com que o Brasil ganhasse o certificado de erradicação em 1994.
O problema é que a doença, que não tem tratamento, depende que as pessoas sejam vacinadas para permanecer erradicada no país. No entanto, a baixa cobertura vacinal nos últimos anos preocupa especialistas, já que o Brasil não atinge metas da vacinação infantil e tem taxas abaixo da média mundial desde 2015, sendo que apenas 68% dos bebês receberam a terceira dose da vacina em 2021.
Campanha
A campanha nacional de vacinação contra a poliomilete, este ano, teve início em 8 de agosto e previsão de seguir até dia 9 de setembro, mas a baixa procura fez com que o Ministério da Saúde prorrogasse a iniciativa até o próximo dia 30.
Conforme dados divulgados no dia 6 de setembro, faltando apenas três dias para o fim do prazo antes da prorrogação, apenas 35% das crianças na faixa etária de 1 a menores de 5 anos de idade tinham sido imunizadas, com cerca de 4 milhões de doses aplicadas. O objetivo da campanha é alcançar uma cobertura vacinal igual ou maior que 95% para a vacina contra poliomielite neste público, além de reduzir o número de não vacinados de crianças e adolescentes menores de 15 anos e aumentar as coberturas vacinais, conforme o Calendário Nacional de Vacinação.
As primeiras doses do imunizante devem ser aplicados aos 2, 4 e 6 meses de idade, via injeção intramuscular. Essas três injeções da vacina fornecem quase 100% de imunidade. Após, é necessário a aplicação da dose de reforço, que acontece por meio da conhecida gotinha, em crianças menores de 5 anos.
- A poliomielite afeta principalmente crianças com menos de cinco anos de idade.
- Uma em cada 200 infecções leva a uma paralisia irreversível (geralmente das pernas). Entre os acometidos, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios.
- Os casos de poliomielite diminuíram mais de 99% nos últimos anos: dos 350 mil casos estimados em 1988 para 29 casos notificados em 2018.
- Enquanto houver uma criança infectada, crianças de todos os países correm o risco de contrair a poliomielite. Se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200 mil novos casos no mundo, a cada ano, dentro do período de uma década.
- Na maioria dos países, os esforços mundiais ampliaram as capacidades para combater outras doenças infecciosas, construindo sistemas eficazes de vigilância e imunização.
- O Brasil recebeu o certificado de eliminação da pólio em 1994. No entanto, até que a doença seja erradicada no mundo (como ocorreu com a varíola), existe o risco de um país ou continente ter casos importados e o vírus voltar a circular em seu território. Para evitar isso, é importante manter as taxas de cobertura vacinal altas e fazer vigilância constante, entre outras medidas.
Em qual ano o país notificou o último caso de pólio?
Pólio nos EUA
Entre o vírus da covid-19 ainda ceifando cerca de 4 mil vidas por semana nas Américas e os casos de varíola dos macacos aumentando, o vírus da pólio foi agora detectado entre as comunidades não vacinadas em Nova York. E, embora os Estados Unidos tenham dado uma rápida resposta de saúde pública após a detecção, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, disse à imprensa que não esperava mais ver o vírus naquela região. Diante disto, pediu aos países que reforcem urgentemente a vigilância e as campanhas de vacinação de rotina.
“Passaram-se quase 30 anos desde que as Américas se tornaram a primeira região global a eliminar a pólio por poliovirus selvagem, mas as taxas de vacinação decrescentes, agravadas pela pandemia da covid-19, deixaram muitas de nossas populações desprotegidas”, avaliou.
A OPAS se prepara para se reunir com os Ministros da Saúde na Conferência Sanitária Pan-Americana, e destacou a oportunidade de discutir os desafios para garantir que os acordos avancem.
Para ela, este evento não é apenas uma chance de olhar para trás e aprender com o passado, mas também uma oportunidade de olhar para o futuro com uma visão mais equitativa, “na qual trabalhamos juntos para melhorar a saúde para todos”, disse.