Os deuses africanos, conspirando para que a geometria encontrasse a religião, fizeram nasceu a exposição Cosmogonia dos Símbolos, que o escultor Emanoel Araújo abriu no sábado, 26, em duas capitais simultaneamente, São Paulo e Curitiba, ocupando as duas sedes da Galeria Simões de Assis, que passa a ter a representação exclusiva do artista. Na primeira, ele tem como parceiro o pintor, também baiano, Rubem Valentim (1922-1991). Valentim, hoje um nome disputado por colecionadores, deixou, ao morrer, telas e desenhos inacabados dedicados à mulher, Lúcia Alencastro Valentim, pioneira em arte-educação no Brasil. Algumas delas foram incorporadas às obras escultóricas de Emanoel, que promoveu a pintura de Valentim quando dirigiu a Pinacoteca.
“Em trabalhos que mostro em São Paulo, essas pinturas e desenhos inacabados estão presentes”, revela Emanoel, apontando afinidades entre sua escultura e a pintura de Valentim. Um sobrinho do pintor, temendo que essas obras inacabadas fossem eventualmente colocadas no mercado de modo inidôneo, presenteou-as ao escultor, um dos primeiros a reconhecer a importância e a estatura de Valentim quando montou a histórica exposição A Mão Afro-Brasileira, em 1988, e, depois, a mostra Arte e Religiosidade no Brasil – Heranças Africanas (1997).
Emanoel conta que, até 1977, a questão religiosa apenas tangenciava suas esculturas abstratas marcadas pelo construtivismo. Os temas geométricos, segundo a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, autora de um ensaio sobre o artista no catálogo da exposição, eram reforçados por um cromatismo pan-africano devedor das tradições religiosas – o vermelho, o preto e o verde, cores características dos orixás. Emanoel admite que, após sua participação na segunda edição do Festac (Festival Mundial de Arte e Cultura Africana), realizada em 1977 , na Nigéria, seu trabalho passou a fomentar esse diálogo. “Fui entrando aos poucos no universo do candomblé”.
Rubem Valentim, quase 20 anos mais velho, já era iniciado no candomblé ao desembarcar no Rio vindo da Bahia. Marcado pela linguagem dos neoconcretos – especialmente os metaesquemas de Oiticica -, ele, que era um pintor figurativo, abandonou a figuração e adotou esquemas geométricos extremamente simplificados. No entanto, seu construtivismo não abjura a forte ligação com o universo afro-brasileiro. Um dos mais frequentes símbolos que aparece nessa pintura é, por exemplo, o machado de Xangô. Outra referência forte, traduzida numa obra de Valentim apresentada na 16ª. edição da Bienal de São Paulo, realizada justamente em 1977, ano da “iniciação de Emanoel, é o Templo de Oxalá, conjunto de relevos e objetos emblemáticos brancos que inspiraram muito a escultura do diretor do Museu Afro-Brasil.
“Essas obras que faziam referência à cosmogonia afro assustavam as pessoas e não vendiam”, reconhece Emanoel. “Valentim ficou muito sensibilizado quando escolhi uma dessas pinturas totêmicas suas como cartaz da mostra A Mão Afro-Brasileira”, conta o escultor, que preparava há tempos uma série dedicada à cosmogonia dos deuses africanos. Doze dessas esculturas foram perdidas no incêndio que destruiu valiosas obras de arte em março deste ano, num galpão do grupo Alke, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Emanoel não desistiu. E preparou novas obras para a recente exposição em que retoma a questão simbólica com a ajuda da leitura de Pierre Verger (1902-1996). A mitologia iorubá é referência para contar como os deuses forjaram o mundo conforme o conhecemos. Essa história é representada em três diferentes séries de Emanoel Araújo em São Paulo. Para a sede da Galeria Simões de Assis em Curitiba, diz ele, reservou apenas esculturas geométricas.
“Em trabalhos que mostro em São Paulo, essas pinturas e desenhos inacabados estão presentes”, revela Emanoel, apontando afinidades entre sua escultura e a pintura de Valentim. Um sobrinho do pintor, temendo que essas obras inacabadas fossem eventualmente colocadas no mercado de modo inidôneo, presenteou-as ao escultor, um dos primeiros a reconhecer a importância e a estatura de Valentim quando montou a histórica exposição A Mão Afro-Brasileira, em 1988, e, depois, a mostra Arte e Religiosidade no Brasil – Heranças Africanas (1997).
Emanoel conta que, até 1977, a questão religiosa apenas tangenciava suas esculturas abstratas marcadas pelo construtivismo. Os temas geométricos, segundo a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, autora de um ensaio sobre o artista no catálogo da exposição, eram reforçados por um cromatismo pan-africano devedor das tradições religiosas – o vermelho, o preto e o verde, cores características dos orixás. Emanoel admite que, após sua participação na segunda edição do Festac (Festival Mundial de Arte e Cultura Africana), realizada em 1977 , na Nigéria, seu trabalho passou a fomentar esse diálogo. “Fui entrando aos poucos no universo do candomblé”.
Rubem Valentim, quase 20 anos mais velho, já era iniciado no candomblé ao desembarcar no Rio vindo da Bahia. Marcado pela linguagem dos neoconcretos – especialmente os metaesquemas de Oiticica -, ele, que era um pintor figurativo, abandonou a figuração e adotou esquemas geométricos extremamente simplificados. No entanto, seu construtivismo não abjura a forte ligação com o universo afro-brasileiro. Um dos mais frequentes símbolos que aparece nessa pintura é, por exemplo, o machado de Xangô. Outra referência forte, traduzida numa obra de Valentim apresentada na 16ª. edição da Bienal de São Paulo, realizada justamente em 1977, ano da “iniciação de Emanoel, é o Templo de Oxalá, conjunto de relevos e objetos emblemáticos brancos que inspiraram muito a escultura do diretor do Museu Afro-Brasil.
“Essas obras que faziam referência à cosmogonia afro assustavam as pessoas e não vendiam”, reconhece Emanoel. “Valentim ficou muito sensibilizado quando escolhi uma dessas pinturas totêmicas suas como cartaz da mostra A Mão Afro-Brasileira”, conta o escultor, que preparava há tempos uma série dedicada à cosmogonia dos deuses africanos. Doze dessas esculturas foram perdidas no incêndio que destruiu valiosas obras de arte em março deste ano, num galpão do grupo Alke, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Emanoel não desistiu. E preparou novas obras para a recente exposição em que retoma a questão simbólica com a ajuda da leitura de Pierre Verger (1902-1996). A mitologia iorubá é referência para contar como os deuses forjaram o mundo conforme o conhecemos. Essa história é representada em três diferentes séries de Emanoel Araújo em São Paulo. Para a sede da Galeria Simões de Assis em Curitiba, diz ele, reservou apenas esculturas geométricas.
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