A onda de prisões de políticos e líderes da sociedade civil sob acusações de subversão deixa Ortega concorrendo praticamente sem oposição nas eleições de novembro. Nesta terça-feira, 8, os EUA qualificaram a Nicarágua de “ditadura” e responderam à repressão sancionando quatro funcionários do governo, incluindo uma de suas filhas, Camila Antonia Ortega Murillo, e o presidente do Banco Central, Leonardo Ovidio Reyes Ramírez.
As sanções contra dezenas de outras autoridades nicaraguenses nos últimos anos, no entanto, não reduziram a repressão. Ontem, chegou a vez de colocar na cadeia o ex-chanceler José Pallais, membro do bloco opositor Coalizão Nacional, que foi acusado de “incitar a interferência estrangeira em assuntos internos e financiamento de atos de terrorismo”.
Os delitos imputados a Pallais e aos outros seis detidos estão contemplados na lei de defesa e soberania, apresentada pelo governo de Ortega e aprovada em dezembro. Ontem, também foram presos Juan Sebastián Chamorro García – primo de Cristiana Chamorro Barrios, outra pré-candidata que foi detida no início do mês – e Félix Maradiaga.
A comunidade internacional reagiu, exigindo a libertação imediata de todos. Maradiaga seria o candidato à presidência da coalizão Unidade Nacional Azul e Branco e Chamorro García, da Aliança Cidadãos pela Liberdade, mas nenhum deles havia oficializado sua candidatura, já que o período de registro é entre 28 de julho e 2 de agosto.
Quem também está preso é o ex-diplomata e aspirante à presidência Arturo Cruz. Ele foi detido no sábado, 5, depois de retornar de uma viagem aos EUA. Maradiaga, Chamorro García e Cruz são investigados por “atos contra a soberania e terrorismo, que prejudicam a independência, por incitar a interferência estrangeira nos assuntos internos e pedir intervenções militares”, segundo a polícia.
Na terça-feira, foram presos o empresário José Aguerri e a líder da sociedade civil Violeta Granera, ambos investigados pelas mesmas acusações. A ofensiva contra os opositores começou há uma semana com a detenção de Cristiana Chamorro, que está em prisão domiciliar. Ela não pertence a nenhum partido, mas aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Ortega.
De acordo com adversários, o presidente buscará um quarto mandato sucessivo, embora ainda não tenha oficializado a candidatura. Muitos consideram Cristiana, filha da ex-presidente Violeta Chamorro, a maior esperança de derrotar Ortega.
A opositora é acusada de fraude e lavagem de dinheiro por meio da fundação que levava o nome da sua mãe, que derrotou Ortega nas urnas e governou a Nicarágua de 1990 a 1997. A fundação de Violeta Chamorro encerrou suas operações em fevereiro, depois que uma lei aprovada pelo Congresso, de maioria governista, intensificou os controles sobre as contribuições que as ONGs recebiam do exterior. O governo considera a ajuda como interferência externa na política interna do país.
Ontem, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, exigiu a libertação de todos os detidos e “o fim da perseguição e da opressão da ditadura de Daniel Ortega”. “A Nicarágua caminha para a pior eleição possível em razão da falta de garantias para realizar um processo livre, justo e transparente”, disse.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, por meio de seu porta-voz, também criticou as prisões. “Guterres está muito preocupado com as recentes detenções e com a invalidação de candidaturas de líderes da oposição”, disse Stéphane Dujarric. “Esses acontecimentos podem minar a confiança do público no processo democrático.” (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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