Dom Edgar Xavier Ertl
Comecemos perguntando-nos: a origem da desigualdade social, é teológica, cultural, política ou econômica? Deixemo-nos guiar pelo evangelista S. Mateus (cf. Mt 20,1-16), quando Jesus conta-nos a parábola dos diaristas da vinha, ou seja, homens convidados pelo proprietário da vinha que contrata trabalhadores para a vindima em cinco horários diferentes e paga-os todos com mesma quantia “um denário ao dia”.
Fazendo referência a esta parábola, comenta o teólogo espanhol José Antônio Pagola: “Segundo esta história, o dono da vinha foi pessoalmente para a praça da cidade assumir diversos grupos de trabalhadores, em diferentes momentos do dia. Surpreendentemente, embora os trabalhadores tenham levado adiante trabalhos bastante desiguais na vinha, o proprietário paga a todos com um denário: quantia considerada suficiente para uma família de camponeses na Galileia viver um dia. E continua: “O patrão não fica pensando nos méritos de um ou de outro, mas quer que todos possam jantar naquela noite.”
Ao concluir o serviço começa o pagamento pelos que tinham sido contratados às cinco horas da tarde. Todos receberam o prometido. O gesto causou desgosto: os mesmos direitos do que trabalharam o dia todo e sob forte calor. Resposta do contratante: “Amigo, não te faço injustiça. Não foi esta a diária que acertaste comigo? Quero dar também ao último o mesmo que a ti. Não posso fazer com os meus bens o que eu quero? Ou me olhas com inveja por eu ser bom?”.
Lições da Parábola
Esse homem sai pessoalmente à praça para contratar vários grupos de trabalhadores. Os primeiros, às seis da manhã, outros às nove, mais tarde ao meio dia e às três da tarde. Os últimos são contratados às cinco da tarde, quando só falta uma hora para terminar a jornada. Sua conduta é estranha. Não parece motivado pela vindima. O que quer é que aquelas pessoas não fiquem sem trabalho. Por isso, sai inclusive na última hora para dar trabalho àqueles que ninguém chamou. E por isso, no final da jornada, dá a todos o denário que necessitam para jantar nessa noite, mesmo aqueles que não o mereceram. Quando os primeiros protestam, esta é a sua resposta: “Vão ter inveja porque sou bom?”. O que está Jesus sugerindo? Será que Deus não atua com os critérios de justiça e igualdade que nós utilizamos? Seria verdade que, mais do que estar medindo os méritos das pessoas, Deus procura responder às nossas necessidades?
A parábola se desenrola na época da colheita da uva. Estão maduras e a rapidez obriga o maior número possível de trabalhadores. Um agricultor costuma receber por um dia de serviço o tanto para alimentar sua família no dia seguinte. Se de manhã ele não for contratado no dia seguinte seus filhos irão passar fome. Os trabalhadores da primeira hora exigem um salário justo? Um denário não era pouco. O mesmo valor para horas trabalhadas tão díspares? É desumano? Toda e qualquer sociedade, mesmo que a pior das sociedades escravocratas sobrevive se assegurar pelo menos certo grau de justiça. Do contrário, a sociedade se esfacela.
Cooperar, um apelo a trabalhar para o bem comum
O Evangelho nos deixa um apelo a trabalhar pelo bem comum como critério de ação moral e social, como objetivo inspirador de cada lugar, município, estado a cooperar a fim de garantir a existência pacífica e a segurança de todos, num espírito de igual dignidade e solidariedade efetiva, e dentro de um sistema jurídico baseado na justiça e na busca de compromissos equitativos. Devemos nos esforçar, construindo um novo modelo de desenvolvimento e enfrentando a injustiça e a degradação social e não teologizar a desigualdade social como querida e legitimada por Deus.
Dom Edgar Xavier Ertl – Bispo Diocesano
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