Os exageros que não suportamos mais

            Apesar de tantos e tantos sucessos efêmeros conquistados nas últimas décadas, percebemos claramente que os seres humanos estão de mãos dadas com a incerteza, com a vulnerabilidade da vida por um fio e tantas outras questões menores que os aflige, ora mais, ora menos; por outras palavras, a existência corre enorme perigo, devida única e exclusivamente por parte do ser humano. Nosso texto de hoje faz eco a Leonardo Boff, que dias atrás publicou um instigante artigo sobre a falta da justa medida nos dias atuais entre os seres humanos. Por todos os lados enxergamos e presenciamos exageros, os mais estapafúrdios imagináveis e também aqueles inimagináveis até pouco tempo atrás e que agora parecem ser a regra adotada; muitos, não todos aderiram sem pestanejar à “hybris” conceito tão antigo e tão em voga agora, dos menores aos maiores, tudo é feito para brilhar.

            Um exagero que dói na alma de muitos é o gasto na corrida armamentista, uma aventura que sempre revelou que no final de qualquer embate bélico jamais há vencedores e vencidos, por outra via, todos sem exceção perdem; não é um gasto qualquer, os promotores das diversas guerras que estão acontecendo mundo afora, não fazem nenhuma cerimônia quando anunciam bilhões de dólares para aperfeiçoarem suas forças armadas, dinheiro esse oriundo na sua grande maioria do povo trabalhador, que paga seus impostos e veem que em outros setores essa ajuda econômica chega a conta gotas. Até onde se sabe hoje, apenas nove países possuem armas nucleares, armas destruição em massa que podem vir a por fim em todas as formas de vida existentes; aí ficamos chocados com essa triste realidade, se o mundo fosse um banco com todo certeza ele já teria sido salvo.

            Outro exagero muito perceptível em nosso tempo, é a força humana descomunal colocada contra a natureza, força essa que por onde passa muda tudo, chamamos a isso de uma nova era geológica chamada antropoceno, esse não respeita nenhum espaço natural, passa por cima de todos os limites, altera drasticamente aquilo que se levou milhares ou até milhões de anos para se formar; a vida com a entrada em massa do antropoceno, viu criar ao redor de si uma extensa rede de complexidade jamais vista antes. O antropoceno como está hoje definido, não aceita retrocessos na caminhada humana, vai contra qualquer expressão que tenta limitar os abusos, nele podemos notar com clareza que o desenvolvimento deve seguir seu curso a ferro e fogo, que a natureza está aí para ser explorada sem dó; ele só conhece a força como motor da sua atividade insana e rude.

As redes sociais são outro exagero do nosso tempo, elas funcionam sem parar, informam desmedidamente, tanto para o lado bom, quanto para o lado ruim, até uns anos atrás vivíamos uma vida pacata, sem grandes aspirações por novidades, já com a introdução das redes sociais em nosso cotidiano, elas viraram nosso mundo até então com contorno paroquial, de pernas para o ar; os antigos televisores e rádios não desapareceram, apenas ficaram para trás, abrindo um enorme campo para diversas redes “sociais”, quantas delas já nasceram e morreram logo em seguida? Vieram outras cada vez mais potentes, esperteza incomum entre elas, deixando assim uma parcela enorme de consumidores desavisados, vulneráveis a todo tipo de ataque, quantas certezas foram demolidas pelas redes sociais? Quantas reputações foram esmagadas por elas? Precisamos tomar cuidado.

Bioeticamente, a era dos exageros que nos atormenta tanto, precisa ser melhor avaliada, estudada e menos glorificada, afinal ela não é tudo isso, já está provado que os atuais exageros não são solução para a resolução dos problemas hoje, a humanidade dá mostras que esqueceu a arte do diálogo, do encontro, busca a todo custo resolver suas questões de forma violenta, usando cada vez mais armas letais contra populações indefesas e miseráveis, nossa combalida democracia parece perdida e sem voz no meio de tantos que levantam os punhos bradando para todos os lados que a luta é a melhor solução, de fato a luta é a melhor solução mas desde que pautada por ideias, conversas sérias e sem intenções dúbias; os pretensos senhores do mundo de hoje precisam baixar as suas cristas, ouvirem mais, estarem sim mais próximos dos seus e falarem menos de si.

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