Fernando Ringel
Formado em 2009 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS representam 46% da população mundial. Não se trata de um bloco formal como a União Europeia, onde há necessariamente obrigações econômicas de longo prazo, mas uma espécie de clube em que os membros são independentes, mas dão preferência para negociar entre si. E parece que a coisa vem dando certo: de acordo com pesquisa divulgada no último dia 24, a Bloomberg, famosa por seus boletins sobre o mercado financeiro, apontou que o BRICS deve alcançar 35% da economia global até 2028.
Como dinheiro atrai dinheiro, muita gente começa a olhar com mais carinho para o Banco de Desenvolvimento (NDB), o “Banco do BRICS”, atualmente presidido por Dilma Rousseff. Esse é o caso do Irã, que procura formas de minimizar os efeitos das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, e da Argentina, que ao ingressar no grupo poderia evitar futuros empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Porém, entre os interessados há exceções para lá de ricas, como a Arábia Saudita, maior produtor de petróleo no mundo e aliada fiel dos americanos, além dos Emirados Árabes, que em seu território tem simplesmente Abu Dhabi e Dubai!
Enfim, a ideia de ampliação agrada à China, mas não ao Brasil.
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No popular, o BRICS é um grupo formado por quem não tem dinheiro para o luxo, mas que se junta e faz a sua própria festa. Sendo assim, quanto mais gente aparecer, mais popular aparenta ser o dono da festa, não é? É exatamente essa a posição da China nisso tudo. Por seu poder econômico, naturalmente tem protagonismo, e ao tentar admitir mais países no grupo, visa aumentar a sua influência no mundo. A Rússia apoia porque, como “melhor amiga do dono da festa”, tenta pegar carona nos planos chineses.
O Brasil não é favorável à expansão porque assim, obviamente, nossos poderes perderiam peso dentro do grupo. A proposta será debatida em junho, na África do Sul, e será empurrada para o futuro porque, como sempre acontece nesses casos, é muita gente diferente junta e cada um tem seus próprios objetivos. É como no velho Movimento dos Países não Alinhados (MNA), que se dizia independente, mas que tinha entre seus membros, por exemplo, o Brasil, declaradamente aliado aos Estados Unidos, e Cuba, país orgulhoso de sua relação com a extinta União Soviética. Aí fica a pergunta: movimento dos países independentes do que mesmo? Coisas da política…
É como disse certa vez um primeiro-ministro inglês, chamado Lord Palmerston: “a Inglaterra não tem amigos eternos nem inimigos perpétuos. A Inglaterra tem eternos e perpétuos interesses”. Isso explica muita coisa, como o motivo de, por exemplo, até hoje não existir uma ponte que ligue a África à Europa pelo estreito de Gibraltar. É simples: não há interesse econômico ou político. Existem dificuldades técnicas, mas se foi possível construir um túnel por baixo do oceano, entre França e Inglaterra, sem falar nas tentativas de exploração de Marte, por que não se constrói uma ponte de apenas 14 km de extensão ligando o Marrocos à Espanha? E se o Primeiro Mundo não tem motivos para isso, pode-se censurar a China, ou seja lá quem for, se um dia alguém enxergar nisso uma oportunidade de crescimento e fazer a obra?
O mundo muda o tempo todo e é normal que países e associações como o BRICS venham e vão, mas enquanto for produtivo para os envolvidos, como o Brasil, é seguir no baile como naquela antiga música: “que seja eterno enquanto dure este amor, que dure para sempre”.
Professore e comunicador
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