Quando a covid-19 se abateu sobre a economia, as casas do grupo Turn The Table – como o bar O Pasquim e a Vero! Coquetelaria – vinham de um crescimento de 18% no faturamento do primeiro bimestre de 2020, ante o início de 2019, lembra Humberto Munhoz, sócio da empresa. No fim das contas, porém, o faturamento tombou cerca de 60% no ano passado. A sangria continua este ano. A receita dos quatro primeiros meses já foi em torno de 50% abaixo de igual período de 2020.
O setor de bares e restaurantes é um dos mais atingidos pela pandemia. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel), cerca de 350 mil bares e restaurantes encerraram atividades no País nos 12 meses encerrados em abril – 50 mil fecharam apenas no primeiro trimestre de 2021. Cerca de 1 milhão de empregos foram cortados.
“Este ano está sendo pior”, afirma Munhoz, que foi obrigado a demitir cerca de 40 funcionários no início de fevereiro. “Entre fechar a empresa e demitir funcionários, decidimos sacrificar um batalhão, mas não perder o exército”, compara o empresário.
Segundo Munhoz, o grupo sobreviveu 2020 sem demissões por causa da gestão disciplinada. Os sócios renegociaram o aluguel, contratos com fornecedores e prestadores de serviços. Gastaram o caixa e aproveitaram as medidas oferecidas pelo governo. O relaxamento das restrições ao funcionamento, no segundo semestre, deu um alívio, mas a segunda onda da pandemia encontrou o grupo no limite. Novas demissões poderão ser necessárias se a covid-19 demorar a ser controlada.
A gestão disciplinada também ajudou a Club Fisio, rede de clínicas de fisioterapia de São Paulo. Em 2020, a empresa demitiu 12 funcionários e viu seu faturamento tombar 30%. Isso depois de um início de 2020 promissor, com planos de abertura da quarta unidade, diz o sócio Raphael Baptista de Camargo. Nos primeiros meses de pandemia, a Club Fisio renegociou ou cortou gastos fixos, como a mensalidade de TV a cabo, os honorários do contador e o aluguel.
Com o passar do tempo, as atividades foram sendo retomadas, e a rede conseguiu recontratar três profissionais ainda no ano passado. Agora, vem enfrentando melhor a segunda onda da pandemia. Inaugurou a quarta filial em janeiro e voltou a contratar, incluindo três fisioterapeutas. “A crise fez com que a gente tivesse mais controle das despesas fixas do negócio. O aprendizado maior foi valorizar os clientes”, afirma Camargo.
Caminho oposto
Se negócios que requerem contato pessoal sofreram mais, serviços baseados em tecnologia aproveitaram o período para crescer. O setor financeiro como um todo conseguiu crescer em 2020.
A corretora Ativa Investimentos viu a receita saltar em 83% no acumulado em 12 meses até março. Para dar conta do crescimento, contratou 52 funcionários durante a pandemia, diz Sylvio Fleury, diretor de relações com o mercado.
Uma mudança estrutural ajudou esse movimento: os juros básicos da economia chegaram a 2% em 2020, patamar mínimo histórico. Apesar das recentes altas na Selic, o porcentual segue baixo, em 3,5% ao ano. Isso obriga investidores a buscar alternativas de maior rentabilidade, e muitos recorreram às corretoras e plataformas independentes. No primeiro trimestre de 2021, o número de pessoas físicas na Bolsa atingiu 3,5 milhões, ante 1,7 milhão em 2019.
Os serviços imobiliários também fecharam no azul em 2020. A Block Imóveis, administradora que atua na zona oeste do Rio, havia começado 2020 “muito bem”, segundo um dos diretores, André Toledo. Até que a pandemia “veio como um balde de água fria”, diz ele.
“Mas, para a nossa surpresa, mesmo em março e abril, trabalhando em home office, fizemos vendas. Em maio, o negócio começou a voltar à normalidade. Em junho e julho, as vendas começaram a aumentar muito”, afirma Toledo.
A imobiliária contratou cinco funcionários e oito corretores. As vendas deste início de ano estão 30% acima das registradas no início de 2020. Para Toledo, a queda da taxa do crédito imobiliário também ajuda a impulsionar os negócios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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