A pesquisa – realizada pelo Instituto para a Economia e Paz (IEP, na sigla em inglês) – monitora e classifica o status da paz em 163 países e territórios, identificando onde os conflitos estão aumentando e diminuindo e os fatores que influenciam a mudança. A 15.ª edição do GPI registrou uma deterioração da paz global de 0,07% com relação a 2019.
O cálculo é feito com base em três domínios: nível de proteção e segurança social, a extensão do conflito interno e internacional em andamento e o grau de militarização dos países.
Embora tenha havido uma calmaria inicial no início da pandemia, até em razão das medidas sanitárias restritivas, os distúrbios voltaram a crescer ao longo do ano. Segundo um dos diretores do IEP, Serge Stroobants, dos 50 mil episódios violentos registrados no ano passado, 5 mil estavam relacionados à pandemia. Ainda que não tenha sido a única causa, foi um dos principais fatores da agitação social no mundo.
“Na Europa, ficou claro que muitas demonstrações estavam ligadas às restrições das liberdades individuais e à vacinação, se seria ou não obrigatória, ou se estava ocorrendo rápido ou não”, disse Stroobants em entrevista ao Estadão.
O relatório destaca alguns casos, como na Holanda, onde o toque de recolher imposto pelo governo provocou os piores protestos no país em 40 anos.
Espanha, Itália, Alemanha e Irlanda também registraram violentas manifestações antibloqueio. Mas nem todos os protestos foram causados pelo lockdown. Em alguns países, a resposta negligente dos governos, segundo o GPI, tornou-se um gatilho para manifestações. “Em Belarus, a recusa do governo em reconhecer a gravidade da pandemia e o impacto no sistema de saúde impulsionaram a agitação civil”, aponta o relatório.
Da mesma forma, tumultos eclodiram no Chile, após um aumento na taxa de desemprego, e no Líbano, diante da falta de apoio econômico do governo. Por outro lado, segundo o IEP, a pandemia foi usada como pretexto para a repressão em alguns países. Na Rússia, vários dissidentes foram presos por violar medidas de saúde pública ligadas à covid-19.
Centenas de pessoas também foram processadas por espalhar informações falsas sobre a pandemia. “No Egito, equipes médicas foram detidas com base na lei de terrorismo por falar sobre a falta de equipamento de proteção individual e de exames de covid-19. Na Índia, a polícia prendeu um oncologista por postar fotos de equipes médicas usando capas de chuva por falta de equipamento de proteção individual.”
“A covid-19 colocou uma lupa em problemas que não foram solucionados nos últimos dez anos e multiplicou esses fatores. A crise econômica que surge com a pandemia deve acentuar isso”, avalia Stroobants.
O diretor do IEP explica que se trata de tendências já observadas antes da pandemia, pelo menos nos últimos dez anos, que se intensificaram com a situação extrema criada pela crise: pobreza, confinamento, ataques racistas, entre outros aspectos. De acordo com o relatório, pelo menos 158 países registraram um ou mais incidentes violentos com essa característica. “É um elemento-chave no nosso índice este ano.”
Ranking
Segundo o relatório, o nível médio da paz global deteriorou-se – a nona vez em 13 anos que há uma queda do índice. No ranking de 163 países, a Islândia ocupa a primeira posição, desde 2008, seguida por Nova Zelândia, Dinamarca, Portugal e Eslovênia. Oito dos dez países melhores colocados no ranking ficam na Europa. Pelo quarto ano seguido, o Afeganistão aparece na última posição. À frente estão Iêmen, Síria, Sudão do Sul e Iraque.
Quando se analisa o cenário por regiões, a América do Norte – que na avaliação engloba apenas EUA e Canadá – teve a maior deterioração da paz no último ano, puxada por um aumento nas manifestações violentas e instabilidade política nos EUA.
Brasil
O Brasil ocupa a 128.ª posição no ranking, atrás de Chile (49.º), Equador (88.º) e Bolívia (105º.), mas está à frente da Venezuela (152.º). Não houve variação na posição do Brasil este ano. O País se destacou por ter apresentado o mais alto grau de “medo de violência”, com quase 83% da população afirmando temer ser vítima de um crime violento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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