Os impactos da crise sanitária na mobilidade urbana foram alvo de debate no primeiro painel do dia. Diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) Brasil, Clarisse Cunha Linke avalia que, em diversos lugares do mundo, a covid-19 “deixou claro” o uso de bicicleta como solução de transporte mais sustentável, barato e seguro – já que o deslocamento é feito em área aberta e sem aglomeração. Essa discussão, no entanto, não avançou no mesmo ritmo por aqui, ressaltou a especialista. “Desde a última década, com maior ênfase, a bicicleta já vinha sendo percebida como fundamental às grandes agendas globais, no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável”, afirma. Cidades europeias e da América Latina apresentaram planos para suas malhas cicloviárias e construíram novos corredores.”
Em Nova York, as viagens de bike aumentaram durante o período. Em Berlim, lojas de bicicleta foram consideradas serviços essenciais. Já no Brasil o crescimento do modal até foi observado nas vendas e nos serviços de entrega, mas sem investimento paralelo em infraestrutura. “Aqui, a implantação está muito devagar.”
A segurança pública também foi mencionada pelos especialistas como importante. Enquete realizada pelo Estadão, com cerca de 2,2 mil participantes de todo o País, mostra que 33% das pessoas avaliam que falta ciclovia nas cidades e 30% reclamam de ruas escuras. E as soluções passam por reduzir a velocidade nas vias e ampliar a malha para essas alternativas. “Há espaço excessivo para o carro na cidade, diz Clarisse.
Vizinhos
Os melhores exemplos, diz ela, podem vir de países vizinhos. “Cidade do México, Bogotá, Lima, Quito e Buenos Aires tiraram da prateleira seus planejamentos para daqui a 5 ou 10 anos. Não tiraram só faixa para carro, mas também espaços de estacionamentos. É importante olhar para os nossos hermanos, aconselha.
Especialistas lembram que os modais ativos e compartilhados devem estar integrados com ônibus e metrô. Diretor-presidente da ViaQuatro e ViaMobilidade, Francisco Pierrini lembra que, no primeiro pico da pandemia, em 2020, o número de passageiros caiu 80% no Metrô de São Paulo – o que, segundo ele, “contribuiu para o aumento da mobilidade ativa”. “A gente acredita muito na mobilidade humana, é um modelo que veio para ficar”.
Ele diz ser preciso “caminhar no sentido da smart city, com a mobilidade ativa para que as pessoas cheguem aos metrôs de alta capacidade. Ele acredita que a mobilidade vai se transformar no pós-pandemia. “Vai mudar em função do alto índice de home office, das empresas que não têm mais os espaços físicos de antes. E as empresas devem se adequar.”
Pagamento de tarifas
No segundo painel, “O desafio do transporte coletivo: como integrar a bilhetagem e a carteira digital no transporte”, especialistas advertiram que as novas alternativas de pagamento de tarifa, com meios eletrônicos e cartões bancários em crescimento, precisam pensar na inclusão social, uma vez que parte dos usuários não tem conta bancária ou acesso a meios digitais. Especialista em Transporte do Banco Mundial, Ana Waksberg Guerrini avalia que as inovações devem ter dois objetivos: facilitar o acesso dos usuários, principalmente os de baixa renda, e incentivar o transporte limpo. “E não há outra forma, a não ser penalizando s que usam o transporte individual.
Com a explosão de delivery e a busca por alternativas de lazer em meio ao isolamento social, especialistas apontam o crescimento do interesse por motocicletas no Brasil. O assunto foi objeto do terceiro painel do Summit. Segundo o gerente da Honda Motos, Marcos Paulo Monteiro, a queda nas vendas de veículos novos, em 2020, resultou da menor capacidade de produção na pandemia e não de queda na procura. “Chegamos a 2020 com o estoque muito baixo”, afirma. “Na primeira onda da pandemia tivemos a presença muito forte do delivery, para entrega de alimentos ou remédios, uma demanda que a indústria não esperava.”
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