Padre Judinei Vanzeto
O evangelho do Quarto Domingo da Quaresma, na liturgia da Igreja Católica, propõe a mais provocadora de todas as parábolas dos Evangelhos: a parábola do Pai misericordioso e seus dois filhos, terceiro quadro narrativo de Lucas, no capítulo 15, que forma uma unidade literária com a parábola da ovelha perdida e encontrada e da dracma perdida e encontrada.
O episódio se articula em duas cenas. Na primeira os protagonistas são o pai e o filho mais novo e na segunda o pai e o filho mais velho. A nota introdutória é a chave para compreender o conjunto da obra que é uma resposta aos fariseus e escribas: “Então Jesus contou-lhes esta parábola”.
O objetivo da parábola é ressaltar o modo como o pai vive a sua relação com os dois filhos. O que este pai apresentado pelo evangelista Lucas espera dos seus filhos? Esta pergunta o próprio texto responde, porém deixa em aberto o êxito sobre a escolha de vida dos dois filhos: um aceitará a condição de filho e não de a um assalariado? O outro entrará na casa para participar da festa da reconciliação?
“Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. Com esse pedido se inaugura a marcha do filho mais novo para o abismo. Os termos empregados para “herança” e “bens”, segundo os biblistas, são ousía e bíos, que significam “existência” e “vida”. Exigindo sua porção de vida, este filho age como se o seu pai estivesse morto. No entanto, ao se distanciar da casa é ele quem morre aos poucos, como filho e como irmão. Na visão da interpretação bíblica, a descida do filho mais moço é fatal e acentuada pelo advérbio azōtōs, traduzido por “dissolutamente”, mas que em grego significa “sem salvação”.
O mais novo não desperdiçou apenas os seus bens, destruiu-se como pessoa, conhecendo o destino inevitável de quem mergulha de corpo e alma na cultura do provisório. Ele cai em si, não tanto porque é obrigado a comer a comida dos porcos, mas porque não tem ninguém com quem partilhar. É nesse ponto que o jovem recorda, não do pai ou do irmão, mas dos empregados que tinham pão à vontade. Então ensaia um discurso e volta para casa. Volta se arrastando, envolto aos trapos, sem sandálias nos pés, sem o anel no dedo. Volta com cabelos e barba malfeitas. O maltrapilho faz um caminho de arrependimento, dor e sofrimento. Dor por ter deixado a casa do pai, dor por ter envergonhado a família. Volta na pior situação imaginável. Situação está idêntica para quem se afasta de Deus e cai no mundo do pecado.
“Quando ele ainda estava distante, seu pai o viu e teve compaixão”. Essa frase indica que o pai sempre esteve à espera dele. A compaixão do pai desencadeia outros tantos gestos de ternura tudo em função de restituir o filho à sua dignidade humana.
Este pai é o Deus de Jesus Cristo, do qual os fariseus e escribas de ontem e de hoje falam tanto e o escutam pouco. A incapacidade de escutar leva ao murmúrio e a julgamentos precipitados. O filho mais velho é prova disso. A coisa mais óbvia desta parábola, é que em cada um de nós pulsa o coração, ora do filho mais novo, ora do mais velho. Mas na sua Páscoa Jesus nos dá a possibilidade de ter um coração semelhante ao do Pai.
Com qual personagem dessa parábola você, caro leitor, se identifica mais? O Pai das misericórdias sempre o espera para o abraço do perdão. Que a Igreja, de fato, seja esse abraço do Pai misericordioso. Que a sua comunidade de fé seja essa porta aberta da misericórdia e não do julgamento e do ódio. Que essa quaresma transforme os corações dos cristãos e da humanidade para vivencia de uma quaresma com a alegria da Pascoa, o Cristo Ressuscitado! E nessa força aconteça a paz do mundo.
Jornalista, diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti, gestor da Unilasalle/Fapas Polo Coronel Vivida e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR