A nova tecnologia – homologada e aprovada pela Anvisa – ajuda a manter o controle da glicemia no tratamento do diabetes, com maior automatização.
A primeira brasileira adulta a receber uma bomba de insulina automatizada e que chega o mais próximo de um pâncreas artificial — homologado e aprovado pela Anvisa — para o controle do diabetes é de Curitiba. Aos 30 anos de idade, Larissa Strapasson começará a gerenciar o seu diabetes tipo 1 com uma tecnologia inovadora, que faz a leitura do nível de glicose e fornece a insulina automaticamente, conforme a necessidade do paciente, reduzindo os quadros de hipo e hiperglicemias, e mantendo por maior tempo o paciente dentro do alvo de tratamento.
Através de um sensor e transmissor, o sistema recebe os dados de glicose via bluetooth e envia para a bomba. Este dispositivo fica acoplado ao paciente e conectado ao tecido subcutâneo por uma cânula, para que ocorra a infusão de insulina. É possível acompanhar todos os dados do sistema através de um smartphone, além de conseguir compartilhar com até cinco cuidadores.
Para Larissa, a bomba de insulina representa uma mudança de vida. Ela convive com o diabetes há 13 anos, desde os 17, e precisa fazer aplicações com a caneta de insulina cerca de seis vezes ao dia. “Me preocupo 24 horas do dia com os meus níveis de glicemia. Durmo pensando que tenho que acordar e corrigir a glicemia, faço exercícios pensando que tenho que controlar para evitar de ter hipoglicemia, antes de todas as alimentações faço cálculo de carboidrato e da dose que devo aplicar de insulina. O aparelho vai ajudar a reduzir este peso que a doença traz. Já passei por todo tipo de tratamento e nada chegou a este nível de segurança”, informa Larissa, que já havia usado um outro modelo de bomba em 2021.
A escolha por investir nesta nova tecnologia também se deve ao sonho de ser mãe. “A bomba é muito recomendada para atingir os objetivos glicêmicos para quem quer engravidar. Agora estarei mais confiante para realizar este sonho”, conta.
O médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná (SBD-PR), André Vianna, que acompanha o tratamento da Larissa há cinco anos, explica que uma das principais vantagens do aparelho, além dos resultados, é o fato de exigir uma menor ação do paciente para garantir o controle da glicose. Segundo ele, estudos apontam que a maioria dos pacientes que têm Diabetes mantém uma interação média com a doença que gira em torno de 100 vezes ao dia, no que se refere a medição e contagem de carboidratos.
“Com esta tecnologia as interações caem para uma média de 18 vezes ao dia, já que maior parte das decisões em relação a aplicação da insulina são tomadas pelo próprio equipamento, sem a necessidade de interferência do paciente. O algoritmo consegue identificar se e quando a pessoa terá um quadro de hipoglicemia e hiperglicemia, aumentando ou reduzindo as doses de insulina ou até suspendendo se necessário as aplicações de forma automática. Assim, a pessoa que tem diabetes consegue aumentar o tempo no alvo, ou seja, ficar com a glicemia dentro da normalidade e evitar complicações”, explica Vianna que coordena o Centro de Diabetes de Curitiba, localizado no Hospital Nossa Senhora das Graças.
Benefícios para crianças
Já Luiza Vianna, de 11 anos, foi a primeira criança a receber o pâncreas artificial híbrido avançado. A mãe, Giovanna Vianna, conta que a filha tem diabetes tipo 1 desde os 2 anos de idade e acredita que este novo tratamento trará inúmeros benefícios. “Ela terá mais liberdade na hora que de se alimentar, de ir a um aniversário ou de sair com as amigas, por exemplo, tendo em vista que o sistema possibilita um controle muito maior dos níveis glicêmicos. Por outro lado, fico mais tranquila porque poderei acompanhar o tratamento pelo aplicativo no celular”, diz.
O endocrinologista pediátrico, Mauro Scharf, médico responsável pelo tratamento de Luiza, explica que a nova tecnologia pode reduzir muito as complicações do diabetes nas crianças. “Essa nova bomba proporcionará mais qualidade de vida para a criança, que muitas vezes pode errar uma contagem de carboidratos, pode comer alguma coisa inusitada, e a bomba fará automaticamente as pequenas correções necessárias para que a glicose no sangue do paciente permaneça sempre normal, evitando complicações crônicas”, afirma.
Fabricação
O Sistema MiniMed 780 G foi desenvolvido pela multinacional Medtronic e já possui registro na Anvisa desde o ano passado, sendo o primeiro pâncreas artificial híbrido avançado homologado e aprovado pela Anvisa. O novo sistema de bomba de insulina já é utilizado na Europa e começou a ser comercializado no Brasil neste ano e deverá auxiliar muitos pacientes com Diabetes tipo 1 — entre 7 e 80 anos – que precisam de múltiplas doses de insulina por dia para controlar a glicemia.
Segundo André Vianna, com a nova tecnologia, a única preocupação passa a ser com a contagem de carboidratos antes das refeições, mas o cálculo da dose de insulina é realizado pelo próprio aparelho. Caso a contagem de carboidratos esteja errada, o próprio algoritmo do aparelho faz as adaptações necessárias para evitar os altos e baixos de glicemia no sangue.
Para Vianna, o pâncreas artificial híbrido representa um marco na evolução dos tratamentos do diabetes. “Quando apresentamos um sistema de bomba de insulina com esse nível de automatização aos nossos pacientes, a qualidade de vida melhora consideravelmente. Além disso, esse aparelho pode aumentar muito o tempo que o paciente mantém controlada a glicemia, mesmo em pacientes descompensados, evitando complicações crônicas que podem afetar órgãos como olhos, rins, fígado, coração e sistema vascular”, diz o médico endocrinologista.
Importante ressaltar que o sistema automatizado ainda precisa do suporte e acompanhamento do médico endocrinologista, além de orientação de educadores em diabetes, já que o usuário ainda precisa contar carboidratos e manter uma boa alimentação.
Diabetes no Brasil
De acordo com a edição de 2021 do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), o Brasil é o 6º país com o maior número de adultos entre 20 e 79 anos diagnosticados com o diabete mellitus: 16,8 milhões de pessoas. O mundo atingiu, em 2020, a meta prevista para 2030 no número de pessoas com diabetes. Nos dois últimos anos o aumento foi de 16%, segundo dados que integram o novo Atlas do Diabetes, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes.
Atualmente a doença já atinge 537 milhões de adultos, com idades entre 20 e 79 anos, sendo 32 milhões nas Américas do Sul e Central. A previsão é que esse número aumente para 643 milhões em 2030 e 784 milhões em 2045.
Cerca de 10% possuem diabete tipo 1, em que a doença tem caráter autoimune. Ao mesmo tempo, cerca de 90% dos casos, o Diabetes se manifesta como o Tipo 2, que está relacionado ao sobrepeso, obesidade e maus hábitos de vida. Segundo o Atlas, metade dos adultos não recebe diagnóstico, o que dificulta entender a real dimensão da doença.
Os dados mostram ainda o crescimento da doença e colocam o Brasil no ranking entre os países em que há maior prevalência e despesas com tratamento. O custo estimado do diabetes no Brasil é de 42,9 bilhões de dólares, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos, com US$165,3 bi e US$379,5 bi, respectivamente.