Fernando Ringel
O carnaval passou, mas a semana em que o ano realmente começou foi digna dos sambas-enredos mais absurdos. Primeiramente, dentro de um ônibus de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, houve um acidente envolvendo… duas cadeiras de rodas. Irritados, os cadeirantes entraram “em vias de fato”. A coisa mal caiu na internet e já apareceu abusado levantando a dúvida: “para resolver essa briga tem que chamar a polícia ou o Departamento Estadual de Trânsito (Detran)?” Um caso parecido foi registrado em vídeo, no qual um vendedor ambulante, que tem apenas uma perna, persegue um homem pelas ruas de Belém, Pará, enquanto usava a própria muleta para tentar agredi-lo! Para quem duvida, a notícia está no portal Roma News, provando que não é só mulher que faz várias coisas ao mesmo tempo.
Como os políticos são simplesmente “o povo usando terno e gravata”, por motivo semelhante, Simão Peixoto (Progressistas), ex-prefeito de Borba, no Amazonas, que já protagonizou uma luta de MMA contra outro político local, foi preso após ameaçar uma vereadora do município. Entretanto, nem toda confusão acaba virando causo: em Rio Branco, Mato Grosso, o presidente da câmara de vereadores, Jeosafá Moraes de Castro (PSDB), recebeu à bala policiais que cumpriam mandado judicial contra ele e acabou morto. Clima muito pesado também em Juazeiro do Norte, Ceará, onde a presidente da câmara, vereadora Yanny Brena (PL), foi encontrada sem vida, junto ao corpo de seu namorado.
Mas enquanto o povo faz a polícia suar a farda pelo país, em Brasília, o Senado voltou do recesso de carnaval provando que “já está em 2050”: no debate sobre empresas optarem pela semana útil de quatro dias, os senadores aprovaram a semana útil de… 3 dias! Além disso, foi instituído que na última semana do mês os nobres parlamentares estarão de “home-office”. A justificativa é que parte do trabalho pode ser feito à distância, mas mesmo em tempos de redes sociais, onde até transações bancárias são feitas de forma digital, afirmam que o contato com os eleitores e correligionários precisa ser presencial.
Analisando com boa vontade, tem lá o seu sentido: em um país onde há trabalho análogo à escravidão, como o caso do Rio Grande do Sul, por que os senadores não podem ser analógicos?
Partido realista?
Na pré-Libertadores da América, enquanto o Atlético Mineiro ganhou fácil do Carabobo, time da Venezuela, quem fez “papel de bobo” foram os bombeiros do Rio de Janeiro, que se confundiram e soltaram na floresta da Tijuca uma cobra da espécie Phyton Ball, nativa da África e Ásia. Acharam que era uma jiboia e agora estão atrás da cobra, que não tem predadores no Brasil e não poderia ser solta na mata. Enfim, idas e vindas que também se verificam na política deste país calorento e colorido.
O NOVO, por exemplo, surgiu em 2011 com a proposta de não usar dinheiro público. Surfando a onda do ódio à “velha política”, João Amoedo conseguiu 2,5% dos votos para presidente em 2018, sendo que o partido elegeu um governador, oito deputados e conquistou a simpatia de muita gente. Porém, tudo o que é muito rígido também limita, como ficou comprovado em 2022: Amoedo acabou expulso da sigla, que reelegeu Romeu Zema para o governo de Minas Gerais, mas ficou só com três deputados na Câmara Federal. Lutando pela sobrevivência, agora o NOVO mudou seu estatuto para poder usar o Fundo Eleitoral. Há quem brinque e diga que o próximo passo é mudar o nome para VELHO, porém é a realidade que sempre se impõe: antes VELHO ou COMUM do que EXTINTO, não é? Finalmente “caiu a ficha” de que o Brasil é grande demais para fazer campanhas apenas com dinheiro privado e que, rejeitando o Fundo Partidário, o partido se prejudica duas vezes: primeiro, por não usar, e depois, por ficar em desvantagem em relação a todos os demais que usam.
É que nem o caso da dona de lanchonete de esfirras, de Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, que viralizou ao postar vídeo dizendo que não gosta de pobre. Pois é, então ela só vende salgado para rico? Pode até demorar, mas para todo mundo, uma hora “a ficha cai”.
Professor e comunicador
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