Dirceu Antonio Ruaro
Amigo leitores, estamos vivendo mais uma “Semana Santa” para os católicos e cristãos. Estamos no limiar de mais uma Páscoa e, por vezes sentimos, como que uma “ausência” ou silêncio de Deus nos acontecimentos que torturam os seres humanos, como nas catástrofes e guerras.
No próximo domingo, cristãos do mundo todo celebrarão a festa mais importante de sua fé: a Páscoa. Católicos, ortodoxos e protestantes, no entanto, têm formas bastante particulares de festejar a ressurreição de Cristo. O mesmo ocorre com os judeus, para os quais a Páscoa se refere a outro momento histórico.
Na Umbanda e no Candomblé, a celebração se assemelha à da Igreja Católica, festejando a ressurreição de Jesus Cristo, também representando a passagem da morte para a vida. Já os seguidores do Islamismo e do Hinduísmo, trazem em sua doutrina uma ideia de libertação, de superação entre o bem e o mal.
Importante entender que, a data da Páscoa é o dia mais importante de celebração no calendário litúrgico dos cristãos. Essa celebração, para os cristãos, relembra e comemora a ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa cristã é derivada da Páscoa judaica, que celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito.
E hoje, quando pensamos que Jesus veio para “libertar o povo da escravidão”, podemos sentir que nossas dúvidas e questionamentos aumentam assustadoramente quando vemos campear no mundo o egoísmo, as traições, as guerras, o aniquilamento dos povos.
Muitas vezes ficamos desconcertados diante das injustiças e do mal que proliferam no mundo, sem que pareça que Deus tome parte das angústias e sofrimentos dos que são vítimas da violência e da injustiça. E, muitas vezes, sentimos que Deus se torna mudo diante dos sofrimentos e das dores.
Esse “silêncio” nos faz duvidar da existência de Deus e perguntar por que celebrar a vida, a morte e a ressureição do Filho de Deus?
Entendo, particularmente, que Deus não fala, mas que tudo fala de Deus. Estudiosos dizem que Deus fala pela Revelação e pela Vida, mas essa é uma linguagem que não é facilmente entendida quando há fome, injustiça e violência na casa das pessoas.
Pergunto muitas vezes, como certamente outros se perguntam: o que significam os silêncios de Deus no nosso tempo? Como “ouvir” e “entender” os silêncios de Deus num mundo que avança vertiginosamente para uma vida sem sentido?
Ouvi, muitas vezes, de pregadores que “não é que Deus não fale” que somos nós que não conseguimos captar suas palavras e seus ensinamentos.
Ouvi, também, que “Deus não é indiferente” diante dos acontecimentos deste mundo, mas quando vemos os acontecimentos pensamos seriamente que Deus está indiferente aos sofrimentos da humanidade.
Diante dessa “indiferença de Deus”, muitas pessoas sentem-se, por vezes, desanimadas e propensas a “fazer como todo o mundo faz”, visto que ser reto e digno parece custar muito caro e não trazer proveito. Até o salmista tem a tentação de agir como os maus (…), mas depois entende a sua triste sorte: “Por pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus passos deslizavam. Porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios. Para eles não existem tormentos, sua aparência é sadia e robusta; a fadiga dos mortais não os atinge, não são molestados como os outros (…).”
“Refleti para compreender, e que fadiga era isto aos meus olhos! Até que entrei nos santuários divinos: entendi o destino deles! De fato, tu os pões em ladeiras, tu os fazes cair em ruínas. Ei-los num instante reduzidos ao terror, deixam de existir, perecem por causa do pavor! (…), Sim, os que se afastam de Ti se perdem (…). Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!” (Sl 72, 2-5. 16-19. 27s).”
A Sagrada Escritura nos mostra que é exatamente nos momentos de maior luta, conflito, desespero e perplexidade que Deus prepara as suas ações mais belas.
A Páscoa cristã e a glória da Ressurreição de Jesus foram precedidas da cruel e dolorosa Paixão do Senhor, que deixou os apóstolos atônitos e perdidos. Mas, na manhã do domingo, ficou claro que o “fracasso” do Mestre se transformara em inacreditável vitória sobre a morte. Então, tudo se fez novo (…). Ele ressuscitou como o Kyrios, o Senhor da vida e da morte; a vida venceu a morte, as trevas foram dissipadas pela luz.
É no silêncio de Deus que o cristão aprende a crescer na fé e na confiança no Senhor. Não sejamos crianças na fé, pois é nesse “silêncio sagrado” de Deus que somos obrigados a apurar os ouvidos interiores e a criar novas antenas para tentar compreender Sua vontade, pense nisso enquanto lhe desejo uma Feliz e Santa Páscoa.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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