Maternidade real: depressões e o impacto na vida da mulher

Prestar atenção na mulher é essencial para identificar a evolução de problemas psicológicos e psiquiátricos

A maternidade é idealizada pela maioria das pessoas como um momento mágico, de alegrias e sentimentos bons. O problema é que nem sempre essa é a realidade enfrentada e a mulher, algumas vezes, tem dificuldades para lidar com a surpresa e os perrengues da maternidade real.

Lidar com todas as mudanças no corpo e na vida da mulher pode ser uma tarefa árdua. Os desafios diários e intensos podem gerar na mulher dúvidas sobre ser capaz de exercer a tarefa de mãe e, somado aos julgamentos e a falta de apoio, pode abrir as portas para um problema mais sério: a depressão.

A médica psiquiatra Valéria Azevedo (mãe de Matheus. 24 anos) aponta que a maternidade é um período onde a mulher requer muita atenção e cuidados, devido a todas as mudanças na rotina. “Desde a decisão de ser mãe, seja após uma gestação planejada ou fortuita. É uma entrega somente da mulher, que se coloca para esse desafio que é gerar um novo ser, renunciando o corpo ideal, a vida mais livre, sem tantos exames pré-natais e procedimentos”, comenta, explicando ainda que há a necessidade de estabelecer uma nova relação entre o casal que espera por um terceiro membro na família.

De acordo com Valéria, a mulher pode enfrentar a depressão gestacional ou a puerperal, onde as alterações bruscas nos níveis hormonais durante a gestação e no pós-parto imediato, somado a demandas da maternidade, desencadeiam quadros de depressão ou ansiedade, “podendo surgir, em situações extremas, uma psicose puerperal com risco de vida para o bebê e para a mãe”.

Para a médica, a maternidade é idealizada na sociedade ocidental. “A figura de Maria, mãe de Jesus, remete a gestante para essa espécie de sacralização”, por isso, Valéria explica que é esperado que a mulher se sinta plena, em estado de graça, sem temores ou dúvidas sobre a nova condição. “São muitas cobranças por uma mãe perfeita, suficientemente boa, acolhedora e continente para seus filhos”, comenta.

A psiquiatra aponta ainda que é necessário o entendimento por parte da sociedade de que “sempre conseguiremos ser as mães possíveis, com erros e acertos e diminuir a expectativa idealizada e irreal em cima da maternidade”.

A médica aponta mudanças na sociedade com o decorrer dos anos e que afetam os costumes sociais, o que está abrindo o espaço para que mulheres possam “verbalizar suas dores e angústias”. “Felizmente ocorrem mudanças inexoráveis no planeta que afetam os costumes. Agora, muitas famílias já estão alertadas sobre o baby blues ou a depressão pós-parto, comenta, ao afirmar também que isso possibilita a busca por tratamentos psiquiátricos e psicoterapêuticos e diminuindo o julgamento moral sobre a mãe. 

Com campanhas e ações promovidas pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pela Sociedade Brasileira de Psicologia, auxiliam a diminuir o preconceito e a ignorância sobre os temas e problemas que podem surgir na gestação e no período neonatal, aponta Valéria.

“Ao perceber sinais e sintomas depressivos ou ansiosos na gestante ou puérpera, é preciso levá-la para atendimento médico e psicológico. Esta medida pode salvar vidas!”

A psiquiatra finaliza comentando que as mulheres passam por fases em suas vidas e na vida dos filhos. “A maternidade não aceita devolução, estaremos sempre envolvidas e preocupadas com o desenvolvimento saudável e feliz dos nossos rebentos, sejam bebês, adolescentes ou adultos. Resta investir em um relacionamento com saúde mental, que promova o crescimento pessoal de todos.”

Valéria Azevedo
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