Na manhã do sábado (29), Rafael Piccolo de 30 anos, que vem travando uma batalha contra a covid-19 há 15 dias, foi transferido de Pato Branco para o hospital no Rio de Janeiro.
O jovem que antes de ter o exame positivo, fez outros dois testes que tiveram resultado negativo, e inicialmente teve sintomas leves, apresentou agravamento do seu quadro clínico ainda na semana passada, quando familiares e amigos começaram a se mobilizar para captar recursos, pela falta de leitos para internamento via Sistema Único de Saúde (SUS) em busca de uma possibilidade na rede privada.
Ainda em Pato Branco, Piccolo foi submetido a um procedimento, — o primeiro feito no município —, que lhe deu o suporte pulmonar, uma vez que utilizando o ECMO (sigla em inglês para Oxigenação por Membrana Extracorpórea), que nada mais é do que um equipamento de alta complexidade que funciona como pulmão artificial, com a finalidade de bombear o sangue dos pacientes. Tal intervenção foi realizada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde o jovem estava internado.
O médico pediatra Julio Cesar Pereira Dias, que vem trabalhando com telemedicina em todo o país e serviu como apoio local para a equipe carioca que é coordenada pela Ludhimila Hajjar, um dos maiores nomes na atualidade no tratamento da covid.
“É fantástico a melhora da oxigenação, quando o sangue completa o circuito, voltando para o organismo”, revela Dias, avaliando que este tratamento específico poderia ser ofertado localmente, desde que havendo equipe especializada, mas que com a referência obtida por Pato Branco na medicina, seria sim possível. Ele também destaca ser um procedimento de custo elevado.
Ajuda ao sistema público
O pediatra afirma que prestes a completar 15 meses da pandemia presente na vida da população, este é o momento de se colocar em prática o que se aprendeu durante o período.
Para Julio, é o momento de profissionais da área privada da saúde auxiliarem aqueles que incansavelmente vem trabalhando no enfrentamento da pandemia. “Para esta terceira onda, temos que usar o que todos aprendemos. O Poder Público fazendo o impossível que é o que os colegas vêm fazendo, a sociedade civil de modo geral, porque é bom para todo mundo”, disse completando “precisamos nos doar, e isso passa por treinamento da equipe médica, de enfermagem, e isso pode ser por vídeo com grandes centros.”
Ele defendeu ainda a necessidade de realização de fisioterapia respiratória para os pacientes hospitalizados. “Me chama a atenção da ausência deste profissional para dar suporte e ajudar na evolução dos pacientes. Temos uma faculdade no município com o curso e temos convênio com o a Rede D’or de hospitais para qualificar esses fisioterapeutas.”
Como a covid-19 acometeu Rafael
“O Rafael ainda precisa de muitos cuidados (…), mas ele é forte, tem saúde, nunca fumou”, comenta a mãe que descreve com muitos detalhes como foi a evolução da covid no jovem de 30 anos.
Os quase 1.300 quilômetros de distância entre Pato Branco, onde está a mãe Maria Ribeiro Piccolo e o Rio de Janeiro, onde está Rafael, são encurtados pelas orações, e por uma espécie de corrente positiva de familiares, amigos e até mesmo de desconhecidos, que se sensibilizaram com a história.
“Achando que estava com sintomas o Rafael fez o primeiro teste pouco antes do Dia da Mães, deu negativo, depois fez um novo [teste] e deu negativo de novo”, comenta dona Maria, lembrando que na segunda-feira pós Dia das Mães, a esposa de Rafael teve sintomas de resfriado vindo a positivar para covid-19.
Rafael voltou a sentir alguns sintomas, na segunda-feira (17), quando novamente buscou ajuda médica e logo iniciou o tratamento com medicamento. Naquela mesma semana, as dores de cabeça e no corpo se acentuar, mas com o tratamento, dias depois chegou a afirmar para a mãe que “nem parecia que [es]tava doente, (…), que cada dias melhorava”, segundo o que conta dona Maria.
Dias depois, o quadro de Rafael piorou e o jovem passou a ter crises de tosse, sendo necessário o suporte de oxigênio e intubação na quinta-feira (27).
Necessitando de internamento a família começou a busca por um leito para o jovem. “Não achamos vaga [pelo SUS], aí a gente começou a procurar particular, foi quando apareceu essa vaga no Rio de Janeiro”, comenta dona Maria, lembrando que todo o procedimento de ECMO e transferência estava previsto para a noite da sexta-feira (28), porém, não ocorreu por conta do mau tempo.
Maria releva ainda que por se tratar de um hospital particular, a família teve que depositar uma certa quantia para garantir a vaga para o filho, valor este que é abatido com as diárias e procedimentos para o tratamento da covid.
Da mesma forma que a família vem buscando o suporte emocional para passar por esse momento por meio da fé, conta com a solidariedade das pessoas por isso foi criada uma campanha. As doações podem ser feitas em http://vaka.me/2109394.
Na descrição da campanha, a família afirma que o transporte com a aeronave médica, que levou o jovem ao Rio de Janeiro, teve valor estimado de R$ 87 mil a R$ 125 mil.
Já o custo inicial do tratamento médico no hospital é considerado em R$ 300 mil, podendo sofrer alterações de acordo com a necessidade de procedimentos, no entanto, a família afirma que a diária é de R$ 20 mil a R$ 25 mil.