A Polícia Civil do Paraná (PCPR) prendeu dois homens e duas mulheres nesta quarta-feira (20), durante uma operação contra esquema de venda de ibogaína, substância proibida para uso no Brasil e utilizada irregularmente em tratamentos de dependência química. A ação foi realizada em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, e na capital paranaense.
Investigação e denúncias
As apurações começaram em dezembro de 2024, após denúncia de uma vítima que afirmou ter sido internada de forma involuntária em uma clínica de Piraquara. No local, foi submetida a tratamento com ibogaína, pelo valor de R$ 12 mil, pago diretamente a uma psicóloga que foi presa em flagrante.
Durante a operação, um dos alvos foi uma advogada de 51 anos, localizada em Curitiba. Em seu apartamento, os policiais encontraram 390 gramas da substância semelhante à ibogaína, cápsulas para envase, receituários médicos assinados e carimbados por uma psiquiatra de Santa Catarina, além de outros carimbos profissionais.
Prisões em clínica de Piraquara
Na clínica investigada em Piraquara, a PCPR apreendeu substâncias análogas à ibogaína e prendeu em flagrante uma psicóloga, um médico e um enfermeiro. Eles responderão por falsificação de produtos terapêuticos e associação criminosa. Outros profissionais ligados ao esquema também serão responsabilizados.
Segundo depoimentos de pacientes, a substância era ministrada por um enfermeiro a partir de prescrição de psicóloga, após palestras feitas por um estagiário de psicologia. Em alguns casos, médicos chegavam a suspender a medicação contínua dos pacientes para aplicar a ibogaína.
Relatos de vítimas
Conforme a delegada da PCPR Aline Manzatto, pacientes eram constrangidos a adquirir a substância para receber alta. Os familiares chegavam a pagar R$ 12 mil pela ibogaína, R$ 30 mil pela estadia na clínica e mais R$ 1,2 mil por consulta com a psicóloga responsável.
Riscos da ibogaína
A ibogaína não possui registro no Brasil para uso terapêutico. Nota da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED) alerta que a substância é considerada neurotóxica e cardiotóxica, com risco de induzir arritmias e causar morte súbita. Diversos estudos já relacionaram a ibogaína a casos fatais de parada cardíaca, conforme a Nota Técnica nº 64/2020 do Ministério da Cidadania.
Participação de órgãos
A operação contou com apoio da Polícia Científica, Vigilância Sanitária, Promotoria de Piraquara, Conselho Regional de Medicina e Conselho Regional de Psicologia.
A PCPR solicita que pacientes que tenham sido vítimas de clínicas que utilizaram ibogaína procurem a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (DECRISA) para o registro de denúncias e adoção das medidas legais cabíveis.





