Pe. Lino Baggio, SAC*
Os dias de inverno são próprios para reunir pensamentos diferentes, não tão frequentes nas demais estações. Assim como a natureza se encolhe e se recolhe, as baixas temperaturas convidam à interioridade. Quantas árvores que, além de perder as folhas, são obrigadas a desfazer-se de alguns galhos. Os parreirais são visitados por exímios podadores que deixam apenas alguns galhos, previamente selecionados. Gotas contínuas são derramadas pelos ramos que perderam sua extensão. Há quem diga que as parreiras choram quando seus ramos são podados. Talvez seja assim mesmo: onde há vida, sempre haverá uma mescla de alegrias e dores. Os sentimentos se intercalam. Em alguns momentos, a alegria é quase incontida, mas depois ela mesma se encarrega de dar uma volta, abrindo espaço para certas angústias. Alegria e tristeza parecem brincar de se esconder.
Vive bem quem é capaz de administrar os acontecimentos e ordenar os pensamentos. As realidades são diversas. Não tem como pegar uma ‘receita’ e reunir os melhores ingredientes para espantar as dúvidas e aproximar somente o bem-estar. Num tempo de incrível instantaneidade, todos são envolvidos pelos acontecimentos mundiais. Os meios de interação são instantâneos e sofisticados, a língua deixou de ser um limitador, pois traduções são simultâneas. É possível saber de tudo e de todos, sem colocar o pé fora da porta. Quanto mais o mundo invade a privacidade, mais respostas são necessárias. Em alguns momentos se faz necessária quase que uma redoma para proteger a privacidade e continuar reavivando a esperança. Se nos deixássemos contagiar mais pelas alegrias que pelas tristezas, não haveria tanta necessidade de cuidados. Acontece que um fato triste desbanca um número elevado de alegrias. É quase um mistério: o ser humano permite que a tristeza se aloje no coração mais do que a própria alegria. Há mais espaço para tragédias do que para vitórias.
Por outro lado, faz um bem enorme pensar e repensar a vida. Alguns ‘galhos existenciais’ podem ser podados, determinados pensamentos também podem e devem ser distanciados. A vida é uma construção que necessita de contínuos retoques. A todo instante é necessário descartar aquelas lembranças que tentam atualizar a dor e espantar a esperança. É claro que o caminho ainda é longo. Mas o que inquieta é a necessidade crescente de paz, tão difícil de irmanar povos, grupos políticos e, por vezes, até familiares. Impossível viver serenamente sem alimentar-se de paz. A parreira derrama lágrimas para, depois, surpreender com uma exuberante brotação. Não é diferente com os humanos.
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
Que o inverno nos ensine a lição do recolher-se e que saibamos buscar nas pequenas coisas um grande motivo para sermos felizes.
Pe. Lino Baggio, SAC – Vigário Paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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