O Brasil é o segundo país com mais tempo de escolas fechadas, segundo a Unesco, passando dos 260 dias. Estudos iniciais já têm mostrado um déficit gigantesco no desenvolvimento, com resultados que comprometem uma geração.
Além disso, o Ministério da Educação (MEC) ainda não confirmou que será realizado o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) este ano, exame que justamente mostra como está a aprendizagem dos estudantes do ensino fundamental e médio. Apesar de oficialmente o governo dizer que a prova será no segundo semestre, ainda não há gráfica contratada e nem coordenador para o Saeb, segundo o Estadão apurou. O Saeb é feito desde os anos 90, com provas de Português e Matemática, e os dados compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
“O movimento majoritário no mundo é retomar avaliações, que até poderiam ter sido suspensas em 2020, para saber onde os alunos estão, o impacto do fechamento das escolas e para ajudar o professor sobre o que ele tem de fazer daqui para frente”, diz o diretor de políticas educacionais da Fundação Lemann, Daniel de Bonis. Mas, segundo ele, só com a volta às aulas presenciais em massa será possível entender melhor o quadro.
Segundo o estudo, a maioria dos países avaliaram seus alunos em 2020 ou 2021 e o fizeram já com as escolas totalmente ou parcialmente abertas. É o caso de França, Noruega, Rússia, Estônia, Colômbia e Uruguai. Na Colômbia, a média dos alunos foi apenas um ponto menor que a de 2019. Os resultados na Estônia e na Noruega mostram que não houve mudança na aprendizagem durante a pandemia. Os países ficaram 102 e 34 dias com escolas fechadas, respectivamente. Já na Polônia, que fechou por 171 dias, a performance dos alunos chegou a melhorar em 1% em Matemática em comparação com 2019, mas caiu cerca de 5% em Língua Polonesa e Inglês.
Os países têm testes com vários perfis: há os que avaliam as redes, os que examinam os estudantes individualmente e também aqueles que são usados para certificação ou para evolução em uma etapa de ensino. Na maioria, as provas são obrigatórias. Mas na Alemanha, por exemplo, a avaliação se tornou voluntária no período de pandemia. Também na Estônia, os exames finais do secundário deixaram de ser obrigatórios para a aprovação em 2020 e em 2021.
Os franceses realizaram testes em setembro de 2020 e o desempenho dos alunos em Francês foi melhor do que em 2019. Em Matemática, houve resultados estáveis, mas com queda na performance dos alunos de cursos técnicos. A França ficou 48 dias com escolas fechadas durante a pandemia. Na Austrália, as avaliações mostraram que alunos do 5.º ano e do 9.º ano ficaram atrasados cerca de 3 meses em Leitura e Matemática.
O Instituto Unibanco e o Insper divulgaram estudo mostrando que os estudantes do ensino médio do Brasil aprenderam só 25% do que deveriam no ano passado. E no fim de 2021 podem retroceder ao que sabiam no fim do fundamental.
Seguindo uma lei instituída em 2020, os Estados Unidos estão coletando dados das escolas mês a mês desde março. Os resultados estão online, abertos ao público, e mostram se as unidades estão trabalhando online ou presencial, a frequência e até a vacinação dos professores. Os dados mais atuais da ferramenta indicavam que, em abril, 60% das escolas públicas americanas estavam abertas para todos os alunos, o dia todo.
O Brasil não tem controle nacional da situação. Atualmente, a maioria das redes de ensino no País ainda não voltou presencialmente. Há resistência dos professores, que exigem a vacinação, e das famílias. Nesta semana, São Paulo anunciou a imunização de professores de todas as idades.
Para Carolina Campos, da Vozes da Educação, “nossos desafios são imensos, com escolas fechadas por tanto tempo”. “E ainda nem as abrimos para saber o tamanho do fosso.” Alguns países latinos, mesmo sem ainda identificar se houve perda ou não de aprendizagem, fizeram adaptações em suas avaliações. No Chile, além de Leitura e Matemática, houve exames socioemocionais dos alunos. O Uruguai deu atenção especial aos estudantes mais vulneráveis porque já identificou crescimento na desigualdade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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