Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, estamos já na segunda semana de dezembro e, em quase todas as escolas brasileiras, encerrando o ano letivo de 2021.
Considero que, professores e alunos são sobreviventes de um tempo que marcou indelevelmente a alma, o espírito, a vida de todos nós e, de modo muito especial, dos nossos alunos e professores.
Diante do desconhecido, da ameaça que pairava sobre todos, da incerteza e das angústias, fomos sobrevivendo e aprendendo a viver e conviver com os reveses que a pandemia ia apresentando.
O ano de 2020 foi, se não trágico, o pior ano letivo para todos os níveis de ensino na educação mundial. Concordo que vivemos uma tragédia global, que muitos contextos situacionais se formaram e que foram diferentes em cada um dos países, trazendo realidades diferentes em suas trajetórias.
Concordo, também, que mesmo num determinado país, houve realidades e enfrentamentos diferentes, evidentemente que, com resultados diferentes também.
Foi, sem dúvida, um evento dramático. Não sei se podemos encontrar vocábulo mais adequado para conceituar o que ocorreu com a pandemia a partir de fevereiro de 2020 no mundo inteiro e, de certa forma, em especial conosco, no Brasil.
Em termos educacionais, não sei se podemos falar em algum tipo de ganho. Talvez possamos apenas dizer que além de perdas irreparáveis, tivemos aprendizados. Mas, pessoalmente, creio que não houve e não se pode pensar em “bom legado”.
No meu entendimento, em termos educacionais, em termos de ensino e aprendizagem só tivemos perdas. Mesmo os que aprenderam alguma coisa, o fizeram de maneira limitada.
Olhando para a realidade brasileira e regional, é desconfortante e preocupante verificar que, em termos de aprendizagem, “o faz-de-conta” foi a tônica do ano letivo de 2020 e se instalou em 2021, pois ao que se percebe o desinteresse pelo estudo foi a maior tônica entre estudantes de todos os níveis.
E, consequência disso, a evasão escolar é uma das maiores preocupações. Tanto as escolas (redes públicas e privadas) quanto os pais estão preocupados com o desinteresse dos filhos pelas aulas (mesmo presenciais) e isso dificulta a aprendizagem.
Antes da pandemia (e, por um bom tempo) estávamos em patamares superiores a 98% de crianças e adolescentes em idade escolar, frequentando a escola. Hoje, esses patamares estão muito aquém disso e, possivelmente, a evasão 2020/2021 nunca seja totalmente esclarecida e aferida.
Isso preocupa muitíssimo num país cujo desenvolvimento educacional é sofrível em função da educação ser palco político e não ter política nacional de educação que leve em conta o desenvolvimento do país.
Ao sabor dos ventos políticos e eleitorais é que o Brasil singra os mares revoltos desse tempo indesejável e temido da pandemia. Por pior que pareça essa consideração, é isso mesmo. A pandemia não acabou, as escolas (especialmente da educação básica) mal retornaram ao seu “modus operandi”, ou seja, ao seu jeito de trabalhar, fundamentalmente na presencialidade, e sentem os efeitos terríveis do afastamento forçado nos anos letivos de 2020/2021.
É claro que entendo quando os especialistas em educação consideram que os anos letivos de 2020/2021 não foram perdidos para os estudantes, pois as escolas, professores e alunos aprenderam a incluir a tecnologia como aliada nos estudos.
Porém, permito-me contrariar essa consideração. Para os especialistas que não são do “chão da escola”, que fazem pesquisas em seus gabinetes, a realidade pode até ser de certa “cor”. Mas o chão da escola revela outra coisa: pouquíssimo aprendizado.
Outra consideração interessante é que cerca de 71% (setenta e um porcento) dos pais de alunos estão acompanhando mais a vida escolar dos filhos (segundo dados da Datafolha), e que houve valorização do professor.
Outra vez, permito-me discordar. Quem acompanha as escolas de perto, sabe que na verdade, muitos pais não tiveram outra alternativa, inclusive a de descobrir no período da pandemia, que tinham filhos e que precisavam cuidar deles, porque os professores estavam impedidos.
Ora, que ganhos são esses?
O que entendo é que, nesse momento, o que tivemos foi a desistência. Estudantes (de todos os níveis) e famílias desistiram de estudar. Essa é uma das verdades e “legados” da pandemia, sentida por quem acompanha a realidade escolar, repito, “no chão da escola”. Se tivermos perdas ou ganhos, ainda é cedo para se dizer, mas “legado bom” é conversa para quem não entende de educação, voltaremos ao tema, por ora, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER