Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, na semana passada, trouxe para nossa reflexão, algumas questões ligadas às “perdas e ganhos” dos anos letivos de 2020/21, em função da pandemia do Coronavírus. Prezados leitores, estamos já na segunda semana de dezembro e, em quase todas as escolas brasileiras, encerrando o ano letivo de 2021.
Salientei que, quem está, de fato no “chão da sala de aula”, no exercício das atividades pedagógicas, tem uma visão um pouco (para ser gentil) diferente das opiniões de técnicos e especialistas em educação que “olham a escola de fora para dentro”.
Não estou com isso dizendo que sou contra ou que abomino pesquisas externas e olhares externos a escola. Não é isso. Estou dizendo que falar em “ganhos” numa situação de calamidade mundial, é um tanto quanto perverso.
Estou, evidentemente, referindo-me à educação brasileira. Se bem que, no restante do mundo houveram muito mais perdas do que “ganhos”.
Defendo que, na verdade, tivemos sim, muitos aprendizados. Isso não podemos negar. Precisamos aprender a convier conosco mesmos, com nossas famílias, com nossos filhos, com a solidão da casa, nos dias mais negros do afastamento social.
E, a escola, é o locus, por excelência, dos relacionamentos, ou se quiserem, das aprendizagens de relacionamentos, ficou fechada. Aliás, fechada tempo demais.
Em termos paranaenses, por exemplo, perdeu-se o “bonde” do retorno ainda em julho de 2020. Havia condições de retorno, com todas as medidas de segurança necessárias, mas incompreensivelmente, outros interesses se sobrepuseram e as aulas não retornaram.
Querer forçar a barra e dizer que sim houve muita aprendizagem, como querem fazer crer “certos setores governamentais, em todos os níveis” é cometer, no meu entendimento “crime de lesa pátria”.
Ora, pais e mães ficaram desamparados, assim como milhares de professores, à cata de o que fazer, como fazer, como ensinar de maneira totalmente diversa daquela a se estava acostumado.
Ora, alfabetizar, já é uma tarefa imensa presencialmente, imagine a distância, sem preparação adequada dos professores e das famílias. Claro que não houve tempo. Mas, brasileiros como somos, somos atrasados. Nossas escolas “simularam” por muitos anos que tinham “laboratórios de informática”, que nossos alunos sabiam mais do que digitar no Word, que nossos professores dominavam as tecnologias de comunicação e informação.
Pois é, para os governos federais, estaduais e municipais, essa “simulação” rendeu muito discursos e nada de prática. Basta fazer uma visita às escolas e conhecer “seus laboratórios de informática”.
Não é necessária nenhuma pesquisa para se conhecer o óbvio. Como eu disse no texto da semana passada, não consigo encontrar “ganhos educacionais” na trajetória da pandemia e muito menos pensar em “bom legado”.
É verdade e afirmei isso, que por um lado muitíssimos pais, tanto das escolas públicas quanto das escolas privadas, aprenderam que tinham filhos. Isso, até pode ser um ponto a ser considerado como ganho. Talvez, mas há que se pensar que, se colocamos alguém no mundo, temos responsabilidades éticas, morais e humanas com esses seres e, portanto, talvez se possa considerar apenas como um “lembrete” da vida para os pais.
Fala-se tanto agora, que é preciso replanejar o ano letivo de 2022, considerando as “perdas de aprendizagem”, especialmente no ensino básico. Bom, pelo menos há um pouco de bom senso.
Porém, em termos de aprendizagem é preciso ter em conta que estamos implantando uma Base Nacional Comum Curricular, que deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil.
E, ocorreu, exatamente no início dos trabalhos de reelaboração e adequação das Propostas Pedagógicas das Escolas, o evento da Pandemia. Ou seja, ainda não se tem, na verdade, todas as escolas, da educação infantil ao ensino médio com, suas propostas pedagógicas adequadamente construídas e implantadas.
Então, prezados amigos, muito mais do que falarem “ganhos” educacionais na pandemia, é hora de se pensar em “pôr a mão na massa”, sair do discurso político da educação e caminhar na direção da implantação e implementação dos “direitos de aprendizagem” para todas as crianças brasileiras, independente de condição socioeconômica.
Que Deus ilumine os “planejadores” de plantão porque ano que vem, é outra vez ano político. E aí, bem aí, ouviremos de candidatos a deputado (estadual e federal), governadores e presidentes que a educação é a prioridade número 1. Espero que não precisemos comprar muito óleo de peroba, porém, fiquemos atentos. É hora de cobrar a tal prioridade em educação, pense nisso, enquanto lhe desejo bom final de ano letivo.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e pró-Reitor Acadêmico UNIMATER