A alteração do horário é eficaz para aumentar a duração do sono, diminuir a sonolência e o perfil de humor
Um estudo produzido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Biociências da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), mostrou que atrasar em uma hora o início das aulas do turno da manhã pode beneficiar a qualidade de sono e o humor dos adolescentes, com potencial para aumentar o desempenho escolar. A pesquisa foi publicada recentemente na revista científica Sleep Health, especializada na importância do sono para a saúde da sociedade.
A pesquisa foi desenvolvida numa escola da cidade de Palotina e envolveu a participação de 48 estudantes do ensino médio, na faixa etária de 15 a 18 anos. Os participantes foram monitorados por três semanas, sendo avaliados nesse período o nível de sonolência, o tempo e a duração do sono e o perfil de humor. Durante a primeira e última semana do estudo, as aulas começaram no horário regular, das 7h30 às 12h. Durante a segunda semana, o horário de início das aulas foi atrasado em uma hora, com aulas das 8h30 às 12h25.
O professor da UFFS, Felipe Beijamini, um dos autores do estudo e professor do Programa de Pós-graduação em Biociências da UNILA, comenta sobre os resultados da semana de intervenção. “Observamos um aumento da duração de sono, uma diminuição significativa da sonolência diurna e melhora em diferentes aspectos emocionais. Muito importante, não observamos mudança no horário de dormir dos adolescentes”, ressalta.
Outro fator apontado no estudo foi que os adolescentes acabaram indo dormir no mesmo horário, por volta das 23h30, mesmo durante a semana de intervenção, dessa forma houve um ganho de, aproximadamente, uma hora a mais de sono. “Já esperávamos uma melhora na sonolência ao chegar na escola, porém, ficamos positivamente surpresos ao observar que os participantes apresentavam menor sonolência ao final do dia escolar. O que é um forte indicador de sono adequado e permite condição apropriada para o ambiente escolar”, destaca Felipe.
O atraso em uma hora do início das aulas também afetou a saúde emocional dos adolescentes, contribuindo para a redução dos níveis de depressão, fadiga, tensão, confusão e raiva, conforme demonstrou o perfil dos estados de humor, utilizado no estudo. O professor Felipe analisa como a alteração desses fatores emocionais podem contribuir para o desempenho escolar: “Emoções são capazes de modular o aprendizado. Além disso, o sono atua em um processo de regulação das emoções. Quando privados de sono, pioramos em diversos aspectos emocionais. Os adolescentes são especialmente sensíveis aos efeitos da privação do sono, ainda mais pelo contexto biológico da puberdade”.
O estudo soma-se a outros desenvolvidos no exterior e pode influenciar o debate sobre uma possível alteração no horário de início das aulas no ensino médio do Brasil. “Outros grupos já demonstraram efeitos importantes na duração do sono, além disso, um estudo recente, publicado na Journal of Clinical Sleep Medicine também demonstrou claros efeitos em índices de assiduidade e do desempenho escolar, esses efeitos foram ainda maiores em adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Na Europa, é comum as aulas iniciarem após as 8h30. No estado da Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo, a partir de 1º de julho deste ano as escolas de nível médio estão obrigadas a iniciar as atividades a partir das 8h30 de acordo com uma lei daquele estado”, argumenta Felipe.
A pesquisa tem como autores: Laura Bruna Gomes de Araújo, do Programa de Pós-graduação em Biociências da UNILA, Sandiéli Bianchin (UFFS), com a colaboração dos pesquisadores Mario Pedrazzoli (USP) e Fernando M. Louzada (UFPR).