O município do interior paulista foi escolhido por pesquisadores para um estudo sobre os efeitos da vacinação em massa na população adulta. Ao todo, 27.160 mil habitantes acima de 18 anos receberam as duas doses da Coronavac em uma campanha finalizada em meados de abril.
De acordo com dados apresentados pelo diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palacios, o número de hospitalizações e mortes na faixa etária superior aos 70 anos foi reduzido a zero após a semana epidemiológica 14, quando 95% dos adultos de Serrana já estavam vacinados. Foram registrados apenas uma morte e uma internação nessa faixa etária, mas entre indivíduos não imunizados. Antes da conclusão da vacinação, o número de registros do tipo chegou a cinco por semana.
O Butantan não apresentou todos os dados brutos da pesquisa, justificando que eles serão publicados em artigo científico futuramente. Segundo Palacios, os dados demonstram o efeito também indireto da campanha de vacinação em massa na proteção até dos não vacinados.
“Isso reflete a somatória do efeito direto e indireto da vacina, ou seja, entre as pessoas que recebem a vacina e a redução da transmissão do vírus. O efeito da vacina é tão forte que ele consegue proteger aqueles que não foram vacinados em idades mais avançadas”, declarou Palacios.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, o resultado da pesquisa indica que não há necessidade de revacinar ou dar dose de reforço a idosos que receberam a Coronavac. “Os dados que temos não indicam isso. Esses resultados (de estudos que indicam menor efetividade da vacina em idosos com mais de 80 anos) são preliminares, de bancos de dados. Aqui não, aqui a realidade foi estudada, as pessoas foram acompanhadas, então fiquem tranquilos”, disse Covas.
Na coletiva, o Butantan reafirmou os dados divulgados no domingo de que a oferta de Coronavac à toda população adulta diminuiu em 95% o número de óbitos por covid-19 na cidade do interior paulista, contando população vacinada e não vacinada. Os dados preliminares foram divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, e confirmados pelo Estadão.
O número de casos sintomáticos caiu 80% e as internações foram reduzidas em cerca de 86%. Para comprovar que o desempenho de Serrana não foi decorrente apenas de uma melhora no cenário epidemiológico, o Butantan comparou os dados do município com o de 15 cidades vizinhas. Esses locais registraram alta no número de infectados e alguns, como Brodowski, está a beira do colapso no sistema de saúde.
Ainda segundo a pesquisa do Butantan, o controle da transmissão no município se deu quando 75% da população elegível estava vacinada, o que indica que esse é o porcentual de imunizados que precisaríamos ter no País para atingir a imunidade de rebanho pela vacina e frear o vírus.
No momento, com a campanha nacional de imunização em ritmo lento, o Brasil tem 21% de vacinados com a primeira dose, dos quais apenas 10% receberam também a segunda aplicação.
“Os resultados demonstram de maneira categórica o que poderia estar acontecendo no Brasil inteiro não fosse o atraso na vacinação. Demonstra que só existe um caminho para controlar a pandemia no Brasil: vacina, vacina e vacina para todos os brasileiros”, disse o governador João Doria durante a coletiva.
Pesquisa teve alta adesão da população e demonstrou segurança do imunizante
Antes da realização da pesquisa em Serrana, o município precisou realizar um censo para ter o número exato de moradores por faixa etária. O inquérito mostrou população de 45.644 pessoas, das quais 28.830 têm 18 anos ou mais, considerado público-alvo da pesquisa. Destes, 27.160 receberam as duas doses da Coronavac, o equivalente a uma adesão de 95,7%.
Os dados do estudo em Serrana também reafirmaram a segurança da Coronavac. De acordo com dados apresentados por Marcos Borges, diretor do Hospital Estadual de Serrana, foram administradas 54.882 doses na população, foram registrados 67 eventos adversos graves, nenhum deles relacionado à vacinação.
O índice geral de eventos adversos foi de 4,4% da primeira dose, a maioria deles leves. Somente 0,02% dos vacinados tiveram registros de efeitos grau 3 ou superior, mas a maioria teve dor de cabeça ou muscular.
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