Nascido em 1988, o Circo Mínimo surgiu pelas mãos e ideias do ator, diretor e trapezista Rodrigo Matheus, alimentado por uma proposta que o diferenciaria de outros grupos de arte circense. “Tinha vontade de discutir temas profundos, em espetáculos instigantes e ousados, na forma e no conteúdo”, conta o artista. Sem lona ou com as famílias morando em trailers, o Mínimo é, mesmo assim, um circo, mas que nasceu com a vontade de seu criador de subverter um pouco esse gênero de arte, que, segundo ele, na época era muito comportado. “Acho que quis fazer um circo desobediente, que questionasse certas estruturas.”
E foi assim que o Circo Mínimo se apresentou ao público e que agora mostra que não perdeu sua essência. Prova disso é o novo espetáculo, Circo de Versos, que mistura a magia dessa antiga arte com a sensibilidade da poesia de nomes como Adélia Prado e Paulo Leminski. Mas vai além disso também, ao colocar em cena questionamentos sociais, como é o caso da diversidade, que fica explícita já no título, como enfatiza seu criador. “Primeiro, eu queria falar de diversidade, e cheguei a esse título. Com isso, passei a lidar com a ideia de inserir versos no espetáculo, quase que para honrar o trocadilho”, revela Rodrigo. Dessa maneira, ele conseguiu tornar os trabalhos menos “heroicos e virtuosos, e mais afetuosos, humanos, mais cheios de emoção, ou de força”.
Belos, potentes e corajosos é como Rodrigo define os números que integram o Circo de Versos. Mesmo considerando complicado destacar alguma das atrações, o diretor fala sobre algumas delas. E começa pelo mestre de cerimônia, o poeta e performer Fábio de Sá, que é surdo, e une a linguagem de libras com teatro, circo, mímica e outras artes. “Ele apresenta criações próprias nessa linguagem Visual Vernacular, que eu não conhecia e que, ao conhecer, me abriu a cabeça.”
Outro destaque é a performance da Vulcanica Pokaropa, “uma mulher transgênero que vem batalhando, junto com seu grupo, o Circo Fundo Mundo, composto somente por artistas transgêneros, por um espaço e pela inclusão desses profissionais no meio de trabalho”, afirma Rodrigo sobre a artista, que ele enaltece dizendo que ela mostra “muita coragem e ousadia”. Em seu número, que “é fortíssimo”, como afirma o diretor, ela usa a técnica com bambolês. “O resultado é um número de contrapontos entre a leveza do bambolê e a violência de seu poema”, diz, ainda destacando um terceiro artista. “O número do João Osmar, de trapézio e contorção, é muito diferente de tudo o que eu já vi”, conta Rodrigo. E ele avalia serem esses “os momentos mais tocantes do espetáculo”.
Fora essa estreia, o Circo Mínimo revê dois sucessos de seu repertório. “Em Simbad, o Navegante, a trama é toda contada por dois palhaços que disputam para ver quem vai fazer a personagem principal”, conta o ator e diretor. Já em Quixote, “também temos dois palhaços, mas um é morador de rua, meio louquinho, achando que é Dom Quixote, e o outro, um gari que é chamado por ele de Sancho Pança, e que aceita o jogo por não aguentar a rudeza da realidade de sua vida”, explica.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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